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O lenço palestiniano e a fatia de melancia...

Sónia Bento 01 de outubro de 2025 às 07:00

... Como símbolo de resistência palestiniana no confronto com Israel, ganham cada vez mais força nos eventos públicos. Nos Globos de Ouro não faltaram.

O apoio à Palestina livre e à crise humanitária em Gaza ficou marcado em pequenos detalhes, nas roupas ou em looks integrais, na XXIX gala dos Globos de Ouro, no Coliseu de Lisboa. O lenço tradicional palestiniano, conhecido como kufiya ou keffiyeh, foi um dos símbolos mais usados para passar a mensagem política. A peça de padrão axadrezado, em preto e branco, que se coloca normalmente na cabeça ou à volta do pescoço, representa uma espécie de bandeira não oficial pela luta e esperança pela Palestina.
Apoio à Palestina: lenço kufiya e melancia como símbolos de resistência
A atriz Mafalda Luís de Castro não passou despercebida ao surgir na passadeira vermelha com um vestido feito com vários kufiya, comprados numa loja palestiniana. Joana Santos, que venceu o prémio de Melhor Atriz de Cinema, com o filme On Falling, levou um crachá a apelar à paz, no decote cai-cai de um vestido preto, e aproveitou o momento em que subiu ao palco para pedir o fim do genocídio em Gaza: “O que está a acontecer é uma tragédia humanitária que não pode ser normalizada. Não podemos virar a cara à morte de milhares de inocentes, à destruição de um povo inteiro. Acredito que a arte tem que ser também resistência. Este prémio é meu, mas a minha voz hoje é também para quem luta apenas pelo direito de viver.”

Kufyia nas passarelas

O ator Diogo Lopes também aderiu ao ativismo, com um kufiya ao pescoço, a combinar com um clássico fato clássico. Já Jorge Corrula e Paula Lobo Antunes mostraram na passadeira vermelha os brincos em forma de fatia de melancia, que nas redes sociais representa a resistência palestiniana no confronto com Israel. O ator subiu ao palco para anunciar a vencedora da categoria de moda, ao lado da atriz brasileira Vanessa Giácomo – com quem contracena na nova novela da SIC, Vitória – também fez questão de lembrar o conflito no Médio Oriente. “A moda é também uma forma de comunicação e eu não podia deixar de usar isto”, disse Jorge Corrula, enquanto colocava um lenço palestiniano ao pescoço.
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O kufiya começou por ser usado por camponeses e há duas décadas não parecia ser mais do que um acessório de estilo. Em 2007, a revista W qualificou o lenço – que apareceu na coleção de outono do estilista francês Nicolas Ghesquière para a Balenciaga – como um dos “dez melhores acessórios do ano”. Nessa época, foi usado em várias cores por celebridades como Madonna, Kristen Dunst, Cameron Diaz, Colin Farrell, David Beckham ou Mary-Kate Olsen. Mas a partir de 7 de outubro de 2023, com o início do conflito entre Israel e a Palestina, voltou a ter uma carga política e a ganhar protagonismo nas redes sociais e nas ruas como símbolo de resistência. O lenço tradicional – usado na Jordânia, Palestina, Iraque, Síria, Líbano ou Turquia – uma “bandeira” não oficial para quem apoia a Palestina livre. Feito em algodão ou linho, com padrão geométrico e franjas, o kufiya era usado para proteger a cabeça do frio ou do sol e da poeira do deserto. A sua ascensão a símbolo político deu-se em 1936 quando os palestinianos protagonizaram a grande revolta árabe contra a Grã Bretanha.

A única fábrica de lenços 

Mais tarde, em 1974, Yasser Arafat, o icónico líder do movimento nacional palestiniano, surgiu nas Nações Unidas com um kufiya na cabeça e passou usá-la em eventos oficiais. Hoje, a maior parte dos lenços vendidos no mundo e, até na Palestina, são produzidos na China. Apenas uma única fábrica, em Hebron, na Cisjordânia, continua a fazer os lenços artesanais desde 1961. Pertence à família Hirbawi, tem 15 teares, 20 trabalhadores e produz seis mil peças por mês, que exporta para todo o mundo. A fatia de melancia também se tornou um poderoso símbolo da causa palestiniana, utilizada em cartazes, roupa e outras formas de arte, e exibida em protestos pró-palestinos. Vermelho, verde, preto e branco são as cores da melancia, mas também da bandeira da Palestina. Após a guerra de 1967, quando Israel assumiu o controlo de Gaza e da Cisjordânia, o transporte de símbolos nacionais, como a bandeira palestiniana, foram proibidos nos territórios ocupados. Assim, os palestinianos começaram a usar as fatias de melancia como forma de protesto. Desde então, muitos artistas usam a melancia nas suas obras, em solidariedade ao povo da Palestina. Em janeiro, quando o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben Gvir, ordenou que a polícia retirasse as bandeiras palestinianas dos espaços públicos e afirmou que hasteá-las era um ato “de apoio ao terrorismo”, imagens de melancias surgiram nas marchas de oposição a Israel.
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