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Coreia do Sul enfrenta epidemia de pornografia deepfake

Não é a primeira vez que o país lida com este tipo de crime. Um caso anterior resultou na condenação de uma pessoa a 42 anos de prisão.

O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, instou na terça-feira (27) as autoridades a fazer mais para "erradicar" a epidemia de crimes sexuais digitais que está a assolar o país, e em que mulheres e crianças se tornaram vítimas involuntárias.

Yonhap/via REUTERS

Segundo a BBC, foram identificados recentemente grupos de Telegram, em que cerca de 220 mil membros, principalmente jovens estudantes, criavam e partilhavam imagens deepfake sexualmente explícitas de pessoas que conheciam, como colegas ou professores. Em alguns casos, as imagens pornográficas falsas incluíam raparigas menores de idade. 

"Recentemente, vídeos deepfake direcionados a um número indeterminado de pessoas têm circulado rapidamente nas redes sociais", informou o presidente sul-coreano durante uma reunião. "As vítimas são muitas vezes menores e os criminosos são, na sua maioria, adolescentes". 

As conversas terão sido descobertas na semana passada na aplicação Telegram, numa altura marcada pela detenção do fundador desta rede socialPavel Durov, em França, por falta de moderação da aplicação. Num comunicado divulgado pela imprensa sul-coreana, Yoon Suk Yeol criticou a utilização da app

Sabe-se agora que, a partir de quarta-feira (28), a polícia passará a perseguir "agressivamente" os fabricantes deste tipo de imagens como parte de uma campanha de sete meses, que se irá focar principalmente naqueles que exploram crianças e adolescentes, informou a agência de notícias Yonhap. Enquanto isso, ocorreram também, na quarta-feira, reuniões de emergência para debater as descobertas. 

As deepfakes são geradas através do uso de Inteligência Artificial (IA) e consistem na sincronização de um rosto de uma pessoa real com sons ou imagens para a colocar em situações falsas. Na Coreia do Sul, este fenómeno não é completamente novo.

O país, que registou um aumento exponencial deste crime, segundo a polícia local, conta com uma história sombria de crimes sexuais digitais. Em 2019, soube-se que homens estariam a utilizar uma conversa no Telegram para chantagear pelo menos 74 mulheres, incluindo 16 adolescentes, para que enviassem imagens sexuais. O líder do grupo, Cho Ju-bin, acabou mais tarde por ser condenado a 42 anos de prisão. 

Só nos primeiros sete meses deste ano já foram notificados um total de 297 casos, o que contrasta com os 180 que se registaram no ano passado e com os 161 de 2021. Segundo indicaram as autoridades policiais, os adolescentes foram responsáveis por mais de dois terços deste tipo de crimes, nos últimos três anos.

O número de deepfakes direcionadas a professores também aumentou nos últimos dois anos, de acordo com o Ministério da Educação. O Sindicato dos Professores Coreanos acredita que mais de 200 escolas foram afetadas nesta última série de incidentes. A criação de deepfakes sexualmente explícitas com a intenção de partilha pode ser punível com cinco anos de prisão ou com uma multa de 50 milhões de won (33.721 euros), determina a lei sul-coreana.

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