Sábado – Pense por si

Ana Gabriela Cabilhas
Ana Gabriela Cabilhas Nutricionista e deputada do PSD
27 de outubro de 2024 às 14:26

Os extremos tocam-se

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Edição de 5 a 11 de agosto

Este não é o tempo de conclusões antecipadas, nem de julgamentos precipitados na praça pública.

As vozes da moderação não podem ser abafadas pela gritaria dos extremos, à esquerda e à direita. O oportunismo e o aproveitamento político dos tumultos na região de Lisboa ao longo da última semana, que assistimos na Assembleia da República, no espetáculo televisivo e nas redes sociais, para manipulação do eleitorado ou obtenção de ganhos partidários, é totalmente condenável.

A Ministra da Administração Interna determinou a abertura de um inquérito, com urgência, para apuramento das circunstâncias que envolveram os agentes da Polícia de Segurança Pública na madrugada de segunda-feira, onde há uma morte a lamentar. Por isso, este não é o tempo de conclusões antecipadas, nem de julgamentos precipitados na praça pública.

Devemos partir do princípio que todas as forças de segurança atuam dentro da legalidade. Isto não significa que os agentes não estejam sob escrutínio, daí que tenha sido aberto um inquérito, cujos resultados devemos aguardar com serenidade. Porém, há responsáveis políticos que, cheios de certezas e sem dúvida alguma sobre os factos, se comportam como gasolina num incêndio, cavalgando o ódio, a intolerância e os preconceitos com retórica inflamável.

Recordo que o Fórum Económico Mundial, no Relatório de Riscos Globais 2024, considerou a polarização da sociedade no pódio das ameaças a curto prazo, e que não dá sinais de desaparecimento nas ameaças a 10 anos.

Os responsáveis políticos que continuam a instigar o clima de medo e a minar a confiança nas instituições democráticas, radicalizando a sociedade e dividindo-a em bons e maus, os polícias e os bandidos ou colocando cidadãos contra concidadãos em razão da cor da pele, esquecem-se que os portugueses querem continuar a ser uma sociedade pacífica, sem instabilidade e sem violência. Os portugueses esperam que os políticos estejam concentrados na resolução dos problemas sociais, económicos, culturais e na mitigação de desigualdades, ao invés de alimentarem a desordem e comprometerem a paz social.

A veemência na condenação estende-se à violência e aos desacatos subsequentes, que não podem ser tolerados e que prejudicam os moradores dos bairros, que desejam que a sua vida regresse à normalidade, e que obrigam à atuação das forças de segurança, que merecem a nossa gratidão na defesa dos valores democráticos da segurança e da ordem pública.

Enquanto uns se aproveitam e instrumentalizam a vida e as condições dos serviços e forças de segurança (tal como já assistimos quando chamaram as polícias para a rua e galerias do Parlamento), e enquanto outros usam supercola para encostar as forças de segurança a racismo, o Governo está focado em dar dignidade às polícias, e na união e no reforço da confiança dos cidadãos nas suas polícias.

Desde logo, com o acordo para o aumento do suplemento de risco aos agentes e guardas, corrigindo a injustiça criada pelo anterior Governo. Depois, por reconhecer "a evolução e constante dinâmica dos contextos, sejam eles sociais, económicos, criminológicos e de insegurança, aos níveis local e regional e sobretudo culturais das comunidades que as forças de segurança servem", o Governo constituiu um grupo de trabalho para elaborar uma estratégia pedagógica a adotar pelos estabelecimentos de ensino das forças de segurança. E, há uma semana, Luís Montenegro anunciou o reforço da proximidade e visibilidade de polícias na rua e o incrementar de sistemas de videovigilância.

O Governo também esteve reunido com os autarcas da Área Metropolitana de Lisboa e ouvirá as associações dos diferentes bairros, que trabalham com proximidade e conhecem estas comunidades, cujas manifestações, desde que pacíficas, devem ser escutas com atenção.

Enquanto os extremos populistas se tocam e radicalizam mais, erguendo muros, a Aliança Democrática está na moderação, ao lado das pessoas, a construir pontes. Porque só assim se consegue uma democracia saudável, se defende o Estado de direito democrático e se respeitam todos os cidadãos.

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