Sábado – Pense por si

Ana Gabriela Cabilhas
Ana Gabriela Cabilhas Nutricionista e deputada do PSD
15 de dezembro de 2024 às 16:42

A mochila do conhecimento

O facto de sabermos que quem frequentou o ensino superior em Portugal obteve, em média, resultados mais baixos do que quem tem o ensino secundário completo na Finlândia chama ainda mais a atenção.

Portugal está a sofrer as consequências das escolhas políticas tomadas ao longo dos últimos anos que levaram à degradação das aprendizagens, ao conflito social nas escolas e à escassez de professores, e que são conhecidas através de diferentes diagnósticos.

Primeiro, os resultados do teste PISA 2022 mostraram com o trambolhão sem precedentes no desempenho médio dos alunos portugueses de 15 anos a matemática e a leitura, e tombo nas ciências. Falharam a recuperação das aprendizagens, o rumo dado às alterações curriculares, o modelo de provas e a transformação digital. Recentemente, o estudo TIMSS entre alunos do 4.º e 8.º anos vem corroborar as conclusões anteriores, com mais uma quebra preocupante no desempenho dos alunos a matemática e ciências, em particular no 8.º ano, onde Portugal ocupa o último lugar entre os 15 países europeus que integraram a investigação. Há uma geração de alunos que ficou para trás e que precisa de uma educação que lhes dê futuro. Por isso, a prioridade está a ser devolver o rigor, a serenidade, o diálogo e a prospeção de que a escola pública carece.

Esta semana, o Inquérito às Competências dos Adultos 2023, da OCDE, aponta que apenas 40% dos adultos portugueses dos 16 aos 65 anos compreendem textos simples ou resolvem aritmética básica no quotidiano, no qual só os chilenos apresentam mais dificuldades, e o declínio da proficiência dos portugueses começa logo aos 25 anos. Se os números são arrasadores, o facto de sabermos que quem frequentou o ensino superior em Portugal obteve, em média, resultados mais baixos do que quem tem o ensino secundário completo na Finlândia chama ainda mais a atenção.

Mesmo com as novas gerações mais escolarizadas, Portugal tem um atraso histórico face aos países da União Europeia em termos de educação e formação da sua população, o que se repercute, também, na baixa qualificação dos empregadores. A população em rápido envelhecimento e o aumento do fosso de competências entre gerações faz com que Portugal tenha de reforçar a formação ao longo da vida.

A literacia plena e o exercício da cidadania são inseparáveis e indispensáveis à sustentabilidade da democracia, ao bem-estar social e à produtividade da economia. Onde está a liberdade sem verdadeira capacidade de compreender, de decidir ou agir de forma independente, sem imposições ou manipulações de qualquer tipo? Seremos tão mais livres quanto maior a nossa consciência cívica, a compreensão do mundo contemporâneo, o grau de informação, de preparação e de esclarecimento para o usufruto de direitos, que estarão condicionados quando há limitações na capacidade de fazer exercícios básicos.

Das finanças às oportunidades de emprego, da saúde ao ambiente, passando pelas competências para interagir com múltipla informação e com ambientes digitais complexos e para participar ativamente nos processos políticos, urge que as pessoas de todas as idades consigam tomar as melhores decisões e saibam como fazê-lo. As diferentes áreas governativas, as escolas, as instituições de ensino superior, as empresas, os parceiros sociais, as associações cívicas e os media - todos - são convocados para o cumprimento deste desígnio, que é complexo, que nos deve unir e que dispensa soluções populistas.

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