Sábado – Pense por si

Francisco Paupério
Francisco Paupério Investigador
18 de novembro de 2024 às 10:24

A força da natureza (mediática)

Assiste-se mais uma vez a um silêncio absoluto e a uma cobertura inexistente sobre as negociações que estão a ocorrer na COP29, conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas.

Em condições normais, este seria o momento para galvanizar e mobilizar a sociedade civil, pressionar os nossos políticos a tomar as decisões certas para o nosso futuro e a informar os cidadãos dos acontecimentos históricos em curso. No entanto, assiste-se mais uma vez a um silêncio absoluto e a uma cobertura inexistente sobre as negociações que estão a ocorrer na COP29, conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas.

Aproximamo-nos mesmo do final desta conferência, onde o principal objectivo seria estabelecer um novo valor para a ajuda financeira para combater e promover a adaptação às mudanças climáticas. E, como em tantas outras, caminhamos para um resultado final que não parece ser o desejado. O previsto aumento significativo do financiamento climático é atenuado por "mas", "se" ou "tentar". E sabemos bem que esta conferência é crucial para conseguirmos negociações globais eficazes, visto que é das poucas alturas do ano em que conseguimos colocar à mesa os líderes de todos os países a falar sobre clima. Mas também é nesta altura; todos os anos; que somos recordados da frustração das suas conclusões.

Falemos então de esperança: Vemos países a aumentarem as suas ambições de redução de emissão entre 2030 e 2050. Vemos mais milhares de milhões de euros a ser adicionados para financiamento climático. Vemos uma diversificação muito positiva nos mecanismos de apoio e mitigação. E, como consequência da maior incidência de fenómenos extremos, vemos também a consciencialização das populações e representantes aumentada para este problema. Será que é suficiente? Cientistas já nos disseram que não. Mas sabemos também que nunca se fez tanto pelo clima como em 2024 (no bom e no mau sentido). E cada vez seremos mais, até que se te torne realmente uma maioria social que nos levará a atacar este para problema como devia ter sido desde o início: pelas emissões.

A dificuldade para instar os nossos governos também se prende com o aparecimento de múltiplos riscos geopolíticos e económicos a curto prazo que camuflam todos os outros problemas a médio prazo. Precisamos de ser cada vez mais ambiciosos num momento em que parece que estamos em contraciclo de direitos, liberdades e valores. Numa semana em que o novo parlamento europeu e com uma maioria de direita insistiu em fazer alterações para enfraquecer a lei sobre a desflorestação. No mês em que vemos Donald Trump ascender a presidente de uma das nações com mais impacto no clima. No ano mais quente já registado no nosso planeta. Este não seria certamente o ponto de partida, mas é aquele que temos a partir de hoje, e é aquele que temos de trabalhar para mudar. Nunca é demais relembrar que o custo económico da inacção é bastante superior a todos os custos e investimentos em adaptação e mitigação climática. O próprio World Economic Forum apresentou como principais riscos para a próxima década por ondem decrescente: o falhanço da luta climática, fenómenos extremos e perda de biodiversidade.

Assistimos nas últimas semanas a uma pequena demonstração de força da própria Natureza. A inacção climática (mantendo o ritmo de aumento do consumo, e, consequentemente aumento de emissões de carbono para a atmosfera) levará a um aumento médio da temperatura global entre 3 a 5 ºC. Pode parecer pouco, mas com

apenas 1,2ºC vemos a destruição das últimas semanas no Sul de Espanha e Portugal. E o quão mal preparados estamos.

Bem, mas ao menos sabemos quem vai ser a chefe de gabinete de Trump e as características do eleitorado dos swing-states dos Estados Unidos da América ou mesmo criar guerras culturais e tentar exportá-las para o nosso continente, pode ser que isso nos ajude a reduzir emissões.

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