A presidente da Comissão Europeia faz hoje o seu quinto discurso sobre o Estado da União e o primeiro do novo mandato
A presidente da Comissão Europeia defendeu esta quarta-feira que a fome provocada por Israel em Gaza “não pode ser uma arma de guerra” e “tem de acabar” e anunciou medidas para aumentar a pressão sobre Telavive.
Von der Leyen discursa sobre a Europa na luta por independênciaLUSA_EPA
No discurso sobre o Estado da União, na sessão plenária na cidade francesa de Estrasburgo, Ursula von der Leyen descreveu: “Pessoas mortas enquanto imploravam por comida, mães a segurar bebés sem vida… Estas imagens são simplesmente catastróficas e, por isso, quero começar com uma mensagem muito clara [dizendo que] a fome provocada pelo homem nunca pode ser uma arma de guerra”.
Depois de ter sido bastante criticada pelo silêncio sobre Gaza e por ser próxima de Israel, a responsável alemã vincou, obtendo aplausos dos eurodeputados: “Pelo bem das crianças, pelo bem da humanidade, isto tem de acabar”.
De acordo com Ursula von der Leyen, o que está a acontecer no enclave palestiniano devido à ofensiva israelita “abalou consciência do mundo” e “é inaceitável”.
“Isto também faz parte de uma mudança mais sistemática nos últimos meses que é simplesmente inaceitável”, adiantou a política alemã de centro-direita, condenando o sufoco financeiro da Autoridade Palestiniana, os planos para colonização da Cisjordânia ocupada e “as ações e declarações dos ministros mais extremistas do governo israelita”.
Ao vincar que “a Europa deve liderar o caminho”, Ursula von der Leyen anunciou mais medidas para pressionar Israel a acabar com a ofensiva em Gaza, como a suspensão do apoio bilateral, a interrupção dos pagamentos sem afetar o trabalho com a sociedade civil, a introdução de sanções contra os ministros extremistas e os colonos violentos e ainda a suspensão parcial do Acordo de Associação da UE com Telavive no que diz respeito a questões comerciais.
Criação de centro europeu de combate a incêndios
A Comissão Europeia quer criar um centro europeu de combate a incêndios, com sede em Chipre, que poderá também apoiar os vizinhos regionais da União Europeia (UE). Ursula von der Leyen evocou os fogos florestais deste verão, nos quais "mais de um milhão de hectares foram queimados, uma área que corresponde a cerca de um terço do tamanho da Bélgica".
"Temos de nos dotar dos instrumentos necessários para reagir", referiu, propondo a criação de um centro europeu de combate a incêndios, que ficará sediado em Chipre.
A líder do executivo comunitário - que convidou o bombeiro grego Nikolaos Paisios, líder de uma equipa que ajudou a combater fogos em Espanha, a estar presente na sessão plenária do PE -- destacou que o Mecanismo de Proteção Civil Europeu faz diferença no combate aos incêndios.
Ao abrigo do mecanismo, foram destacados 760 bombeiros europeus para vários Estados-membros afetados pelos fogos florestais.
Von der Leyen reiterou ainda que as alterações climáticas estão a tornar cada verão mais quente e rigoroso, e por isso a União Europeia tem de "intensificar radicalmente os esforços de resiliência e adaptação às alterações climáticas e soluções baseadas na natureza".
Portugal foi, este verão, um dos países da UE mais afetados por incêndios florestais, tendo sido registados até 31 de agosto de 2025 um total de 254.296 hectares de área ardida, um valor três vezes superior à média dos últimos 20 anos e que torna 2025 o terceiro pior ao de sempre, depois de 2003 e 2005.
O Sistema Europeu de Informação de Fogos Florestais indica que 2,35% do território português já ardeu este ano.
A Guerra na Ucrânia
A presidente da Comissão Europeia defendeu também que a Europa "está em luta" pela paz, democracia e liberdade e pelo seu futuro, devendo aproveitar o momento "para ser independente".
"A Europa está em luta, uma luta por um continente unido e em paz, por uma Europa livre e independente, uma luta pelos nossos valores e pelas nossas democracias, uma luta pela nossa liberdade e pela nossa capacidade de determinar o nosso próprio destino. Não se enganem: esta é uma luta pelo nosso futuro", disse Ursula von der Leyen.
