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Gronelândia esconde problema radioativo criado pelos EUA

Gabriela Ângelo 20 de janeiro de 2025 às 16:19

As alterações climáticas poderão desvendar resíduos perigosos que o exército americano abandonou e que acreditava estarem enterrados para sempre pela neve e gelo ártico.

Em 1967, os militares norte-americanos abandonaram uma base construída em 1959 na Gronelândia. Porém, em Camp Century - nome da mesma - deixaram para trás mais que túneis e camaratas: também lá ficou muito lixo, incluindo resíduos radioativos, que podem chegar ao meio ambiente devido às alterações climáticas. Uma eventualidade que os EUA não tinham previsto na altura. 

gronelandia Chris Szagola/AP

Segundo o site Politico, Camp Century foi construída debaixo do gelo a cerca de 1.500 quilómetros da capital da Gronelândia, Nuuk, num dos pontos mais remotos do território. A energia era gerada a partir de um reactor nuclear e chegaram a ser pensados planos de expansão para que a base albergasse 600 mísseis balísticos. Tinha espaço para 200 soldados. 

O propósito oficial da base era para investigação científica mas com o avançar da Guerra Fria, tornou-se um local eventualmente útil para testar o lançamento de mísseis nucleares, caso ocorresse um ataque russo.

Quando foi desativada em 1967, a sua infraestrutura e os resíduos nucleares foram abandonados, partindo do princípio que estariam cobertos por neve e gelo para sempre. Mas entretanto, chegaram as alterações climáticas. 

Segundo um estudo publicado na Geophysical Research Letters em 2016, o manto de gelo que cobre o Camp Century poderá começar a derreter no fim do século XXI ou talvez antes. À medida que o planeta vai aquecendo, as infraestruturas, assim como quaisquer resíduos biológicos, químicos e radioativos que se encontram dentro da base subterrânea, voltarão a entrar no ambiente e poderão perturbar ecossistemas e a saúde humana. 

Na altura da sua publicação, o estudo criou alguma preocupação dentro da Gronelândia, de tal modo que o Ministro dos Negócios Estrangeiros da ilha, Vittus Qujaukitsoq, exigiu que a Dinamarca assumisse a responsabilidade de limpar os resíduos deixados pelos EUA nas cerca de 30 bases militares que abandonaram. 

Em 2017, Copenhaga e Nuuk assinaram um acordo que previa um investimento de 30 milhões de dólares para esta limpeza. Contudo, o Camp Century não estava incluído no acordo. Se não forem tomadas medidas para remediar a situação da base, os materiais poluentes poderão ser transportados para o oceano à medida que o gelo derrete.

De acordo com o estudo, assim que tal ocorrer, estes químicos poderão perturbar aquíferos e ecossistemas marinhos e acumular-se nas cadeias alimentares, podendo chegar à alimentação humana. O local contém um volume desconhecido de líquido de refrigeração radioativo proveniente do gerador nuclear. 

Se os Estados Unidos viessem a reivindicar a ilha, como Trump tem vindo a ameaçar, seriam herdeiros da sua própria atividade poluidora durante a época da Guerra Fria. 

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