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Uma semana depois da queda de Assad, sírios tentam voltar à normalidade

Ana Bela Ferreira 15 de dezembro de 2024 às 15:51

As escolas voltaram a reabrir e os cristãos foram à missa neste domingo. Forças rebeles esperam que as sanções impostas por causa do antigo regime caiam para reconstruir a economia.

Uma semana depois da queda do regime da família Assad, os sírios tentam perceber o que lhes reserva o futuro enquanto regressam lentamente à normalidade. Este domingo, os cristãos foram à missa e as escolas reabriram, mas as desconfianças quanto aos rebeldes que tomaram o poder ainda não foram totalmente dissipadas.

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Foto: REUTERS/Ammar Awad
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Os estudantes sírios voltaram à escola depois de o governo de transição ter ordenado a sua reabertura. As entidades oficiais referem que a maioria das escolas reabriu, neste que é o primeiro dia da semana de trabalho, porém, alguns pais ainda estão hesitantes e não mandaram os filhos à escola.

Segundo a Reuters, numa das escolas secundárias masculina da capital Damasco, os alunos juntaram-se e aplaudiram o secretário da escola que hasteou a bandeira adotada pelas novas autoridades do país. "Estou otimista e muito feliz", afirmou o estudante Salah al-Din Diab. "Costumava andar na rua com medo de ser recrutado para o serviço militar. Tinha medo quando encontrava um posto de fiscalização."

A Síria é também conhecida pela sua população multicultural e aí residem alguns dos receios da população, dados os laços islamistas dos grupos rebeldes que agora tomaram o poder. Perante a promessa do novo líder, Ahmad al-Sharaa, conhecido pelo pseudónimo Abu Muhammad al-Julani, de que a Síria seria um lugar para todos, milhares de cristãos foram hoje à missa.

No bairro católico de Bab Touma em Damasco, os crentes foram à Igreja, mas não escondem o medo. "Tínhamos medo e ainda temos medo", disse Maha Barsa, à Reuters. A mulher contou ainda que mal saiu de casa desde que o regime de Assad caiu, embora tenha sublinhado que não aconteceu nada que a fizesse ter mais receio de sair de casa. "As coisas são ambíguas", afirmou.

A Síria é casa de cristãos, arménios, curdos, muçulmanos xiitas, que como muitos muçulmanos sírios viveram com medo nos últimos 13 anos de guerra civil que algum grupo islamita pudesse pôr em risco a sua forma de vida. Na transição de governo, o grupo Hayat Tahrir-al-Sham (HTS), liderado por al-Julani, prometeu que as minorias não estavam em risco.

"Se Deus quiser, vamos regressar às nossas vidas e viver na nossa magnífica Síria", expressou Lia Akhras, secretária da Catedral Ortodoxa Grega de São Jorge, na cidade de Lataquia.

Ao longo desta semana, foi possível perceber uma transição mais suave do que esperado, como refere a Associated Press, com notificações de mortes por vingança e violência entre grupos muito residuais. No sábado, a agência de notícias indicou que nas ruas da capital viu apenas uma carrinha com combatentes, o ambiente da cidade era de um dia normal.

Tanto o regime de Assad como o grupo HTS (classificado como terrorista pelos EUA) estavam sobre sanções internacionais. Enquanto as forças internacionais tentam perceber se os laços do HTS com a al-Qaeda foram realmente cortados, como alegam, espera-se que as sanções possam ser levantadas e recomece a reconstrução do país.

O enviado das Nações Unidas para a Síria, Geir Pedersen, admitiu este domingo, ao chegar a Damasco para se encontrar com o governo de transição, que espera "ver o fim rápido das sanções para que possamos unir-nos na reconstrução da Síria".

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