Sábado – Pense por si

Taça da Liga: o desejo de vingança das águias e a estreia do leão Rui Borges

Toni e Fernando Mendes antecipam o que se pode esperar do jogo entre águias e leões. Vai ser, acreditam "emotivo, imprevisível e de incerteza no resultado". E, como já tem acontecido, as grandes estrelas podem fazer a diferença: do lado do Sporting, que costuma funcionar mais como equipa, as apostas recaem sobre Gyokeres, Trincão, Quenda e Geny Catamo; quanto ao Benfica, é melhor ficar atento a craques como Di María ou Akturkoglu.

Esta é a terceira vez que Benfica e Sporting se defrontam na final da Taça da Liga, com uma vitória para águias e leões nas duas anteriores situações. 

Para chegarem a este jogo decisivo, os leões eliminaram o FC Porto (1-0) e os encarnados o Sp. Braga (3-0), sendo que Benfica e Sporting ainda recentemente se defrontaram, no estádio de Alvalade, para o campeonato, com o Sporting a sair por cima (1-0, golo do inevitável Gyokeres), naquela que foi a estreia de Rui Borges como treinador dos verdes e brancos.

E agora, como será este sábado, na final de Leiria? O Sporting irá ganhar e deixar o seu grande rival deprimido? Ou será que as águias se vão conseguir vingar do desaire do campeonato? E será um jogo fechado (até porque está em disputa um troféu e as equipas poderão entrar cautelosas)? E que individualidades poderão ser decisivas nesta partida, com Gyokeres e Di María à frente de todos?

Foi isso que perguntamos a duas antigas figuras de Sporting e Benfica: de um lado Toni, que jogou nos encarnados e foi treinador (principal ou adjunto) vários anos. E do outro Fernando Mendes, antigo lateral esquerdo com coração verde e branco e que também passou por Benfica e FC Porto (entre outros), sendo agora comentador habitual na CMTV.

1. O que se pode esperar desta final? Será um jogo fechado, com as equipas calculistas, ou o Benfica vai entrar mais ao ataque, à arriscar mais, com vontade de se vingar da derrota no dérbi do campeonato?

2. Pode dizer-se que vamos ter um Sporting que funciona mais como equipa contra um Benfica que assenta mais nas individualidades?

3. Que papel terão os treinadores neste jogo: Rui Lage poderá ter vantagem, por estar há mais tempo com os jogadores, ou o efeito-galvanizador de Rui Borges, que chegou há duas semanas, será determinante?

4. Uma vitória e a conquista da Taça da Liga poderá ter efeitos no campeonato, até em termos anímicos?

TONI

1. Veremos se é um dérbi fechado ou não, mas de certeza que o dérbi, porque é algo inerente, vai trazer emoção e incerteza no resultado. E aqui é uma final, por isso ainda terá mais dramatismo, mais intensidade, pois tudo terá de se resolver num só jogo, não pode haver aquelas questões que às vezes surgem no campeonato, que há uma equipa que vai à frente e outra atrás.

Tivemos um confronto recente, que sorriu ao Sporting, mas a nota foi o equilíbrio, apesar de o Sporting ter atacado mais na primeira parte e o Benfica ter reagido na segunda. Aqui não me parece que será algo assim, mas vai ser um jogo equilibrado e intenso e com emoção. Vai ser um jogo vivo e que vai prender a atenção de todo o país, pois é aquele jogo que todos querem jogar e que todos os que gostam de futebol querem ver.

2. É evidente que o Sporting, mesmo tendo mudado de treinador - e já houve ali algumas alterações introduzidas pelo Rui Borges, do ponto de vista tático, quer em relação ao que acontecia com o Ruben Amorim quer com o João Pereira - tem os processos mais implementados, porque o Ruben Amorim esteve lá mais de quatro anos, criaram-se rotinas, os processo de jogo estão mais assimilados comparativamente ao que acontece no Benfica, pois o Bruno Lage está lá há quatro meses e trouxe uma rutura em relação ao Roger Schmidt.

O Benfica não parece ter um coletivo tão forte, mas tem uma individualidade, o Di María, que quando está num dia bom, revela um talento superlativo, como ainda agora se viu frente ao Sp. Braga. Agora, há individualidades nas duas equipas. Se o Benfica tem o Di María e o Akturkoglu, o Sporting tem o Gyokeres, o Trincão e mesmo os dois miúdos, o Geny Catamo e o Quenda. Mas vê-se que o Sporting tenta resolver o jogo de uma forma mais coletiva, tendo uma individualidade, o Gyokeres, que traduz esse jogo coletivo em golos.

3. O Rui Borges chegou ao Sporting, fez dois ou três treinos e teve logo um dérbi, que ganhou, portanto começou bem. Essa questão de estar há mais ou menos tempo do que o outro não é muito relevante, até porque hoje em dia as equipas técnicas têm analistas do jogo, que o esmiuçam de tal maneira que conhecem todos os processos da outra equipa, as movimentações, as jogadas mais ou menos padronizadas, quase que não há segredos.

