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Refugiados: mais de 3.000 pessoas morreram ou desapareceram a tentar chegar à Europa

Lusa 29 de abril de 2022 às 13:16

Segundo a ONU o número de vítimas mortais duplicou face ao ano passado. Já o ACNUR garante que é essencial criar novas estratégias de proteção dos refugiados e apelou à doação de cerca de 155 milhões de euros para criar rotas alternativas e evitar que as pessoas se tornem vítimas de traficantes.

Mais de 3.000 pessoas morreram ou desapareceram ao tentar alcançar a Europa através das rotas migratórias do Mediterrâneo e do Atlântico durante 2021, um número que duplicou face ao ano anterior. Os dados foram divulgados pela ONU esta sexta-feira, depois de ter sido noticiado que o diretor da Frontex se tinha demitido na sequência de uma investigação que dava conta de casos de má conduta na agência fronteiriça da União Europeia, em que havia migrantes deixados à deriva no mar.

Reuters

"Deste total, 1.924 pessoas foram dadas como mortas ou desaparecidas nas rotas do Mediterrâneo central e ocidental, enquanto outras 1.153 morreram ou desapareceram na rota marítima do noroeste da África, para as ilhas Canárias", afirmou a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) em Genebra, Shabia Mantoo.

Em 2020, foram registadas 1.544 mortes nas duas rotas. Mantoo dá conta que "desde o início do ano mais 478 pessoas morreram ou desapareceram no mar".

Segundo o ACNUR é preciso uma nova estratégia para a proteção dos refugiados que fazem viagens perigosas ao longo das rotas para a Europa - através do Mediterrâneo central e ocidental e do Atlântico –, pelo que apelou à doação de 163,5 milhões de dólares (cerca de 155 milhões de euros) para criar rotas alternativas e evitar que as pessoas se tornem vítimas de traficantes. O apelo dirige-se a 25 países de quatro regiões diferentes ligadas pelas mesmas rotas terrestres e marítimas que são usadas pelos migrantes, requerentes de asilo e refugiados e incluem países de origem, de partida, de primeiro asilo, de trânsito e países de destino.

"A abordagem exige maior assistência humanitária, apoio e soluções para pessoas que precisam de proteção internacional e para sobreviventes de graves abusos dos direitos humanos", explicou a organização em comunicado.

De acordo com o ACNUR, a pandemia de covid-19 e o consequente encerramento de fronteiras tiveram impacto nos fluxos migratórios, com muitos refugiados e migrantes a recorrerem a traficantes para tentar chegar à Europa. A maioria das travessias marítimas são feitas em barcos insufláveis, geralmente lotados e em más condições, adiantou a agência de refugiados das Nações Unidas no comunicado, acrescentando que muitas dessas embarcações esvaziam-se ou acabam por se virar, provocando a morte de muitos ou todos os passageiros.

"A viagem marítima feita a partir de Estados costeiros da África ocidental, como o Senegal ou a Mauritânia, com destino às ilhas [espanholas] Canárias é perigosa e pode levar até 10 dias. Muitas embarcações se desviam da sua rota e desapareceram sem deixar rasto", lembrou a porta-voz do ACNUR.

De acordo com a agência da ONU, as rotas migratórias terrestres também continuam a ser "altamente perigosas", com a organização a admitir que o número de mortes em travessias feitas através, por exemplo, do deserto do Saara ou por áreas remotas de fronteira poderá ser maior do que o registado nas viagens por mar.

Entre os abusos relatados por pessoas que percorreram essas rotas de migração contam-se execuções extrajudiciais, detenções ilegais e arbitrárias, violência sexual e de género, trabalho forçado, escravatura e casamentos forçados.

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