Sábado – Pense por si

Francisco Paupério
Francisco Paupério Investigador
02 de dezembro de 2024 às 09:01

Democracia em cheque

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Edição de 5 a 11 de agosto

Nas eleições de Trump, Elon Musk "investiu" cerca de 200 milhões para a sua eleição, ganhando já perto de 70 mil milhões de doláres após a eleição face às mudanças positivas nos mercados bolsistas. É um investimento que dá de retorno 35000%. O jogo da democracia parece compensar para alguns.

O simbolismo de "eleições livres" deixa cada vez mais de fazer sentido, quando há a presença de influência estrangeira e/ou de oligarcas nacionais e estrangeiros a contribuir de forma financeira desigual. Já foram expostos vários processos ao longo da última década, apesar de nem sempre serem totalmente bem sucedidas. Por exemplo, nas eleições de Trump, Elon Musk "investiu" cerca de 200 milhões para a sua eleição, ganhando já perto de 70 mil milhões de doláres após a eleição face às mudanças positivas nos mercados bolsistas. É um investimento que dá de retorno 35000%. Mesmo com a compra do twitter/x, daria um retorno de cerca de 60%, em poucos meses. O jogo da democracia parece compensar para alguns.

E este jogo tem mesmo consequências reais para todas as democracias. No último mês vimos nas eleições na Moldávia que o perigo da presença dos ideais de Putin dentro da União Europeia não estão assim tão longe, com uma vitória escassa da candidata democrata. Na passada semana, já dentro da União Europeia, tivemos a vitória na primeira ronda de um candidato, que contou apenas com 5 (cinco!) % de intenção de voto nas sondagens. Este candidato é da extrema-direita romena, negacionista da ciência, pró-russo e anti-europeu. A sua vitória foi alavancada na presença de redes sociais como a de Elon Musk. Começamos a ver um padrão a ganhar votos por toda a Europa cavalgando no desespero dos cidadãos e aproveitando o vazio regulatório do financiamento e acção política assim como das nossas redes sociais. Mais, há o rumor de que AfD (partido alemão de extrema-direita) vai mesmo colocar no seu programa para as próximas eleições de Fevereiro a saída da União Europeia e do Euro. Também Musk volta a ter os holofotes virados para si, quando parece haver a intenção de entregar 100 milhões ao partido de Nigel Farage no Reino Unido (autor do famoso processo do Brexit). Dividir e conquistar (e ganhar dinheiro com isso já agora) é a estratégia.

Não tenho medo de assumir que o projecto europeu nunca sofreu tantos ataques à sua existência, tanto internos e externos. Já nos próximos anos, vamos ter novos donos para as cadeiras do Conselho Europeu, e podemos ter a certeza do seu objectivo: a destruição da Europa como a conhecemos, de paz, liberdade, democracia e progresso. Mais uma vez, António Costa apresenta-se numa altura potencialmente fracturante que requer as suas competências de visão e liderança, que não conseguiu mostrar em Portugal, apesar dos seus 8 anos à frente do governo. O trabalho não se afigura fácil, mas a mensagem de união pareceu clara: no seu primeiro dia, deslocou-se a leste, à Ucrânia, para mostrar que o conflito não está esquecido na agenda europeia. O sucesso ou insucesso do seu mandato vai certamente ser medido não pelas bandeiras políticas que está associado, mas se a unidade europeia se mantém apesar de toda a turbulência ou se começa a ser o princípio do fim.

Nos últimos anos temos assistido a um declínio da qualidade das nossas democracias europeias. Se o sinal tinha sido dado mais a ocidente em 2016 e 2020, sabemos bem que em 2024 a tendência continuará e fortaleceu-se a ideia de que não há

regras democráticas nem de decência nas nossas eleições. O descrédito institucional instalou-se; partidos e organizações não geram esperança; e o que resta da nossa comunidade começa a estar cada vez mais fraturada e polarizada. Quando as 3 principais prioridades sectoriais dos cidadãos portugueses são a habitação, saúde e educação como demonstram todos os estudos feitos desde 2022, a discussão política do orçamento de estado centra-se no IRC e IRS Jovem (enquanto se fazem cortes na Ciência, erra-se em números sobre educação e não se responde sobre o INEM). Não se fazem milagres a

desconversar. Entretanto, os inimigos da democracia aproveitam-se.

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