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Dalai Lama faz hoje 90 anos e garante que vai reencarnar

Sónia Bento
Sónia Bento 06 de julho de 2025 às 10:00
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Apesar da idade avançada, o líder espiritual tibetano garante que a sua morte não está iminente. Mas já anunciou que a sua reencarnação será fora da China, provavelmente na Índia, onde vive exilado há 66 anos.

O líder espiritual tibetano, Dalai Lama, completa 90 anos este domingo, dia 6, e já garantiu que após a sua morte terá um sucessor. E explicou que apenas o Gaden Phodrang Trust — fundação que criou — tem autoridade para reconhecer a sua reencarnação. O 14º Dalai Lama fez o tão esperado anúncio, esta semana, em Dharamshala, no norte da Índia, onde vive exilado do domínio chinês desde 1959.

Apesar da idade avançada, garante que a sua partida não está iminente, já que goza de boa saúde, embora precise de andar apoiado: "Segundo o meu sonho, posso viver até aos 110 anos", disse no final de 2024. Ao contrário de outras religiões, a liderança espiritual tibetana não é herdada, nem eleita por votação. Acredita-se que o Dalai Lama seja uma manifestação do santo padroeiro do Tibete, conhecido como Avalokiteshvara ou Chenrezig. Os tibetanos acreditam que a mesma alma do Dalai Lama reencarna repetidas vezes.

A rigorosa busca do sucessor 

O atual Dalai Lama - cujo nome significa "Oceano da Sabedoria", conhecido pelos tibetanos como Gyalwa Rinpoche, "O Mestre-Buda" – nasceu a 6 de julho de 1935, em Taktser, no nordeste do Tibete, com o nome de Lhamo Thondup, numa família pobre de agricultores, sendo o quinto de sete filhos. Aos 2 anos, ele foi reconhecido como a reencarnação do 13º Dalai Lama. O processo para encontrar a criança é rigoroso e complexo e é iniciado após a morte do seu predecessor, pelo que pode demorar anos. Por exemplo, o 13º Dalai Lama, morreu a 17 de dezembro de 1933 e o seu sucessor nasceu a 6 de julho de 1935.

Monges, que ocupam uma alta posição, começam a procurar um menino que tenha nascido na mesma época da morte do Dalai Lama anterior, guiados por uma série de potenciais pistas. Um dos monges pode receber sugestões sobre a identidade da criança, por exemplo, através de um sonho profético. A direção do fumo da pira funerária do Dalai Lama anterior também é considerada uma indicação do local onde possa estar a reencarnação.

Testes para provar a ligação espiritual

Quando a localização do novo Dalai Lama é determinada, a criança é submetida a testes, tendo de identificar com sucesso pertences do seu antecessor, provando assim uma ligação espiritual. "É meu, é meu", disse o atual, assim que viu objetos pessoais do anterior líder religioso. Uma vez reconhecido, é levado para um mosteiro, onde começa a sua formação espiritual e filosófica que irá durar vários anos, culminando com a cerimónia de entronização no histórico templo de Potala, na cidade sagrada de Lhasa, no Tibete.

Durante o ritual, o menor, já vestido com as túnicas monásticas, é levado ao trono e recebe um novo nome religioso. O ato inclui orações, cânticos e oferendas, com a participação de altos lamas, monges e autoridades religiosas. Depois é levado para o templo Jokhang, onde é ordenado monge noviço, numa cerimónia conhecida como taphue, que inclui o corte de cabelo, como símbolo da renúncia à vida mundana.

Dalai Lama é a autoridade espiritual máxima do budismo tibetano e uma das personalidades mais influentes a nível mundial e ganhou o Prémio Nobel da Paz em 1989 por manter viva a sua causa. Pequim considera-o um "separatista" e insiste na nomeação do seu sucessor, mas Dalai Lama afirmou que a instituição que lidera e que tem 600 anos de existência, precisa de ser preservada. Já disse que é provável que a sua reencarnação se encontre na Índia, advertindo que qualquer outro nomeado pela China não será respeitado.

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