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Paris2024: Calor extremo pode levar à morte dos atletas, diz relatório

Luana Augusto
Luana Augusto 24 de junho de 2024 às 18:46
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Especialistas deixam várias recomendações para se lidar com as elevadas temperaturas, de gerir horários a fornecer maior proteção a desportistas e fãs.

Este ano, espera-se uma dificuldade extra nos Jogos Olímpicos de Paris. De acordo com orelatório Anéis de Fogo, realizado por académicos da Universidade de Portsmouth, Reino Unido, o calor extremo irá acompanhar milhares de atletas a partir de 26 de julho. As altas temperaturas previstas levam assim os especialistas a alertar os desportistas para possíveis colapsos durante os jogos, ou no pior dos cenários, a morte durante as competições.

REUTERS/Benoit Tessier

"Um planeta em aquecimento apresentará um desafio adicional para os atletas, o que pode impactar negativamente o seu desempenho e diminuir o espetáculo desportivo. As condições mais quentes também aumentam o potencial de doenças causadas pelo calor entre todos os indivíduos expostos a alto stresse térmico, incluindo representantes e espectadores, bem como atletas", esclareceu Jo Corbett, professor associado de Fisiologia Ambiental na Universidade de Portsmouth. 

Em 2020, os Jogos de Tóquio tornaram-se conhecidos como os "mais quentes da história" com as temperaturas máximas a chegarem os 34°C e a humidade a atingir quase os 70%, causando graves riscos para a saúde dos atletas. Segundo o relatório, estudos académicos revelavam até que mais de um em cada cinco atletas paralímpicos já haviam passado por stresse térmico (exposição acumulada do corpo a altas temperaturas), nos Jogos Paralímpicos de Tóquio.

O possível cenário leva agora diversos atletas a lançarem alertas acerca das altas temperaturas previstas para França. O tenista neozelandês Marcus Daniell, que ganhou uma medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio em duplas masculinas, foi um deles.

Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, "senti que o calor estava a aproximar-se do verdadeiro risco - o tipo de risco que pode ser potencialmente fatal. Um dos melhores tenistas do mundo [Medvedev] disse que achava que alguém poderia morrer em Tóquio, e não me parece que tenha sido um grande exagero. Por vezes, temos de jogar em condições em que um ovo pode literalmente ser frito. Isso não é divertido nem saudável. A insolação é relativamente comum no ténis", revelou.

Já a nadadora britânica Amber Keegan destacou as consequências do calor extremo, até mesmo nos atletas melhor preparados. "O calor extremo é perigoso, não importa o quão preparados estejamos. Todos entramos naquela água sabendo das pessoas que morreram de calor. Não é algo para se brincar."

Além das mortes que poderão resultar das elevadas temperaturas, o relatório aponta também para outro tipo de impactos previstos nos desportistas: queimaduras solares, cãimbras, ou até mesmo os colapsos resultantes das insolações.

"Para os atletas, as consequências podem ser variadas e abrangentes, desde as questões de menor impacto no desempenho, como as perturbações do sono e as alterações de última hora nos horários dos eventos, até aos impactos exacerbados na saúde e ao stresse e lesões relacionados com o calor. Com o aumento contínuo das temperaturas globais, as alterações climáticas devem ser cada vez mais encaradas como uma ameaça existencial para o desporto", afirmou Lord Sebastian Coe, presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo, que conta com quatro medalhas olímpicas por corrida de meio-fundo.

Em 2003 uma onda de calor que atingiu a França matou mais de 14 mil pessoas, e nos anos seguintes as temperaturas máximas chegaram aos 42°C. Agora, os especialistas esperam que, graças às alterações climáticas, as temperaturas máximas aumentem em 70% o risco de mortalidade em Paris. Fazem, por isso, algumas recomendações às autoridades locais: fazer uma programação inteligente para evitar calores extremos, manter os atletas e os fãs seguros com os melhores planos de reidratação e arrefecimento, capacitar os atletas para falarem sobre as alterações climáticas, aumentar a colaboração entre entidades desportivas e atletas em campanhas de sensibilização climática, e reavaliar o patrocínio de combustíveis fósseis no desporto.

Desde 1924 que as temperaturas em França já aumentaram 1,9ºC como consequência da utilização de combustíveis fósseis como o carvão, o petróleo e o gás – responsáveis por quase 80% dos gases de efeito de estufa. Só entre 1947 e 2023, a cidade de Paris registou um total de 50 ondas de calor.

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