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Jovem de Tianjin descreve entreajuda onde poucos dispensam máscaras

Blair Gao tem feito o possível para ajudar os conterrâneos de Tianjin, após uma série de explosões terem causado pelo menos 114 mortos na cidade portuária chinesa

Nos últimos dias, Blair Gao tem feito o possível para ajudar os conterrâneos de Tianjin, após uma série de explosões terem causado pelo menos 114 mortos na cidade portuária chinesa, onde agora poucos dispensam as máscaras.

Cinco dias passados, e apesar do número de mortos continuar a subir, o ambiente em Tianjin é de calma e entreajuda, descreveu à agência Lusa.

"Agora as coisas estão calmas, as pessoas não estão em pânico. Há muita gente a ajudar", conta a jovem, que está na sua cidade natal desde Junho a visitar a família e a tratar do visto para poder regressar a Macau, onde estudava e, a partir de Setembro, vai começar a trabalhar na área do turismo.

Desde sexta-feira, dois dias depois das explosões, que Blair Gao começou a recolher dinheiro de amigos que queriam ajudar mas não sabiam como – tem feito de ponte, juntando os fundos e adquirindo os bens necessários a diferentes organizações.

"Somos dois. Os nossos amigos queriam ajudar mas não sabiam para onde enviar a ajuda. Nós íamos enviar algum dinheiro para organizações que acabaram por nos pedir para as representarmos. As pessoas mandam-me o dinheiro, nós encontramos organizações credíveis e compramos o que for necessário, não o damos directamente", descreve.

No total, juntou 10.615 yuan (cerca de 1.500 euros) e estima que cerca de metade tenha vindo de Macau. "Fiquei muito sensibilizada com as doações, as pessoas querem realmente ajudar. Há muita gente boa em Macau que quer ajudar as pessoas na China, sinto-me abençoada", comenta.

Por agora, a cidade está suficientemente apetrechada, acredita a jovem, que tem contactado com diferentes organizações. "Ontem [domingo] fui ao hospital de Teda para saber se precisavam de ajuda porque temos algumas doações [para distribuir]. Vi que tinham muitas reservas de água e medicamentos, disseram-nos que não precisavam", relata.

Hoje, a jovem foi contactada por uma equipa de voluntários de Pequim, membros de um grupo de resposta a situações de emergência, que a informou da necessidade de óculos de protecção e gotas para os olhos.

Apesar de as coisas estarem "sob controlo", Gao descreve uma cidade com zonas de acesso bloqueado e dividida em três perímetros – aqueles que, à altura das explosões, estavam no primeiro perímetro (e sobreviveram) precisam agora de "muita protecção", através de equipamento especial, usado também pela polícia, bombeiros e exército para entrar nas zonas restritas.

Perto do bairro de Tanggu, quase toda a gente usa máscara, conta Gao. "Não são as máscaras normais que as pessoas usam quando estão doentes, são máscaras especiais, com três camadas – a segunda é usada proteger das PM 2,5", partículas finas inaláveis extremamente prejudiciais à saúde.

Nos últimos dias Blair Gao deslocou-se algumas vezes à zona mais sensível: "Uso máscara e quando chego a casa desinfecto a roupa, lavo tudo e sinto que estou bem. Se não se usar máscara sente-se a garganta a picar", descreve.

A jovem admite que há muitos rumores e que são muitas as críticas à informação disponibilizada pelas autoridades, mas tem uma postura tolerante. "Nos primeiros dias falava-se de 40 ou 50 mortos e todos diziam que isso estava errado. Mas acho que é compreensível, é preciso tempo para identificar as pessoas e ter os números certos", comenta.

Gao recorda a noite da primeira explosão, a cerca de 50 quilómetros da sua casa. "De repente ouvi um barulho enorme, menor que um sismo mas um grande abanão. A minha porta tremeu muito e fiquei muito assustada, mas só me apercebi da gravidade no dia seguinte. Foi terrível", lembra.

Na passada quarta-feira à noite uma enorme explosão em contentores de armazenamento de químicos, incluindo cianeto de sódio, abalou a cidade, causando, até agora 114 mortos, 70 desaparecidos e 700 feridos. Partes da cidade foram evacuadas devido a receios de propagação de químicos.

O Tribunal Supremo Chinês já anunciou uma investigação para apurar possíveis negligências por parte da empresa detentora dos contentores.

Ainda não se sabe o que causou as explosões mas a hipótese mais forte é que se deveram ao contacto dos produtos químicos com a água usada pelos bombeiros para apagar um incêndio que havia deflagrado previamente.