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Francisco Paupério
Francisco Paupério Investigador
25 de novembro de 2024 às 07:45

25 de Novembro: Um dia para lembrar ou para esquecer?

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Que este 25 de Novembro seja o ponto de partida para que nenhuma mulher tenha que viver com medo, que seja uma data unânime da esquerda à direita, dos progressistas e conservadores, dos democratas, nos 50 anos do 25 de Abril.

O mais importante do dia 25 de Novembro é um: lembrar que a violência contra as mulheres não é só um problema delas. É um fracasso nosso. O caminho para a liberdade no 25 de Novembro deve ser erradicar definitivamente a violência contra as mulheres. A data que divide, que polariza, mas que nos devia juntar todos na defesa da liberdade, direitos humanos e democracia. São números que assustam e arrepiam; que nos deviam fazer corar, que nos deviam fazer agir.

Marca-se no dia de hoje, 25 de Novembro, o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. Serve este dia, portanto, para alertar para a violência física, psicológica, sexual e social que atinge as mulheres, incluindo ameaças, coação ou privação de liberdade, quer seja na vida pública ou privada. Infelizmente, a violência contra mulheres e raparigas continua a ser uma das violações dos direitos humanos mais frequentes, em que quase uma em cada três mulheres já foi vítima de violência física e/ou sexual pelo menos uma vez na vida. Em 2023, pelo menos 50 000 mulheres acabaram mesmo assassinadas, o que significa uma mulher morta a cada 15 minutos.

Em Portugal, o contexto não é diferente, com mais de 15 mil casos de violência no contexto doméstico registado apenas no 1º semestre do ano, com 20 mulheres assassinadas até ao dia de hoje. É mesmo o crime que mais mata em Portugal e tem uma vítima preferencial: a mulher. E novamente, não estamos verdadeiramente comprometidos para mudar este paradigma.

Mas também sabemos que a violência de género abrange bem mais do que crimes no contexto doméstico. Temos ainda a questão dos casamentos infantis e casos de mutilação genital feminina. As raparigas que faltam à escola por não conseguir obter produtos de higiene menstrual, mulheres que não são proibidas de prosseguir estudos, mulheres silenciadas por uma sociedade ainda machista e patriarcal, mulheres que são obrigadas a casar e a ter filhos cedo, mulheres que não têm o direito de escolher o que fazer com a sua vida. E a todos estes casos, o dia de hoje relembra que falhámos e continuamos a falhar. Também a discriminação no trabalho, com uma discrepância ainda de 12 por cento sobre o salário em Portugal, contribui para este ciclo de violência mental que aflige a maioria das mulheres. Não foge desta dinâmica o espaço digital e as redes sociais, onde as mulheres com visibilidade sofrem mais ataques, mais críticas e ameaças em comparação com os homens presentes nestes espaços.

Também neste dia é importante relembrar vítimas, dar destaque às suas histórias e impedir que sejam novamente proferidas. Mais recentemente destacaria o nome de duas mulheres: Gisèle Pelicot e Ahoo Daryaei. Duas mulheres com uma coragem e força sobrehumana, que nunca deveriam passar pelo que passaram, que resistem e nos inspiram a resistir. Exemplos de como falhamos enquanto sociedade e que deviam ser as últimas a contar as suas histórias. Mas não são e não vão ser as últimas vítimas.

Apesar de governos, organizações não governamentais e ativistas trabalharem tanto sobre o tema através da educação, do desenho de políticas públicas e da prevenção, não temos ainda em vista o fim de toda esta violência na nossa sociedade. Os dias de hoje parecem indicar cada vez mais a importantância de haver disciplinas como a de Cidadania ou Formação Cívica, onde se pode educar sobre a igualdade de género, sensibilizando as novas gerações.

Que este 25 de Novembro seja o ponto de partida para que nenhuma mulher tenha que viver com medo, que seja uma data unânime da esquerda à direita, dos progressistas e conservadores, dos democratas, nos 50 anos do 25 de Abril. Não podemos esquecer desta peste silenciosa em curso.

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