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Francisco Paupério
Francisco Paupério Investigador
02 de abril de 2025 às 07:00

O grande retorno de cérebros

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Edição de 5 a 11 de agosto

Ao longo de dois longos meses de ações de Trump e Companhia já se fazem sentir consequências nos profissionais da área de investigação a actuar em solo americano.

Na grande fuga de cérebros europeus para o continente americano, perdemos uma parte considerável de profissionais altamente qualificados em sectores estratégicos para economias mais avançadas. Temos agora a primeira grande oportunidade para os fazer retornar, promovendo um verdadeiro desenvolvimento económico para o continente europeu assente na inovação, ciência e tecnologia.

Não será novidade que os Estados Unidos da América ao longo da história foram o principal recipiente dos cérebros espalhados pelo mundo, que alavancou todo o seu desenvolvimento económico no último século. A perda de cientistas, médicos, engenheiros e outros especialistas reduziu o capital humano dos países de origem, levando a menos inovação e investigação e a défices em sectores essenciais da sociedade como saúde e tecnologia. Para além dos impactos negativos óbvios para a economia, o investimento na educação destes profissionais também não gera um retorno local, e baixa a competitividade do país internacionalmente. Se o continente europeu sofreu em vários períodos da história, neste momento tem todas as condições para ser o principal destino dessas pessoas.

Ao longo de dois longos meses de ações de Trump e Companhia já se fazem sentir consequências nos profissionais da área de investigação a actuar em solo americano. Um artigo recente da revista "Nature" mostra como muitos cientistas estão a pensar realocar-se para fora do país assim que Trump começou a despedaçar o financiamento público e a despedir cientistas. Muitos mentores e professores aconselham mesmo os seus alunos universitários a procurar oportunidades fora do país. O estudo aponta que 75% dos cientistas nos Estados Unidos da América estão a considerar deixar o país. O impacto é particularmente sentido entre investigadores em início de carreira, e a Europa surge como um dos destinos mais favoráveis à sua mudança, caso haja ambientes mais estáveis e favoráveis à investigação científica.

As políticas atuais do presidente americano tiveram um impacto significativo, resultando na perda de financiamento para projetos já a decorrer, assim como postos de trabalho directos. Tudo isto comprometeu o avanço do conhecimento e da inovação e criou um clima de incerteza em relação ao futuro. Para além disso, a recente política de censura de palavras para comunicação científica e, até, a proibição da realização de palestras de certos profissionais, levaram à descrença completa de uma política científica robusta. Estas situações minaram toda a credibilidade da ciência realizada em solo americano e desencorajaram a colaboração internacional, essencial para o progresso científico. E é perante este cenário, que a comunidade científica se sente cada vez menos valorizada e mais frustrada, levando à procura de oportunidades fora de portas.

No passado, vários cientistas juntaram e uniram-se para defender o modelo de cooperação internacional e desenvolvimento, assegurando acordos entre países para o desenvolvimento de ciência fundamental, exemplos como o CERN. Neste mesmo espaço europeu, temos agora a oportunidade para repetir o movimento e lançar as bases para uma política de desenvolvimento assente na ciência e nos cientistas. Se conseguirmos recuperar os programas e financiamento europeu para investir numa visão científica séria e a longo prazo, estamos também a assegurar que a ciência continue aberta, colaborativa e inclusiva. Algo que neste momento não é adquirido. E nenhuma nação conseguirá desenvolver-se se virar as costas àqueles que constroem o seu futuro.

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