Falhado o objectivo Europeu-64, a selecção portuguesa faz valer a sua categoria numa tarde de sol esplendoroso, três meses depois, com o 1-0 ao recém-bicampeão mundial Brasil.
Desde Gilmar a Pelé, passando por Djalma Santos, Amarildo e Zagalo, todos se rendem à classe e à alma lusitanas. É um dia inesquecível de que Vicente terá sido o mais elogiado pela forma simples e eficaz como anula o "rei" Pelé. O "Daily Mail", reconhecido jornal inglês, é o mais atrevido nas suas apreciações: "Portugal já tem equipa para o Mundial-66." E não é que acerta?
Entre muitos festejos, José Augusto está dividido entre a euforia e a desilusão. Ele explica. Primeiro, a parte da alegria, que, afinal e bem vistas as coisas, é dupla: "Se me lembro do golo? Claro que sim, um cruzamento do Yaúca... De que lado? Da direita, da bancada da praça da Maratona. E depois? Eu cabeceei. Nesse dia, joguei a avançado. O Brasil vinha de uma série de jogos particulares [três com Argentina e um com Paraguai, Peru, Chile, Bolívia, Uruguai, Venezuela, Holanda, Bélgica, França, RFA, Inglaterra, Itália, Egipto e Israel] e foi com agrado que ouvi da boca do Pelé que eu tinha sido o melhor jogador que ele defrontara dessa digressão." Então e a amargura? "Queria trocar de camisola com o Pelé mas quando lhe pedi já ele tinha trocado com o Eusébio."
Muito bem, o 1-0 de 1963 arrebita os portugueses. Quando jogamos com o Brasil na terceira e última jornada da fase de grupos do Mundial-66, já não existe aquela tensão do David contra o Golias. Sobretudo porque o Brasil perdera com a Hungria e está obrigado a ganhar-nos para seguir em frente. A nós, basta-nos um empate. Mas o que é isso para a gente? Se damos três à Hungria e mais três à Bulgária, porque não três ao Brasil? À partida, a ideia é descabida. O Brasil é o bicampeão em título e aterra em Inglaterra com a clara intenção de alcançar o inédito tri que lhe dá direito à posse definitiva do troféu em disputa, a Taça Jules Rimet. Na sua equipa, o rei do Suécia-58 (Pelé) e o mago do Chile-62 (Garrincha). A confiança é natural, portanto.
Para não variar, tudo começaria da melhor forma, com Simões (1,73 m) a marcar de cabeça o tento inaugural, aproveitando a posição avançada do guarda-redes Manga, do Internacional de Porto Alegre. De resto, o "goleiro" dos campeões mundiais teria oportunidade minutos depois de demonstrar a sua pouca aptidão para jogar fora dos postes, no 2-0 de cabeça de Eusébio. O campeão mundial está de rastos e nem a rispidez do sportinguista Morais (o do cantinho da Taça das Taças-64) serve de atenuante para a evidente debacle de Rei Pelé. "Foi uma jogada normal e eu tive a infelicidade de estar atrás dele", lamenta o defesa. "O nosso capitão [Coluna] disse-me para não o largar, para não o deixar passar. Era um jogo entre selecções e eu era português", vinca Morais. "Olhando para trás, reconheço que tinha poucas alternativas. Pareceu-me ver a bola e estiquei a perna. Sim, talvez tenha sido em tesoura. Mas nada de anormal. Nada que não se faça hoje muito pior." Pelé cai. Qual jogador de subbuteo, levanta-se outra vez, com a bola controlada à entrada da área portuguesa. "E foi aí que me estiquei para o travar, para tentar jogar o couro. Ele era um jogador rijo, o problema é que já estava magoado." Pelé cai e já não se levanta. "Agarrou-se ao joelho direito com as duas mãos, encolhido de dor", conta Morais, "e soltou a fúria: ‘Te mato veado [homossexual]. Te quebro a cara’."
E agora? Depois de sofrer a falta, Pelé regressa ao relvado, apesar da imensa dificuldade em correr. E cumpre a promessa de atingir Morais. Lembra o português. "Ele disse-me que me iria golpear e fê-lo. Nunca se sabia de que lado vinha e só me lembro de receber uma cabeçada no maxilar que me fez desmaiar. Fiquei deitado e sem sentidos durante alguns segundos e a primeira coisa que disse foi ao senhor Manuel Marques [massagista] para ver se ainda me restavam os dentes".
Duelos individuais à parte, o jogo prossegue. E se Rildo ainda teria ensejo de diminuir a diferença, Eusébio, num pontapé de raiva na sequência de um canto, voltaria a repor a verdade do jogo e a chamar sobre si as atenções gerais. Chapa três, outra vez. Portugal nos quartos-de-final, Brasil eliminado pela primeira vez (e única) na fase de grupos. E esta, hein?!
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