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Frederico Silva em isolamento: "Ninguém pode entrar no meu quarto"

Carlos Torres
Carlos Torres 29 de janeiro de 2021 às 20:08
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O tenista português recebe as refeições à porta, muda a roupa da cama e treina a atirar bolas contra a parede. Por causa da Covid-19, está a ser assim a estreia de Kiko no Open da Austrália: em isolamento no hotel

Fazer abdominais e exercícios com os braços ou treinar pancadas com a raqueta são rituais comuns no dia a dia de um tenista. Só que Frederico Silva está a fazê-lo há duas semanas fechado num quarto de hotel em Melbourne, na Austrália – o português, de 25 anos, tem de cumprir isolamento até ao próximo sábado, 30 de janeiro.

"Houve um caso de Covid-19 no meu voo, que saiu de Doha, onde jogámos oqualifyingde acesso ao quadro principal do Open da Austrália, e houve outros em voos do Dubai e de Los Angeles", confirma àSÁBADO. "Por causa disso, há 72 tenistas em isolamento, assim como treinadores, e ainda jornalistas, fisioterapeutas e pessoas da organização do torneio."

Mesmo sem esse caso positivo, teria sempre de cumprir duas semanas de quarentena. Só que poderia estar cinco horas por dia fora do quarto: duas horas nos courts, duas no ginásio e uma para refeições. É isso que acontece com Pedro Sousa, o outro português no Open da Austrália, que começa a 8 de fevereiro (João Sousa, infetado com Covid-19, falha o torneio).

Frederico Silva está numa espécie de prisão. "Há seguranças a controlar as saídas nos corredores e quem furar o isolamento é multado e desqualificado do torneio. Ninguém entra no meu quarto. Deixam as refeições à porta, tenho de mudar a roupa da cama e de tratar das limpezas. Mesmo os testes à Covid, de dois em dois dias, são feitos à porta." Para passar o tempo, além de atirar bolas contra a parede do quarto, vê filmes e séries e joga PlayStation. Conversar com a família não é fácil, devido à diferença horária – em Melbourne são mais 11 horas.

"Houve várias reuniõesonlinecom a organização, para se tentar criar uma bolha dentro da bolha com estes 72 tenistas. Por exemplo, treinar só entre eles. Mas as autoridades de saúde não aprovaram. Entretanto, deram-nos material de treino e faço exercícios,online, com o meu preparador físico. Também falo com o meu treinador, que está em isolamento noutro quarto. Apesar de tentar manter a forma, claro que vou estar em desvantagem em relação aos outros por não poder treinar normalmente."

O tenista sai do isolamento no sábado, dia 30 de janeiro, e dois dias depois inicia a sua participação num dos dois torneios ATP 250 que antecedem o Open da Austrália (realizam-se de 1 a 7 de fevereiro), no qual estarão, por exemplo, Stan Wawrinka (nº 18 doranking) ou Grigor Dimitrov (nº 19).

Frederico Silva, nº 182 dorankingmundial, está a viver o seu melhor momento na carreira, ao chegar pela primeira vez ao quadro principal de um Grand Slam (os quatro torneios mais importantes: Austrália, EUA, Roland Gar- ros e Wimbledon). "É o concretizar de um sonho. No ano passado, em Paris, estive perto, mas fui eliminado na última ronda", revela.

O objetivo, agora, é estrear-se a ganhar no torneio. "Nos Grand Slam joga-se à melhor de cinco partidas, o que é novo para mim. Dependerá do sorteio, porque uma coisa é enfrentar alguém do nº 80 ou 90 do ranking, outra o nº 1 ou nº 2", diz. O sonho seria jogar contra Federer, o seu ídolo, mas como ele não vai estar na Austrália, "também seria espetacular ter como adversários Rafael Nadal ou Novak Djokovic. Mas não queria apanhá-los já na primeira ronda".

Ténis, natação, ginástica e futebol

Frederico Silva começou no ténis com 6 anos, por influência de um tio, que depois de o ver jogar raquetas com o pai na praia levou-o ao Clube de Ténis das Caldas da Rainha. "Sempre gostei de desporto e até aos 11 anos andava no ténis, na ginástica e na natação e ainda jogava futebol na escola. Depois, quando começou a ser difícil conciliar os torneios e as provas que tinha em simultâneo ao fim de semana, optei pelo ténis, até porque já tinha bons resultados."

Com 12 anos, foi campeão nacional. "De todas as vezes que fui campeão, essa ainda hoje é a mais marcante, por ter sido a primeira. Nesse ano, também fiz bons resultados a nível internacional, em provas por seleções. Jogar contra os melhores de Itália, Espanha e Inglaterra e perceber que estava perto do nível deles é motivador. Não é que aos 12 anos tenha decidido que ia ser profissional, mas deu-me força para prosseguir".

Frederico Silva foi mesmo o português que mais se destacou nas camadas jovens. Em 2012, com 17 anos, foi finalista no European Championship e venceu o Open dos EUA de juniores em pares (com Kyle Edmund). E em 2013, outra vez com Kyle, foi campeão júnior de pares em Roland Garros.

Olhando para o seu potencial, estará Frederico desiludido com a carreira, pois o seu melhor resultado foi chegar à final de um Challenger (torneio de segundo nível, atrás dos ATP)?

"Quando saí do circuito júnior e comecei a jogar torneios profissionais, tive um primeiro ano difícil, de adaptação. Com 20 anos comecei a ter resultados e a subir noranking, mas depois vieram as lesões. Dos 21 aos 24, basicamente foram três anos desperdiçados, porque estive sete meses com uma lesão no pulso esquerdo, depois recuperei e estive mais meio ano parado com problemas no pulso direito. Tive ainda de ser operado a uma hérnia inguinal, que me deixou sem competir mais cinco meses".

A médio prazo, Frederico Silva tem como objetivo entrar no top 100, o que lhe dará outra estabilidade. "Dá-nos acesso ao quadro principal dos melhores torneios, aos Grand Slam e ATP, com direito a hotel e despesas pagas, além deprize moneysmuito superiores. Recebi 4.500 euros por ser finalista no Challenger de S. Paulo, e ganho mais do que isso só por passar uma ronda doqualifyingdo Open da Austrália. Diria que um tenista português fora do top 300 tem de investir para jogar. Já estando no top 200, consegue-se viver do ténis."

A dez dias de começar o Open da Austrália, Frederico já vive esse momento com ansiedade? "Há tenistas que são afetados por esse nervosismo a nível de alimentação e descanso. Comigo, isso só começa a bater duas horas antes do jogo. De certeza que vou dormir tranquilo na véspera de me estrear num Grand Slam."

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