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Cancelados concertos de fim ano no Kennedy Center em protesto pela mudança de nome

O concerto de natal, uma tradição com mais de 20 anos, também foi cancelado após o nome de Donald Trump ter sido adicionado ao edifício, em 19 de dezembro.

O septeto de jazz The Cookers, que ia protagonizar os concertos de fim de ano do Kennedy Center, em Washington DC, cancelou as suas atuações, por causa da mudança de nome da instituição, que passou a incluir Trump.

Protesto suspende concertos no Kennedy Center
Protesto suspende concertos no Kennedy Center
Protesto suspende concertos no Kennedy Center sobre nomeação de Trump
Protesto em frente ao Kennedy Center contra Trump e em defesa das artes

Numa declaração publicada na página de abertura do seu 'site', o septeto, que conta com músicos-chave na história do jazz como Eddie Henderson, Cecil McBee, George Cables e Billy Hart, justificou o cancelamento pelo apelo à liberdade da música.

"O jazz nasceu da luta e de uma insistência implacável pela liberdade: liberdade de pensamento, de expressão e da voz humana plena. Alguns de nós já fazem esta música há muitas décadas, e esta história ainda nos molda".

Os músicos garantem que não estão a abandonar o seu público: "Queremos garantir que, quando regressarmos ao palco [do Kennedy Center], o local poderá celebrar plenamente a presença da música e de todos os que a vivem".

O grupo The Cookers é a mais recente desistência da programação do Kennedy Center, que tem visto vários artistas cancelaram as suas atuações, desde que foi renomeado Trump-Kennedy Center, pelo conselho de administração, com elementos próximos do atual presidente.

O concerto de natal, uma tradição com mais de 20 anos, também foi cancelado após o nome de Donald Trump ter sido adicionado ao edifício, em 19 de dezembro.  

O diretor do espetáculo, o músico Chuck Redd, disse na altura à Associated Press que cancelara a atuação quando viu "a mudança de nome no 'site' do Kennedy Center e no edifício".

A companhia Doug Varone and Dancers, que tinha espectáculos agendados para abril, também justificou a sua decisão na segunda-feira, no Instagram: "Após a recente decisão de Donald Trump de renomear o local em sua homenagem, não nos podemos permitir, nem pedir ao nosso público que vá a esta instituição outrora prestigiada".

A cantora folk Kristy Lee também anunciou o cancelamento do seu concerto de janeiro nas redes sociais: "Quando a história americana começa a ser tratada como algo que pode ser banido, apagado, renomeado ou reformulado para alimentar o ego de alguém, não consigo subir àquele palco e dormir em paz".

A nova administração do centro, por seu lado, também cancelou espetáculos e eventos que celebravam a comunidade LGBT+, organizou conferências da direita religiosa e convidou artistas que divulgam a sua crença cristã nos espetáculos.

Segundo a imprensa norte-americana, a venda de bilhetes do Kennedy Center caiu para os piores níveis, desde a pandemia, com a chegada da nova administração.

O jornal The Washington Post noticiou que, desde setembro, pelo menos "43 por cento dos bilhetes ficaram por vender", nas diferentes salas do Kennedy Center - Concert Hall, Opera House e Eisenhower Theater -, lembrando que, antes, a taxa de ocupação dos espectáculos era sempre superior a 93%.

O atual presidente do Kennedy Center, Richard Grenell, reagiu aos cancelamentos, que considerou "um boicote", afirmando que esses artistas "foram contratados pela antiga direção de extrema-esquerda".

Numa numa carta citada pelo Washington Post, Grenell disse que "as artes são para todos, e a esquerda está furiosa com isso". Ameaçou ainda Chuck Redd com um processo judicial e o pedido de uma indemnização de um milhão de dólares, pelo cancelamento do concerto de natal.

O presidente John F. Kennedy foi assassinado em 1963, e o Congresso aprovou como lei, no ano seguinte, a criação do Kennedy Center of Performing Arts em sua memória.

A família do presidente Kennedy e a oposição democrata denunciaram a mudança de nome. Kerry Kennedy prometeu remover o nome de Trump do edifício assim que ele deixar o cargo, e o historiador Ray Smock está entre aqueles que dizem que qualquer alteração à designação do centro tem de ser aprovada pelo Congresso.

A lei proíbe explicitamente o conselho de administração do Kennedy Center de o transformar num memorial a qualquer outra pessoa e de adotar outro nome e afixá-lo no exterior do edifício.

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