Secções
Entrar

"O Refúgio Atómico", a nova série dos criadores de "La Casa de Papel", estreia esta sexta

A nova série espanhola da Netflix convida a uma viagem claustrofóbica a um bunker onde privilégio, rutura emocional e poder se confrontam no fim do mundo.

Tiago Neto 18 de setembro de 2025 às 16:59
Série "O Refúgio Atómico" na Netflix explora luxo e fragilidades em bunker pós-apocalíptico Tamara Arranz/Netflix
O que restará de nós quando tudo à superfície se desmoronar? Com a situação política e bélica num ponto de instabilidade que nos remete a décadas passadas, e cenários distópicos como quotidiano, histórias de um refúgio como terra prometida parecem ecoar . O Refúgio Atómico é uma dessas histórias, narrativa que não parte apenas da catástrofe, mas da ilusão de que o luxo pode isolar o medo e comprar a sobrevivência. Criada por Álex Pina e Esther Martínez Lobato para a Netflix, com os oito episódios a estrear esta sexta-feira, 19 de setembro, conduz-nos para o interior de um bunker subterrâneo onde os mais privilegiados se escondem da ruína global, numa bolha perfeita que depressa se transforma em espelho de todas as suas fragilidades. Dentro deste bunker de luxo, onde somos convidados a entrar quando Max (Pau Simón) é levado pelo pai (Carlos Santos), para o refúgio, os privilegiados desfrutam de um universo paralelo e artificial. Instalações de spa, ginásios, restaurantes de autor, áreas de realidade virtual, restaurantes, bibliotecas com edições raras, jardins zen climatizados, um espaço de lazer onde tudo está desenhado para adiar a realidade que se desmorona lá fora. Essa perfeição programada, contudo, torna-se cada vez mais frágil. Velhas rivalidades familiares emergem, tensões psicológicas acumulam-se, segredos reprimidos ameaçam explodir. A convivência forçada transforma-se num campo de batalha emocional, e cada corredor silencioso, cada suíte insonorizada e luxuosa revela fissuras.
Num bunker de luxo, privilégios não protegem de demónios internos Carla Oset/Netflix
No elenco principal estão Miren Ibarguren, Joaquín Furriel e Natalia Verbeke, acompanhados por Carlos Santos, Montse Guallar, Pau Simón, Alícia Falcó, Agustina Bisio e Álex Villazán. São personagens multimilionárias de duas famílias cujos privilégios não os protegem ou salvam dos seus próprios demónios, numa altura em que a Terceira Guerra Mundial está prestes a começar. A construção do universo visual é uma das apostas mais visíveis de O Refúgio Atómico, série que partilha o cunho criativo com a bem-sucedida La Casa de Papel. O set principal do bunker, com centenas de metros quadrados de plateus instalados em Colmenar Viejo (Madrid), projeta uma escala assinalável: mais de 8.000 metros quadrados de ambientes decorados, espaços onde a estética dos anos 50, o minimalismo elegante e o design Bauhaus convivem com equipamentos de última geração. Dir-se-ia que a fórmula Fallout a poderá ter inspirado. Narrativamente, o argumento de O Refúgio Atómico retém semelhanças com outras obras já assinadas por Pina e Martínez Lobato (Vis a Vis, Sky Rojo) explorando a tensão entre personagens, aplicando a fórmula de segredos guardados, segundas identidades e alianças frágeis. O que diferencia esta produção é a simbiose de thriller psicológico com elementos de ficção científica distópica. Não se trata apenas de quem trai quem, mas de como a pressão do confinamento e a possibilidade constante de desastre externo moldam personalidades. A crítica, tanto em escala de produção como em conceito, mas assinala também pontos fracos. Concretamente, há dedos apontados à sobrecarga dramática, diálogos por vezes excessivos, mudanças de tom abruptas, personagens que se inclinam para o estereótipo ou tramas secundárias que se alongam demasiado em detrimento do ritmo. A publicação espanhola Espinof, por exemplo, refere que embora o acabamento técnico e o ambiente funcionem, a série perde-se, por vezes, ao não explorar a psicologia dos personagens ou ao simplificar certas nuances, classificando-a como tendo ". Será?
Não deixa de ser curiosa, contudo, a forma como O Refúgio Atómico dialoga com o presente. Um projeto de paralelismos com as tensões contemporâneas, que vão da mudança climática à incerteza geopolítica, às construções de bunkers na vida real, às desigualdades sociais aprofundadas e aos medos latentes de um colapso ecológico ou político. O timing apanha o espectador pouco disposto a desligar-se da realidade e, subitamente, este refúgio subterrâneo de luxo parece menos futurista e mais palpável. O Refúgio Atómico convida, portanto, à reflexão sobre a noção de privilégio e isolamento, conjuga suspense e drama e propõe uma janela para uma realidade que é - ainda - incomum na Europa, mas que já vai povoando a ficção, a da construção de refúgios e bunkers pessoais para os super-ricos.
Artigos Relacionados
Receba o seu guia para sair
todas as semanas no seu e-mail
Subscreva a Newsletter GPS e seja o primeiro a saber as melhores sugestões de fim-de-semana. Subscreva Já