Sábado – Pense por si

João Camargo
João Camargo Investigador de alterações climáticas
06 de janeiro de 2017 às 11:19

Oleogarquia – a aliança Trump-Putin explicada

O governo de Trump é uma mistura de grandes administradores das petrolíferas, do banco de investimento Goldman Sachs e de negacionistas das alterações climáticas

O jogo chama-se Oleogarquia – Oiligarchy em inglês – e pode ser jogado online aqui. É um jogo de 2008, simples e realista: é-se o presidente de uma empresa petrolífera americana no final da 2ª Guerra Mundial e o objectivo é o mais simples de todos: fazer dinheiro através da exploração de petróleo. Há no início 5 locais para possível prospecção e extracção: o Texas sem qualquer restrição, o Iraque que é um país independente e onde portanto não se pode extrair, o Alasca, zona protegida onde é proibido extrair em terra e no mar, a Venezuela em que, apesar de ser um país independente, é possível extrair em terra e no offshore, e a Nigéria onde, também sendo um país independente, é possível explorar petróleo em terra. O tempo vai passando e a cada 10 anos há eleições presidenciais nos Estados Unidos. A escolha de um candidato de entre Democratas e Republicanos, a quem "apoiar" financeiramente (ou aos dois candidatos, não há problema), dá acesso a legislação para abrir a exploração de petróleo (nomeadamente no Alasca, onde para dar emprego aos caribus pode-se abrir a zona Ártica), a legislação para expandir autoestradas, automóveis, aviões, para tornar a economia mais e mais dependente de petróleo. No fim de cada eleição fica-se a saber se o presidente é ou não "oleado". Para tal basta apenas dar dinheiro às duas campanhas. Ter um presidente "oleado" significa também acesso à política externa dos Estados Unidos. Como é preciso expandir a produção, o melhor é apoiar o Kuwait no desafio ao Iraque e começar uma guerra para invadir o país. Uma vez ganha a mesma, podemos instalar plataformas petrolíferas. A instabilidade no país manter-se-á, mas com o apoio contínuo do exército americano e com a protecção de mercenários, tudo se resolverá. Apesar de se poder explorar petróleo na Venezuela, mais cedo ou mais tarde as populações vão reivindicar uma fatia do mesmo, por isso é importante apoiar golpes de Estado no país, que instalem no poder regimes abertos ao "investimento estrangeiro". Já na Nigéria não está à disposição esta mudança de regime, pelo que é importante que a empresa intervenha directamente: a destruição que a exploração de petróleo fará no país levará à contestação popular. Podemos começar devagar, pagando ao governo para retirar a protecção ambiental, mas mais cedo ou mais tarde será necessária uma intervenção mais "musculada", como matar alguns líderes camponeses. Mas fica tudo barato comparado com o lucro que a extracção produz. Depois, só é preciso ir fazendo a manutenção durante as décadas seguintes em que o aquecimento do planeta vai tornando a vida impossível: ir subornando as milícias que entretanto surgirão na Nigéria, enviar mais e mais soldados para o Iraque, de maneira a evitar os ataques às plataformas, e ir substituindo os mercenários mortos. Em Washington, a contestação far-se-á sentir, seguramente, mas nada como instalar a paranóia securitária com a facilitação de alguns atentados em solo americano e garantir no Congresso a equiparação dos manifestantes a terroristas, assim como infiltrar os grupos sociais mais activos para manter o dinheiro a entrar na caixa. Quando o petróleo acabar, entra a tecnologia de transformar pessoas em petróleo, que pode ser instalada em todo o lado e que permite manter o lucro durante mais umas décadas. O jogo só pode acabar de duas maneiras: ou com o fim do mundo, geralmente através de uma guerra nuclear pela disputa dos últimos recursos, ou com o despedimento pelos accionistas porque o lucro não está a chegar com a velocidade exigida.

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