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Milhares de trabalhadores das tecnológicas russas assinam petição contra guerra

Marco Alves 27 de fevereiro de 2022 às 17:59

Setor é fundamental para a economia russa. Quase 15 mil pessoas, alguns das mais importantes empresas, subscreveram texto contra a decisão do governo de invadir Ucrânia. Google, Facebook, YouTube e Twitter "entraram" também na guerra contra Putin.

A carta aberta contra a guerra na Ucrânia criada por Natalya Lukyanchikova, que trabalha numa empresa tecnológica russa, já recebeu quase 15 mil assinaturas, à hora a que este artigo está a ser feito. A estarem corretos os nomes e os cargos, a lista mostra que há milhares de trabalhadores de tecnologias de informação russos, incluindo engenheiros de sistemas, programadores e engenheiros de software, que estão contra a ofensiva militar do governo na Ucrânia.

Segundo o Washington Post, que dá conta deste abaixo-assinado, entre os subscritores há trabalhadores "das mais proeminentes empresas tecnológicas russas, incluindo a gigante rede social VK, a líder de ciber-segurança Kaspersky e a plataforma de recrutamento online HeadHunter."

A petição está escrita em russo sob a forma de "Carta aberta de representantes da indústria russa de TI [Tecnologias de Informação] contra a operação militar no território da Ucrânia".

Diz o texto: "Nós, os trabalhadores da indústria russa de TI, somos categoricamente contra as ações militares no território da Ucrânia iniciadas pelas forças armadas da Federação Russa. Consideramos injustificada qualquer demonstração de força que leve à eclosão de uma guerra e pedimos a reversão de decisões que inevitavelmente acarretam baixas humanas de cada lado. Os nossos países sempre foram próximos. E hoje estamos preocupados com os nossos colegas, amigos e parentes ucranianos. Estamos preocupados e moralmente oprimidos pelo que está a acontecer nas cidades da Ucrânia."

O abaixo-assinado diz ainda a Rússia deve ser associada, "não à guerra, mas à paz e ao progresso", e fala ainda em "condições de cooperação, diversidade de pontos de vista, troca de informações e diálogo aberto." Termina pedindo ao governo que encontre uma solução para evitar mais derramamento de sangue.

É mais um sinal de que Vladimir Putin está praticamente isolado internacionalnente, como internamente o país paracee estar dividido, como o demonstram também as contínuas manifestações em cidades russas nos últimos dias, de que têm resultado milhares de detenções. Hoje mesmo esse cenário está a decorrer em Moscovo.

Segundo o Washington Post, o setor das TI emprega 1,3 milhões de pessoas na Rússia. O setor é, aliás, historicamente um ativo fundamental da economia russa. "Milhares de engenheiros nascidos na Rússia contribuíram para o setor tecnológico americano, incluindo o co-fundador do Google Sergey Brin", escreve o jornal.

O setor deverá ser um dos mais afetados pelo anúncio de Joe Biden, presidente dos EUA, de sanções às empresas russas, especificamente a proibição de importação de bens tecnológicos, como semicondutores, produtos de telecomunicações e de segurança.

Por sua vez, os gigantes americanos tomaram algumas iniciativas nas últimas 48 horas. O Facebook, a Google, o YouTube e o Twitter estão a bloquear meios noticiosos controlados pelo governo russo (o caso mais conhecido é o canal Russia Today) de terem anúncios nas suas plataformas, impedindo-os assim de obterem qualquer receita por essa via, no que pode constituir um severo estrangulamento financeiro a médio prazo. 

Este domingo, a União Europeia também baniu o canal estatal Russia Today e a agência noticiosa Sputnik dos estados-membros. 

O conflito na Ucrânia agonizou uma relação que já era tensa entre estas plataformas e o governo de Putin, que chegou a acusar aquelas de censura, conforme informa a NPR. Em causa, "o Zvezda, um canal de televisão gerido pelo ministro da defesa russo, a agência de notícias estatal RIA Novosti e dois novos sites, Lenta.ru and Gazeta.ru."

O regular russo diz que a atuação do Facebook é "uma violação da lei e dos direitos humanos" e limitou a rede social no país. 
O início da guerra levou à criação de task forces nestas plataformas para controlar a utilização das redes sociais pelo governo russo. 

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