Nestes jogos, o treinador define a estratégia, o plano de jogo, e depois o jogo decorre e a intervir é praticamente só no intervalo, não há paragens, não é como no basquetebol que se pára o jogo e se muda a estratégia. 

4. Ganhar tem sempre um efeito muito forte, a vitória fortalece, traz confiança, dentro da equipa e também fora, aos adeptos. E este mês de janeiro é muito importante, com vários objetivos a serem decididos, este sábado a Taça da Liga e depois a Taça de Portugal [o Benfica vai ao Farense no dia 14], a Liga dos Campeões e... atenção ao campeonato, porque se o FC Porto vencer o jogo com o Nacional, no domingo, deixa o Benfica a 5 pontos da liderança, ou seja, não se pode distrair e perder mais pontos.

FERNANDO MENDES

1. Primeiro que tudo, dizer que as finais são para se ganhar. Se vai ser um jogo mais fechado ou aberto, isso às vezes depende da forma como as equipas entram, porque se houver uma que surja mais pressionante, a outra tem de reagir e ir atrás. Agora, quando há muita expetativa em relação ao que um ou outro adversário pode fazer, as coisas podem ficar mais calminhas, com jogos mais amarrados. Vai ser um jogo difícil para o Sporting? Vai, mas também será difícil para o Benfica.

É verdade que o Benfica perdeu o dérbi para o campeonato, mas agora fez um bom jogo com o Sp. Braga, e isto não é uma questão de vingança pela derrota anterior com o Sporting, são momentos. Nestes jogos, ainda para mais numa final, a concentração tem de estar no máximo, e por vezes, como já temos visto noutros jogos entre Benfica e Sporting, as individualidades tendem a aparecer e a resolver as partidas.

O Sporting vem de uma fase complicada, as coisas melhoraram agora um pouco, mas tem havido muitas lesões, ainda agora vai perder mais dois jogadores, o Matheus Reis e o Morita. Já o Benfica passou há pouco por uma fase negativa, com duas derrotas seguidas... As duas equipas conhecem-se bem, apesar de o Sporting surgir com um treinador diferente, mas vai ser um jogo competitivo e as duas equipas vão querer brindar os seus adeptos com um troféu.

2. O Benfica tem vivido muito nessa base das individualidades, às vezes aparece o Di María, antes foi o Akturkoglu, que resolvia muitos problemas que a equipa estava a ter, mas não deixa de ser uma equipa competitiva. Agora aquela conversa de que as equipas não estão bem. Não vou por aí, o Sporting ficou sem o Ruben Amorim, as coisas começaram a correr mal, veio outro treinador e agora melhoraram... Mas há aqui uma questão: por exemplo, o Gyokeres, que parece que andava desaparecido, voltou a decidir. E às vezes há jogadores que individualmente resolvem as debilidades do coletivo, e isso tem acontecido mais no Benfica.

Mas atenção, o Sporting também tem jogadores que podem resolver um jogo sozinhos... Além do Gyokeres, há o Trincão, o Catamo, o Quenda. No dérbi do campeonato, apareceram o Catamo e o Gyokeres a resolver. Aliás, o Geny Catamo já no ano passado, com o Benfica, tinha feito os dois golos da vitória. E o Trincão também costuma aparecer, embora me pareça que agora não está num grande momento.

Do lado do Benfica há o Di María, que apesar de não correr muito é um jogador extraordinário, que consegue por a equipa a jogar e que resolve muitos jogos.

3. O Rui Borges está a estrear-se numa final e ele já falou disso, da importância de ser a sua primeira final, de poder ganhar o primeiro troféu. Ele vem de uma realidade diferente porque o Vit. Guimarães, com todo o respeito, não é a mesma coisa que treinar um clube com a dimensão do Sporting. Mas, acima de tudo, há uma coisa que me parece que ele está a fazer bem, que é dar sempre muito mérito aos jogadores, isso tem sido um fator importante.

É um treinador diferente, com humildade, as coisas começaram a correr-lhe bem, entrou no Sporting logo com uma vitória sobre o Benfica e também já ganhou ao FC Porto. Pelo meio houve aquele empate (4-4) em Guimarães, num jogo que parecia que estava resolvido com o 3-1 e que afinal não estava.

Quanto ao Bruno Lage, ele já conhece melhor os seus jogadores, mas o Benfica é algo intermitente, é uma equipa que joga bem nalguns períodos e noutros parece afastado do jogo. Mas tem excelentes jogadores.

4. Perder ou ganhar a final vai mexer sempre, ainda para mais com um adversário direto, mas são competições diferentes, a prioridade é o campeonato. É lógico que as duas equipas vão querer ganhar, conquistar um troféu é sempre excelente, mas não deixa de ser uma competição secundária, o importante é o campeonato e a Taça de Portugal. Mas claro que quem vencer vai ficar com um acréscimo de moralização.

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