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Covid-19: Governo brasileiro indica morte de 82 indígenas mas ONG aponta 218 óbitos

Governo diz que, até ao momento, o Brasil registou 2.085 casos de infeção pelo novo coronavírus entre os povos indígenas e 82 óbitos. Já a Coiab contabilizou 218 mortes e cerca de 2.600 indígenas infetados.

O Governo brasileiro informou na terça-feira que 82 indígenas morreram da covid-19 no país, número quase três vezes inferior ao divulgados pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazónia Brasileira (Coiab), que relatou 218 óbitos.

De acordo com o executivo, até ao momento o Brasil registou 2.085 casos de infeção pelo novo coronavírus entre os povos indígenas e 82 óbitos. Já a Coiab, organização não-governamental que representa indígenas que vivem na maior floresta tropical do mundo, contabilizou 218 mortes e cerca de 2.600 indígenas infetados.

"A covid-19 entrou nos nossos territórios e estamos a perder rapidamente muitos dos nossos parentes. A partir de dados que levantamos diariamente com as lideranças e profissionais indígenas da saúde, atualmente contabilizamos mais de 2.600 casos confirmados e mais de 70 povos atingidos pela pandemia nos nove estados da Amazónia brasileira. Até ao dia 07 de maio, 218 vidas indígenas foram levadas pela doença", indicou a ONG em comunicado na terça-feira.

A organização acusou ainda o Governo, liderado por Jair Bolsonaro, de não proteger as terras povoadas pelos povos originários e de não "assumir a sua responsabilidade no enfrentamento da doença".

"Nós, povos indígenas, organizamo-nos para monitorizar e proteger os nossos territórios e vidas, e assim evitar que se repitam os massacres que os nossos povos já sofreram, já que o Estado não assume a sua responsabilidade no enfrentamento da doença, nem na garantia constitucional da proteção das terras indígenas", advogou a Coiab, que reúne lideranças indígenas desde 1989.

"Invasores criminosos de todos os tipos, como garimpeiros, madeireiros, (...) missionários proselitistas, têm-se aproveitado para invadir e saquear os nossos territórios, além de nos expor ao coronavírus, inclusive, em áreas com presença de povos indígenas isolados, os mais vulneráveis nessa política genocida. (...) A nossa história e nossa sobrevivência estão, mais uma vez, em risco pela omissão do Governo", acrescentou.

A divergência entre os dados do Governo e de entidades indígenas tem sido uma constante desde o início da pandemia, e foi criticada na semana passada pela coordenadora da Articulação de Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sonia Guajajara.

Segundo Guajajara, o problema na contagem está na forma como o executivo avalia se o cidadão é ou não indígena.

"A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai, tutelada pelo Ministério da Saúde) faz uma seleção de quem eles acham que é indígena e quem não é. Então, eles não registam indígenas que estão em contexto urbano. A própria estrutura da Sesai, sem atendimento próximo a algumas aldeias, faz os indígenas irem para os municípios. Lá, eles entram na contagem normal do município, sem serem considerados indígenas com covid-19", explicou Guajajara.

Na avaliação da coordenadora da APIB, organização que coordena a luta dos povos originários pelos seus direitos, trata-se da "negação de querer mostrar a situação real".

Na maioria, a população indígena brasileira está distribuída por milhares de aldeias, sendo que grande parte das infeções pelo novo coronavírus foi registada na floresta Amazónia, onde está localizada a generalidade das tribos isoladas.

Durante uma conferência de imprensa na tarde de terça-feira, o secretário de Saúde Indígena, Robson Santos, argumentou que a contagem de casos e óbitos é feita de acordo com a legislação em vigor, acrescentando que trabalha com a "ciência" e que o executivo tem atendido todos os indígenas que precisam.

Uma das principais preocupações das autoridades é a vulnerabilidade das populações indígenas face a doenças respiratórias, o que aumenta o risco de agravamento em caso de contágio pelo novo coronavírus.

Face ao aumento de casos, vários povos indígenas estão a implementar as suas próprias barreiras de proteção, para impedir a entrada de invasores nos seus territórios.

O Brasil totaliza 38.406 mortos e 739.503 casos confirmados de covid-19 desde o início da pandemia, informou na terça-feira o executivo.

A pandemia de covid-19 já provocou quase 408 mil mortos e infetou mais de 7,1 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo o balanço feito pela agência francesa AFP.

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