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"Foi uma vingança pelo filme". Palestiniano vencedor de Óscar relata ataque de colonos 

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 26 de março de 2025 às 22:12
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Hamdan Ballal afirma que desde que ganhou o Óscar de Melhor Documentário a violênci aumentou: "Não apenas contra mim, não apenas contra os ativistas e outros membros da equipa do filme, mas contra todos os moradores"

O realizador palestiniano Hamdan Ballal, que venceu este ano um Óscar, disse que os colonos israelitas que o agrediram tiveram a ajuda de dois soldados israelitas e que depois de ter sido levado para a esquadra foi novamente agredido.  

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Numa entrevista ao The Guardian, o corealizador de No Other Land, que documenta a destruição de vilas na Cisjordânia e ganhou o Óscar para Melhor Documentário, contou que dois soldados israelitas o cercaram enquanto um colono o atacava e, de seguida, bateram-lhe violentamente na cabeça ameaçando disparar sobre ele. 

"Todo começou por volta das 18 horas de segunda-feira. Tínhamos terminado o nosso jejum diário do Ramadão em Susya, na área de Masafer Yatta, no sul de Hebron, quando me ligaram a dizer que os colonos tinham entrado na nossa aldeia", começou por recordar.  

O realizador referiu que como trabalha numa organização de direitos humanos, Haqel: em Defesa dos Direitos Humanos, e é fotógrafo dirigiu-se para o local do ataque para "documentar o que estava a acontecer": "Tirei três ou quatro fotos e percebi que a situação se estava a deteriorar. Havia dezenas de colonos e estavam a tornar-se cada vez mais agressivos".  

"Naquele exato momento, pensei na minha família, que estava em casa. Corri até eles e disse à minha esposa: ‘Tranca a casa e mantém as crianças lá dentro’. Eles podem ter-me atacado, mas não poderiam prejudicar a minha família", continua Ballal.

Depois disso, um colono, alegadamente escoltado por dois soldados israelitas, foi direto à porta da casa do realizador enquanto os soldados impediam que alguém o ajudasse: "Os soldados apontaram as suas espingardas enquanto o colono que vinha atrás dele começou a bater-me. Mandaram-me para o chão, e o colono beteu-me cabeça. Depois um soldado também me bateu com a parte de trás da sua espingarda e atingiu-me a cabeça. A seguir disparou para o ar". 

"Não entendo hebraico, mas deduzi que ele disse que o próximo tiro me ia atingir. Naquele momento, pensei que ia morrer", partilhou Hamdan Ballal. 

Depois do ataque o realizador e outros dois palestinianos foram levados para um veículo militar e transportado para a esquadra da polícia de Kiryat Arba, na Cisjordânia ocupada, onde passaram a noite no chão. Ballal afirmou que foi espancado pelas Forças de Defesa Israelita enquanto estava detido: "Foi uma vingança pelo filme. Ouvi as vozes dos soldados, estavam a rir de mim. Ouvi [a palavra] Óscar".  

"Nós ganhámos o Óscar há apenas três semanas e a violência aumentou. Não apenas contra mim, não apenas contra os ativistas e outros membros da equipa do filme, mas contra todos os moradores", referiu ainda o corealizador de No Other Land.  

Um porta-voz das IDF negou que Hamdan Ballal tenha sido espancado na detenção, considerando as acusações "totalmente infundadas": "As forças das IDF facilitaram o tratamento médico dos detidos após a transferência inicial dos suspeitos para a polícia israelita e durante toda a noite os detidos permaneceram num centro de detenção militar algemado de acordo com o protocolo operacional".  

Este relato vai contra a versão da advogada do realizador, Lea Tsemel, que afirmou que os três detidos receberam apenas os cuidados mínimos para os seus ferimentos e que não conseguiu ter acesso aos palestinianos durante várias horas. 

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