O plano de viabilização da Trust in News, que tem 16 órgãos de comunicação social, não foi aprovado pelos credores, entre os quais o Fisco e a Segurança Social – que têm mais de 17 milhões de euros a haver –, abrindo o caminho para a insolvência da empresa.
O plano de recuperação da Trust in News (TIN), grupo que detém dezena e meia de títulos, entre os quais a Visão, a Exame e o Jornal de Letras, foi chumbado por cerca de 68% dos votos dos detentores dos créditos reconhecidos, os quais totalizam aproximadamente 33 milhões de euros.
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Apresentado em sede de Processo Especial de Revitalização (PER), o plano de recuperação da empresa de Luís Delgado necessitava obrigatoriamente do voto positivo do Estado para ser aprovado, porquanto as dívidas à Segurança Social (nove milhões de euros) e ao Fisco (8,1 milhões de euros) somam mais de metade (52%) dos créditos reconhecidos.
Mas o Fisco e a Segurança Social votaram contra, assim como outros grandes credores, como o Novo Banco (3,6 milhões de euros), CTT (dois milhões de euros) e o grupo Perfil Inversora (618 mil euros).
A favor, o plano contou com os votos de credores como o BCP (717 mil euros), a Vodafone (582 mil euros) e a Impresa (4,4 milhões de euros), a dona da SIC e do Expresso, à qual a empresa unipessoal de Luís Delgado – com um capital social de apenas 10 mil euros – adquiriu as publicações, há meia dúzia de anos, por 10,2 milhões de euros.
"Tudo foi sendo feito, todos os meses, para não atrasar muito" pagamentos ao Estado e trabalhadores
Entretanto, a administração TIN informou os seus trabalhadores esta terça-feira, 5 de novembro, de que o plano de recuperação "não vai ser aprovado".
Em comunicado enviado aos trabalhadores, a que o Expresso teve acesso, a administração liderada por Luís Delgado afirma que "o tempo e as condições necessárias não se reuniram para se conseguir manter em dia todas as contribuições mensais para o Estado, desde 29 de maio de 2024, e os ordenados e subsídios de todos os colaboradores".
"Tudo foi sendo feito, todos os meses, para não atrasar muito cada uma das rubricas, mas a realidade é que não foi possível ter tudo em ordem, como bem sabem", escreve a administração, afiançando que "a reestruturação interna está a mostrar-se correta e adequada, mas o tempo que leva a produzir efeitos é mais lento do que a queda de receitas da TIN".
Sobre o futuro da TIN, afirma: "Estamos a analisar com os nossos consultores para decidir que medidas devem ser tomadas para a viabilização da empresa, que se mantém a operar normalmente. Disso daremos conta a todos, o mais depressa possível.
Chumbado o PER, está aberto o caminho da TIN para a insolvência.
O plano de recuperação chumbado limitava-se a propor a dilatação do pagamento da dívida, grosso modo, pelos próximos 15 anos, com dois anos de carência, deixando a liquidação de quase metade (45%) para o último mês.
No caso das dívidas ao Estado, porque assim era obrigado a propor, a empresa comprometia-se a pagar em 150 prestações mensais, ou seja, ao longo dos próximos 12 anos e meio, e aos trabalhadores os salários e subsídios em atraso de 488 mil euros em 12 meses.
Marcas oneradas a favor do Fisco e Segurança Social
Não sendo proprietária de quaisquer bens móveis ou imóveis, a Trust in News é apenas detentora de ativos intangíveis corporizados pelas suas marcas, cujas mais relevantes, como a própria empresa admite, "encontram-se oneradas a favor da Autoridade Tributária e Aduaneira, Segurança Social e Novo Banco".
Insígnias como a Visão e a Exame, que "poderão ser objeto de venda, ficando os interesses dos credores garantidos satisfeitos com o produto da mesma", refere no plano chumbado pelos credores.
"Esta eventual alienação prende-se com a política de reestruturação que a empresa tem levado a cabo, sendo a intenção da empresa com a venda destas insígnias a redução das sua estrutura de pessoal", explica.
Menos vendas e pessoas, mais prejuízos
A propósito, a Trust in News avança que tem atualmente 155 trabalhadores, "sendo que até abril já saíram mais 19 pessoas", adiantando que está "prevista a saída de mais 15 pessoas no segundo semestre", estimando a poupança por esta via em cerca de 750 mil euros.
"Desta saídas, só uma pequena parte, cerca de 10%, é que sai com um acordo amigável", detalha a empresa de Luís Delgado, antigo jornalista, ex-administrador da Lusa e comentador de política.
Ainda em matéria de poupanças, a Trust in News reportava a "redução do espaço dos escritórios de Lisboa e Porto para metade, permitindo reduzir o valor dos custos com arrendamento de 400 mil euros, estando prevista a extinção do contrato de aluguer de espaço no Porto no final do corrente período contratual no final de 2024".
A empresa fechou 2023 com vendas de 11 milhões de euros, prevendo faturar este ano apenas 7,9 milhões e aumentar os prejuízos para 1,4 milhões.
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