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Israel nega "subnutrição generalizada" em Gaza

Lusa 12 de agosto de 2025 às 16:56

Já o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo grupo islamita palestiniano Hamas, contabiliza 227 mortes por fome até à data, das quais 103 eram crianças

Israel negou esta terça-feira "qualquer sinal de subnutrição generalizada" na Faixa de Gaza, segundo um relatório de uma agência do Ministério da Defesa israelita, apesar dos avisos da ONU e de novas mortes anunciadas.
Homem dá água a criança em Gaza, numa situação de possível subnutrição AP Photo/Jehad Alshrafi
A agência de coordenação das atividades nos territórios ocupados na Palestina (Cogat) afirmou no seu relatório que realizou uma "análise completa" dos dados e números das autoridades locais da Faixa de Gaza sobre as mortes por subnutrição no território palestiniano. No total, o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo grupo islamita palestiniano Hamas, contabiliza 227 mortes por fome até à data, das quais 103 eram crianças, segundo um comunicado hoje divulgado, que inclui cinco novos casos, entre os quais dois menores. O Cogat observa "uma discrepância significativa" entre estes números e "casos documentados, com detalhes completos de identificação" nos meios de comunicação social e nas redes sociais, o que "levanta dúvidas sobre a sua credibilidade". A agência israelita alega que a análise caso a caso das mortes divulgadas mostra que a maioria dizia respeito a “condições médicas preexistentes, que levaram à deterioração da sua saúde, sem relação com o seu estado nutricional", e são vistos como casos extremos que “não representam a condição da população em geral da Faixa de Gaza". O Cogat refere não há "qualquer sinal de subnutrição generalizada" entre os habitantes de Gaza, criticando "a exploração cínica de imagens trágicas" por parte do Hamas. Num comunicado hoje divulgado, o governo do território emitiu uma longa "refutação das mentiras do Cogat", como uma "tentativa desesperada e fútil de encobrir um crime documentado internacionalmente: a fome sistemática”. Desde o início da guerra no território, há 22 meses, Israel cercou mais de dois milhões de palestinianos na região, que ficaram submetidos a um bloqueio humanitário total no início de março, posteriormente aliviado em maio e novamente no final de julho, face às críticas internacionais. O território palestiniano, totalmente dependente de ajuda humanitária, está ameaçado por uma "fome generalizada", segundo a ONU, que pediu a entrada de ajuda urgente face a uma “catástrofe inimaginável”. De acordo com os últimos dados divulgados hoje pela Organização Mundial de Saúde (OMS), 148 pessoas morreram de desnutrição desde janeiro, e quase 12 mil crianças com menos de 05 anos foram identificadas como vítimas de desnutrição aguda em julho, o número mensal mais elevado registado até à data. O Programa Alimentar Mundial (PAM) calcula que "mais de um terço da população não se alimenta durante vários dias seguidos" e aponta para um "aumento da subnutrição aguda", com "mais de 300 mil crianças em risco grave". A agência France-Presse (AFP) relata que todos os dias os seus correspondentes “testemunham cenas caóticas durante as distribuições de ajuda, sejam elas chegadas de camião ou lançadas do ar”. Para Jean-Guy Vataux, chefe da missão da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) nos Territórios Palestinianos, entrevistado hoje pela AFP, "a subnutrição em Gaza é uma realidade, está a progredir rapidamente e afeta toda a população", incluindo a classe média. No bloqueio que impôs ao território, Israel impediu as organizações internacionais de distribuírem ajuda à população, que tem sido feita exclusivamente desde maio pela Fundação Humanitária de Gaza, criada com apoio das autoridades de Telavive e Washington, e associada a numerosos relatos de violência nos seus centros logísticos. O conflito foi desencadeado pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde perto de 1.200 pessoas morreram e cerca de 250 foram feitas reféns. Em retaliação, Israel lançou uma vasta operação militar no território, que já provocou mais de 61 mil mortos, segundo as autoridades locais, a destruição de quase todas as infraestruturas do enclave e a deslocação de centenas de milhares de pessoas.
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