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Em Aleppo, Natal católico é celebrado em igreja destruída

23 de dezembro de 2016 às 13:38
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Cristãos em Alepo representavam 10% da população antes da guerra, à volta de 250.000 pessoas, metade dos quais arménios

Na catedral maronita de Aleppo o tecto desabou sob uma chuva de obuses e, enquanto a neve cai com abundância, Nehmé Badaui e o seu irmão Bachir retiram dos escombros materiais para construir um presépio.

"Utilizamos quaisquer restos para simbolizar o triunfo da vida sobre a morte", declara o pintor Nehmé, 53 anos, citado pela agência France Presse, que vai juntando galhos de árvores para decorar o presépio na igreja de São Elias na Cidade Velha, no coração de Aleppo.

Após quatro anos de combates mortíferos entre rebeldes e forças leais ao regime de Damasco, o exército sírio anunciou na quinta-feira ter recuperado o controlo total da segunda cidade da Síria e, pela primeira vez, a minoria católica prepara-se para celebrar uma missa de Natal na sua catedral destruída.

"O impacto moral é maior e mais profundo que as perdas materiais", lamenta Bachir.

"Aqui estão as nossas memórias, foi onde celebrámos as nossas festas (...) Queremos transformar os escombros em algo bonito", adiantou.

Durante quatro anos, o bairro da Cidade Velha foi uma das frentes mais violentas da batalha de Aleppo, dividida desde Julho de 2012 entre a zona oeste sob controlo do regime e um sector no leste ocupado pelos rebeldes.

Os cristãos em Alepo representavam 10% da população antes da guerra, à volta de 250.000 pessoas, metade dos quais arménios. Mais de metade partiram entretanto e não serão actualmente mais que 100.000, segundo o geógrafo Fabrice Balanche.

A quase totalidade vivia na parte governamental. No geral ficaram fora da revolta que se transformou no conflito armado que já causou mais de 310.000 mortos desde 2011.

"Voltamos à igreja há três dias, quando soubemos que as operações militares estavam próximas do fim", afirmou Bachir, precisando que a comunidade cristã tinha decidido organizar uma missa no local.

Bachir vai instalando as figuras do presépio com cores vivas com a ajuda de escuteiros como Tony Mardini, que lamenta ter sido privado da sua igreja durante os últimos quatro anos.

Depois vão utilizar a rede social Facebook e a aplicação de mensagens WhatsApp para convidar os seus familiares e amigos a participarem na missa no dia de Natal, no domingo, a primeira desde o início dos combates.