As autoridades espanholas apreenderam 13 toneladas de cocaína a semana passada. Um dos detidos no processo foi o chefe da secção de crimes económicos da Polícia de Madrid e a sua mulher, também ela agente da polícia.
Na semana passada foi detido o chefe da secção de crimes económicos da Polícia de Madrid. Tinha sido identificado numa investigação relacionada com a interceção de 13 toneladas de cocaína, escondidas num carregamento de bananas num contentor no porto de Algeciras, no sul de Espanha. Tratou-se da maior apreensão de sempre de estupefacientes na história de Espanha. Foram encontrados cerca de 20 milhões de euros escondidos entre as paredes da casa do chefe da polícia e ainda um milhão em notas no seu gabinete. As autoridades suspeitam que Óscar Sánchez e a sua mulher, também ela agente da polícia, estão envolvidos neste esquema de droga que nasceu a partir de uma empresa de importação de frutas exóticas, a Abadix Fruits. O casal dono da empresa está fugido às autoridades.
Polícia Nacional de Espanha
As 13 toneladas de cocaína foram encontradas num contentor de bananas oriundo do Equador, depois de se terem detetadas discrepâncias entre a carga declarada e a carga real. Apreendido e aberto um contentor foram encontradas caixas de bananas na frente. Mas por trás estavam outros contentores com vários "tijolos" de cocaína. Durante o cumprimento dos mandados foram detidos o inspetor-chefe, a sua mulher e a irmã da dona da empresa importadora de fruta. Os donos conseguiram fugir.
A droga, dissimulada num carregamento de bananas, "destinava-se a ser distribuída por toda a Europa", informou a Polícia Nacional de Espanha (Corregedoria). "É óbvio que estas 13 toneladas de cocaína não se destinavam apenas ao mercado espanhol. O mercado espanhol não consegue lidar com tanta droga de uma só vez. Esta droga destinava-se a ser distribuída por toda a Europa", afirmou Antonio Jesus Martinez, chefe da Brigada Central de Narcóticos da Polícia Nacional, em conferência de imprensa.
Faturava €5,6 milhões mas não tinha um armazém
O jornal espanhol El Mundo explica que no centro do esquema estão Miguel B. e Vilma Janet A., um casal que criou uma empresa de importação de fruta tropical que serviu de fachada para um império de droga que funcionava a partir da capital espanhola. O negócio deste casal funcionava entre a América do Sul (mais propriamente, Costa Rica, Brasil, Panamá e Equador) e a Europa (as autoridades defendem que o tráfico era demasiado grande para acontecer apenas em Espanha). A empresa de exportação de fruta, a Abadix Fruits SL, chegou a patrocinar eventos desportivos locais e tinha uma contabilidade de fazer inveja, com a faturação a multiplicar todos os anos, permitindo até ao casal começar a operar no mercado imobiliário. Os jornais locais referem que Miguel e Vilma eram bem-vistos pelos locais e estavam bem integrados, não havendo suspeitas de que poderiam estar ligados ao crime.
De acordo com o El Mundo, as suspeitas sobre este casal começaram a surgir quando o volume de atividade da empresa aumentava de forma exponencial, mas a Abadix Fruits continuava sem ter um armazém para a sua mercadoria. Constituída em 2018, a Abadix importou, desde 2021, mais de 900 contentores de fruta tropical. Em 2021 faturou cerca de 600 mil euros. Dois anos depois dava conta de ter faturado 5,6 milhões de euros.
De acordo com a imprensa espanhola, a investigação da Corregedoria começou há vários meses e envolveu centenas de escutas telefónicas e centenas de vigilâncias que permitiram ligar o casal de polícias ao tráfico, tendo a apreensão da droga no porto de Algeciras selado a suspeita deste envolvimento.
Durante as buscas em casa de Sánchez foram encontrados largas quantidades de dinheiro escondidas. Os 20 milhões de euros estavam num esconderijo feito atrás das paredes da casa do casal, em Alcalá de Henares, localidade em cuja esquadra trabalhava a sua companheira. Além disso, no seu gabinete em Madrid foram encontradas notas de 50 euros escondidas em vários lugares, num total de cerca de um milhão de euros. Após ser presente ao Tribunal Central de Instrução, Óscar Sánchez ficou sujeito à medida de coação de prisão preventiva.
Óscar Sánchez era respeitado dentro da polícia e foi um choque para os restantes inspetores descobrir que tinha 20 milhões de euros guardados em casa. De acordo com a investigação Sánchez dava cobertura à entrada de droga que vinha desde o Equador e ensinava a enganar os controlos policiais. Por este trabalho seria recompensado por Miguel e Vilma.
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O Estado português falha. Os sucessivos governos do país, falham (ainda) mais, numa constante abstração e desnorte, alicerçados em estratégias de efeito superficial, improvisando sem planear.
A chave ainda funcionava perfeitamente. Entraram na cozinha onde tinham tomado milhares de pequenos-almoços, onde tinham discutido problemas dos filhos, onde tinham planeado férias que já pareciam de outras vidas.