Marido que aliciou outros a violar a mulher tinha fotos da filha e das cunhadas nuas

O julgamento de Dominique Pélicot, o homem de 71 anos acusado de drogar a própria mulher para que fosse violada por dezenas de homens ao longo de uma década, está a decorrer. Na última sessão a filha do casal, Caroline Darian (pseudónimo literário) teve que abandonar a sala de audiências por ter sido dominada pelas emoções. Saiu ao lado dos dois irmãos, e voltou 20 minutos depois.

As sessões estão a decorrer num tribunal em Avignon, França. Numa entrevista dada há dois anos ao canal televisivo TF1, quando publicou o livro Et J’ai Cesse de T’appeler Papa (que significa E Deixei de te Chamar Pai), Caroline Darian relatou terem sido encontradas "duas fotografias minhas onde deveria estar a dormir (…), vestida com cuecas que não me pertencem e vemos as minhas nádegas em grande plano". "Para mim, não há dúvida de que fui drogada", afirmou.

Foi a menção às fotografias durante o julgamento que causou a saída de Caroline. O juiz Roger Arata leu os principais achados da investigação, que incluem a descoberta de montagens fotográficas nuas de Caroline Darian no computador de Pélicot, num ficheiro com o nome "À volta da minha filha, nua". Esta revelação levou Caroline a colapsar em pranto na sala de audiências.

Em 2022, a filha de Dominique Pélicot detalhou o choque que sentiu quando os crimes do pai foram descobertos em 2020. "É incrivelmente violento, e rapidamente percebi que não conheço o homem que me criou. E isso é ensurdecedor." Foram também encontradas no computador do pai fotografias das esposas dos seus irmãos "em momentos de privacidade, enquanto se vestiam em casa, incluindo na casa da família".

O caso de Dominique Pélicot foi descoberto de forma quase acidental em setembro de 2020 após a sua detenção num supermercado em Carpentras, França, por filmar debaixo das saias de uma mulher. Na altura, estava na posse de preservativos e de uma câmara, o que levantou suspeitas. Durante a investigação, a polícia descobriu milhares de fotos e vídeos da sua esposa, Gisèle Pélicot, em que ela aparece inconsciente, muitas vezes na posição fetal, sendo abusada por homens desconhecidos na casa da família em Mazan, perto de Avignon.

A investigação revelou que Dominique Pélicot usava um fórum online chamado" Sem ela saber" em que aliciava homens para participar nos abusos. O fórum fazia parte de um site controverso, Coco, encerrado pelas autoridades judiciais em junho deste ano. De acordo com as autoridades, Pélicot chegou a encomendar 450 comprimidos sedativos num só ano com o objetivo de manter a sua esposa inconsciente durante os abusos.

No total, 72 pessoas foram identificadas em ligação com este caso, mas apenas 50 foram localizadas e estão a ser julgadas. 18 dos acusados incluindo Dominique Pélicot foram detidos, enquanto os restantes ficaram em liberdade. Um dos acusados está a ser julgado à revelia. Caso sejam condenados, todos enfrentam penas que podem chegar a 20 anos de prisão por violação agravada.

As gravações recolhidas nas buscas são evidências cruciais para a acusação, que visa provar a extensão e a gravidade dos crimes cometidos por Pélicot e pelos outros acusados.

Gisèle Pélicot, a esposa de Dominique, tem assistido ao julgamento. Os seus advogados explicaram que estava tão fortemente sedada durante os abusos que não tinha consciência do que se passava. Nas audiências, senta-se diretamente à frente do marido. Pediu que as mesmas fossem públicas para que o caso fosse conhecido.

Na entrevista dada em 2022, Caroline explicou que "os investigadores, e especialmente a perícia psiquiátrica que será realizada, irão demonstrar que ele tinha uma inclinação para o voyeurismo e os seus impulsos sexuais se intensificaram nos últimos anos". "Espero que o meu pai seja julgado pelos crimes que cometeu. Que ele mostre honestidade intelectual comigo, com as minhas cunhadas e com a minha mãe", frisou. Dominique Pélicot pode ser condenado a 20 anos de prisão.