Resultados eleitorais levaram o presidente francês a marcar eleições legislativas, mas na Alemanha, apesar da derrota, Scholz não mexe no calendário eleitoral. Negociações para a reeleição de Ursula von der Leyen devem começar em breve.
O desprestígio e esgotamento da liderança dos dois principais países da União Europeia é patente na derrota infligida pela extrema-direita a Emmanuel Macron e no fracasso eleitoral da coligação de Olaf Scholz.
REUTERS/Piroschka van de Wouw
Na Alemanha, onde a oposição conservadora venceu com 30%, aumentando em 1% a votação em relação às europeias de 2019, e a extrema-direita subiu de 11% para 17%, os três partidos da coligação governamental pouco melhor conseguiram do que aproximar-se dos resultados da CDU/CSU. Os social-democratas tiveram o seu pior resultado de sempre com 14%, caindo 2%, os Verdes 12%, uma queda de 9%, e os liberais do FDP 5%, menos 0,3% do que em 2019.
A viabilidade da coligação até ao outono de 2025 foi posta em causa e o próximo teste terá lugar em setembro com as eleições nos estados de Brandemburgo, governado por social-democratas, democratas-cristãos e Verdes, e Saxónia onde o executivo liderado pela CDU integra os Verdes e o SPD.
Macron aposta tudo na votação por maioria simples em duas voltas para a Assembleia Nacional e num aumento da participação eleitoral – 52%, a mais alta desde os 53% de 1994 – para mitigar a humilhação que a Convergência Nacional lhe infligiu ao obter 32% no escrutínio de domingo contra apenas 15% do seu partido Renascimento. O presidente parte para as legislativas antecipadas de 30 deste mês e 7 de julho, em que Marine Le Pen apresenta o vencedor das europeias Jordan Bardella como candidato a primeiro-ministro, com o lastro de votações à esquerda em que os socialistas conseguiram 14% e a extrema-esquerda da França Insubmissa 10%.
Giorgia Meloni confirmou a liderança política dos Irmãos de Itália no terceiro maior país da União Europeia, triunfando com 28%, após ter tido 26% nas legislativas de setembro de 2022, mas a participação eleitoral foi a mais baixa de sempre, cifrando-se em 49,69%. Antonio Tajani à frente da Força Itália conseguiu 10%, passado um ano sobre a morte de Silvio Berlusconi, e outro aliado de Meloni, a Liga de Matteo Salvini, 9%. Na oposição, a líder do Partido Democrático Elly Schlein teve 24%, o Movimento Cinco Estrelas 10% e a Aliança Verdes e Esquerda 7%.
O Partido Popular ganhou com 34% em Espanha, o quarto mais país da União Europeia, aumentado a votação em relação a 2019, 20%, e elege 22 eurodeputados, mais 9 do que na IX legislatura, enquanto o PSOE, 30%, perde um mandato ficando com 20. O termo de comparação político é, contudo, o resultado das legislativas de julho de 2023 em que o PP teve 33% e 8.160.837 votos contra os 32% do PSOE, 7.821.718 votos, e os 12% de VOX, 3.057.000 de eleitores. Com 10%, a extrema-direita VOX elege 6 eurodeputados numas eleições em que a participação foi de 49% contra 60% há cinco anos e 67% na votação para as Cortes do último verão.
No quinto maior estado da União Europeia, a Polónia, a Coligação Cívica de Donald Tusk, seis meses depois de chegar ao governo, conseguiu superar os conservadores da Lei e Justiça por 37% contra 36%, mas viu a Confederação de extrema-direita subir de 5% para 12%, com forte apoio do eleitorado entre 18 e 29 anos. Entre os aliados de Tusk, os democratas-cristãos da Terceira Via obtiveram 7% e outro partido da coligação governamental, a Esquerda, 6%.
Na Áustria, a extrema-direita de Herbert Kickl venceu pela primeira vez uma eleição nacional. O Partido da Liberdade chegou aos 26%, batendo os conservadores do primeiro-ministro Karl Nehammer, 25%, os social-democratas, 23%, e os Verdes, 11%.
Na Suécia, Finlândia, Dinamarca, Países Baixos e Portugal a direita radical e extrema-direita ficaram aquém das expectativas, mas, o aumento da votação na Bélgica do Vlaams Belang e da direita nacionalista flamenga foi crucial para a demissão do primeiro-ministro liberal Alexander De Croo.
Partidos de extrema-direita e direita radical lideram os executivos da Itália, Hungria e Eslováquia, integram coligações governamentais na Suécia e Finlândia e dentro em breve nos Países Baixos.
O Partido Popular Europeu (enquadra o PSD e CDS) de acordo com as últimas projeções do Parlamento Europeu continua com o maior número de eurodeputados, 185 (+8 do que em 2019), contra 137 (sem alteração) para os Socialistas e Democratas (inclui o PS).
Os liberais de Renascer – 79 mandatos, menos 23 do que em 2019 – e os Verdes – 52 deputados, perdem 19 lugares – são os maiores derrotados –, enquanto a extrema-direita e direita radical congregadas nos grupos Conservadores e Reformistas, 73 (+4), e Identidade e Democracia, que incluirá o Chega, 58 (+9), aumentam a sua representação, perdendo a Esquerda um lugar, ficando com 36 eurodeputados.
Entre os 270 eurodeputados contam-se de momento uma centena de independentes.
A eleição de presidente da Comissão Europeia, por voto secreto, obriga a 361 votos e, em 2019, Ursula von der Leyen conseguiu apenas mais 9 votos do que os necessários.
Na nova relação de forças parlamentar e política, a eventual revisão da estratégia de agricultura verde e da regulamentação de migrações e imigração ilegal que a presidente alemã tem vindo a defender serão dois dos fatores principais de negociação de apoios no Parlamento Europeu.
A indicação pelo Conselho Europeu, onde têm lugar 13 chefes de governo do Partido Popular Europeu, de candidato/a à eleição de presidente da Comissão Europeia pelo Parlamento Europeu, implica uma maioria classificada de 15 dos 27 estados, representando 65% dos 448,8 milhões de habitantes recenseados pelo Eurostat.
As negociações a terem lugar este mês sobre a indicação de Ursula von der Leyen, candidata oficial do PPE à nomeação para presidente da Comissão Europeia, implicarão acordos sobre a repartição dos principais cargos nas instituições comunitárias, incluindo a presidência do Conselho Europeu para a qual estão em campanha não-oficial a atual primeira-ministra da Dinamarca, a social-democrata, Mette Frederiksen, e António Costa.
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