Na sessão plenária na cidade francesa de Estrasburgo a líder do executivo comunitário salientou que "a Europa tem de lutar" e que "este deve ser o momento da independência". Desde logo, para "cuidar da sua própria defesa e segurança", mas também de áreas como a tecnologia, energia e democracia.
E ainda "pelo seu lugar num mundo em que muitas grandes potências são ambivalentes ou abertamente hostis à Europa", acrescentou, no dia em que a Polónia denunciou a presença de drones (veículos não tripulados) no espaço aéreo do país.
A presidente da Comissão Europeia admitiu que ponderou "se devia começar o discurso [...] com uma avaliação tão severa".
"Afinal, nós, europeus, não estamos habituados - nem nos sentimos à vontade - para falar nestes termos porque a nossa União é, fundamentalmente, um projeto de paz, mas a verdade é que o mundo de hoje é implacável", apontou.
"Não podemos ignorar as dificuldades que os europeus sentem todos os dias" relacionadas com a crise global e subida do custo de vida, de acordo com Ursula von der Leyen.
Segundo a responsável, os cidadãos europeus também "se preocupam com a espiral interminável de acontecimentos que veem nas notícias, desde as cenas devastadoras em Gaza até ao bombardeamento implacável da Ucrânia pela Rússia".
"Não podemos simplesmente esperar que esta tempestade passe [pois] este verão mostrou-nos que simplesmente não há espaço nem tempo para nostalgia", sublinhou.
Ursula von der Leyen também denunciou a “imprudente violação sem precedentes” de drones russos no espaço aéreo polaco, manifestando “total solidariedade” da UE com a Polónia: “Hoje vimos uma imprudente violação sem precedentes do espaço aéreo da Polónia e da Europa […]. A Europa manifesta total solidariedade com a Polónia”, declarou Ursula von der Leyen.
Cimeira sobre crianças ucranianas raptadas
“Há dezenas de milhares de crianças ucranianas cujo destino é desconhecido. Por isso, posso anunciar que, em conjunto com a Ucrânia e outros parceiros, vou ser anfitriã de uma cimeira da Coligação Internacional para o Regresso das Crianças Ucranianas”, anunciou a responsável, sem avançar uma data.
Estas crianças estão “presas, sob ameaça, forçadas a negar as identidades que têm”, salientou von der Leyen, crescentando que “cada criança raptada tem de regressar” a casa.
É necessário “fazer tudo o que seja possível para apoiar as crianças ucranianas”, sublinhou.
Pouco antes, perante os eurodeputados no plenário de Estrasburgo, Ursula von der Leyen apresentou a história de Sasha, uma criança ucraniana que “tinha apenas 11 anos quando a Rússia atacou”, vivia em Mariupol, cidade que foi ocupada pela Rússia e palco de um dos episódios mais sangrentos da guerra que tem mais de três anos.
A presidente do executivo comunitário acrescentou que Sasha passou por um “campo de filtração” russo, que recebeu um “passaporte russo, um nome russo e foi enviado para o território ocupado do Donetsk”. Ursula von der Leyen contou que Sasha conseguiu escapar e voltar a casa, para território ucraniano não ocupado, e pediu um aplauso ao jovem que estava sentado no plenário com a avó, que apresentou como Liudmyla.
Novas sanções
Ainda no tópico da guerra na Ucrânia, a presidente da Comissão Europeia anunciou que o próximo pacote de sanções, o 19.º, contra Moscovo está a caminho para “pressionar a Rússia a ir para negociações”.
Este pacote de sanções vai “olhar particularmente para o fim da utilização dos combustíveis fósseis russos, as embarcações da 'frota fantasma' e países terceiros” que apoiam Moscovo, disse.
No entanto, a antiga ministra da Defesa da Alemanha não concretizou uma data para a apresentação deste pacote de sanções e possível aprovação.
Defesa
Ursula von der Leyen anunciou que vai propor ao Conselho Europeu, na reunião de outubro, a criação de um Semestre Europeu da Defesa para monitorizar até 2030 os projetos realizados nesta área. O objetivo é apresentar um roteiro “para lançar novos projetos de defesa comum, para definir objetivos claros para 2030 e para a criação de um Semestre Europeu da Defesa”, que acompanhe a realização desses objetivos.
