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Começou julgamento de dez arguidos por assédio virtual a Brigitte Macron

Tiago Neto 27 de outubro de 2025 às 19:07

Os arguidos enfrentam penas até dois anos de prisão por terem difundido teorias conspirativas e mensagens difamatórias nas redes sociais sobre a primeira-dama francesa.

Começou esta segunda-feira, 27 de outubro, o julgamento de dez pessoas acusadas de assédio virtual sexista e transfóbico contra a primeira-dama francesa, Brigitte Macron. Os arguidos – oito homens e duas mulheres, com idades entre os 41 e os 60 anos – são acusados de terem publicado e partilhado mensagens consideradas difamatórias e sexistas nas redes sociais, bem como de terem difundido uma teoria conspirativa sobre o género e a sexualidade da esposa do presidente francês.
Julgamento por assédio digital a Brigitte Macron começa em Paris AP Photo/Michel Euler
De acordo com a Agence France-Presse e a Reuters, o grupo é acusado de “assédio moral online” e de “difusão de comentários maliciosos”, crimes puníveis em França com até dois anos de prisão e multas que podem chegar aos 45 mil euros. Entre os dez arguidos estão professores, especialistas em informática e deputados, bem como uma mulher, Delphine J., 51 anos, que se apresentava como médium sob o pseudónimo de Amandine Roy. A origem do caso remonta a 2017 quando, após a eleição de Emmanuel Macron, começaram a circular nas redes sociais publicações que alegavam que Brigitte Macron, de 72 anos, teria nascido homem, que se chamava Jean-Michel Trogneux – nome do irmão da primeira-dama – e que mais tarde teria assumido a identidade de Brigitte. A teoria foi desmentida por múltiplas fontes oficiais e pelo próprio casal Macron, mas continuou a ser amplificada por páginas e influenciadores. As duas das principais figuras associadas à difusão dessa teoria, a autoproclamada jornalista Natacha Rey e a médium Amandine Roy, já tinham sido condenadas por difamação em 2024, mas acabaram absolvidas em recurso. O Ministério Público francês voltou agora a acusá-las, juntamente com os outros oito suspeitos, sustentando que houve “um padrão continuado de assédio” através de vídeos e publicações nas redes. Segundo a Associated Press, o julgamento decorre durante dois dias no tribunal criminal de Paris e é visto pelas autoridades francesas como um caso exemplar no combate ao assédio digital e à desinformação. O processo decorre em paralelo com outra ação judicial movida nos Estados Unidos por Brigitte e Emmanuel Macron contra a influenciadora norte-americana de extrema-direita Candace Owens que, segundo a BBC, continuou a divulgar a mesma teoria conspirativa, mesmo depois de desmentida. Em declarações ao podcast Fame Under Fire, da BBC, Tom Clare, o advogado do casal, afirmou que Brigitte Macron ficou “profundamente abalada” pelas alegações, descrevendo-as como uma “distração” para o presidente francês. O diário francês Le Monde nota que este julgamento poderá criar um precedente jurídico importante, testando a eficácia das leis francesas contra o assédio online e a desinformação, num contexto de crescente preocupação com a propagação de discursos de ódio nas plataformas digitais. Recorde-se que Delphine Jegousse e Natacha Rey afirmaram, num vídeo publicado em dezembro de 2021, que Brigitte Macron era uma mulher transgénero que teria nascido homem, com o nome original de Jean-Michel Trogneu, irmão da primeira-dama francesa. Foi apresentada uma queixa-crime e, em setembro de 2024, o Tribunal Judicial de Paris considerou ambas as mulheres culpadas de difamação. Foram condenadas ao pagamento de uma multa e obrigadas a indemnizar Brigitte Macron em 8 mil euros e o irmão desta em 5 mil euros. Em julho de 2025, o Tribunal de Recurso de Paris considerou que as alegações sobre o género e a eventual transição foram feitas “de boa-fé” e, por isso, não constituíam difamação, tendo em conta a importância da liberdade de expressão numa sociedade democrática, segundo documentos judiciais. O tribunal revogou as condenações das duas mulheres e absolveu-as de todas as acusações.
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