Ainda na área da defesa, o executivo comunitário vai propor um novo programa militar - Vantagem Militar Qualitativa (Qualitative Military Edge, no original) – de apoio ao investimento nas capacidades das forças armadas ucranianas, antecipar seis mil milhões de euros da iniciativa de Empréstimos por Aceleração de Receitas Extraordinárias (ERA) e entrar numa aliança de drones com a Ucrânia, “para que a Ucrânia mantenha a vantagem e a Europa reforce a sua”.
Ao salientar que “o flanco oriental da Europa mantém toda a Europa segura”, a presidente da Comissão Europeia anunciou um apoio aos países “do mar Báltico ao mar Negro” através de uma vigilância do flanco oriental (Eastern Flank Watch).
Ursula von der Leyen disse que “isto significa dotar a Europa de capacidades estratégicas autónomas”, sublinhando a necessidade de investir na vigilância espacial em tempo real “para que nenhum movimento de forças passe despercebido” e ainda de “construir um muro de drones”.
Acabar com a pobreza até 2025
A Comissão Europeia quer acabar com a pobreza na UE até 2050, para isso apresentou uma estratégia para resolver a crise na habitação e torná-la "mais acessível, sustentável e de melhor qualidade".
A presidente do executivo comunitário disse ter consciência das dificuldades "para tantas famílias", uma vez que "os custos dispararam, as pessoas estão a fazer sacrifícios para chegar ao final do mês", destacando o plano apresentado como "uma questão de justiça social básica".
"Precisamos urgentemente de uma estratégia europeia contra a pobreza que seja ambiciosa", acrescentou, sem avançar quando vai apresentar esta estratégia e também não concretizou o que vai incluir.
Ursula von der Leyen voltou atenções para a crise na habitação e disse que os preços das casas "aumentarem mais de 20% desde 2015". Encontrar uma casa é atualmente "uma fonte de ansiedade" para "muitos europeus", disse.
"Pode significar dívida e incerteza", considerou a presidente do executivo comunitário. "Mais do que uma crise habitacional, é uma crise social que está a desfazer o tecido social europeu, enfraquecendo a coesão", salientou.
Ursula von der Leyen sustentou que a crise na habitação também "ameaça a competitividade" da UE, alegando que "enfermeiros, professores e bombeiros não podem viver onde servem, estudantes estão a abandonar porque não conseguem pagar as rendas e os jovens adiam o objetivo de formar família".
"Por isso, e ainda este ano, depois de receber as vossas contribuições, vamos apresentar o primeiro plano europeu de habitação acessível, para a tornar mais acessível, sustentável e de melhor qualidade", indicou.
Lutar pelo mercado de automóveis elétricos
A presidente da Comissão Europeia defendeu hoje que "os carros do futuro têm de ser construídos" na União Europeia (UE) e que o bloco político-económico europeu "não pode deixar a China conquistar" este mercado.
"O futuro dos carros e os carros do futuro têm de ser construídos na Europa", disse Ursula von der Leyen, enquanto discursava no Parlamento Europeu (PE), no âmbito do debate do Estado da União, em Estrasburgo, em França.
A indústria que é responsável "por milhões de empregos" é "um orgulho europeu" e um "pilar da economia e indústria" dos 27 países da UE, comentou a presidente do executivo comunitário.
"Milhões de europeus querem comprar carros europeus acessíveis, por isso, deveríamos investir em automóveis pequenos e acessíveis, tanto para o mercado da UE, como para responder ao crescimento da procura global", comentou Ursula von der Leyen, anunciando uma iniciativa para impulsionar esta indústria, que não concretizou.
A presidente da Comissão Europeia defendeu que "o futuro vai ser elétrico, independentemente de tudo", e que a UE "vai fazer parte".
"Não podemos deixar a China e outros conquistarem este mercado", argumentou.
A presidente da Comissão Europeia faz hoje o seu quinto discurso sobre o Estado da União e o primeiro do novo mandato, iniciado em dezembro passado, quando enfrenta críticas relacionadas com a postura passiva sobre Gaza e desequilíbrio no acordo com os Estados Unidos.
Neste discurso anual, na sessão plenária na cidade francesa de Estrasburgo, Ursula von der Leyen apresenta a sua visão sobre a UE e as suas respostas aos desafios, mas também se defende das críticas de que é alvo.
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