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Cheias do Texas mataram mais de 80 pessoas. O sistema de alerta de inundações falhou?

Luana Augusto
Luana Augusto 07 de julho de 2025 às 17:03
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Além das vítimas mortais, há dezenas de desaparecidos. Algumas autoridades culpam o Serviço Nacional de Meteorologia por ter subestimado os níveis de precipitação, que levaram à subida repentina do leito do rio.

Mais de 80 pessoas morreram e dezenas estão desaparecidas depois de cheias repentinas terem afetado o Texas, nos Estados Unidos, na madrugada de sexta-feira. Entre as vítimas mortais há 27 crianças. Desde então, têm surgido várias questões sobre se foram enviados alertas adequados para a população e porque é que as pessoas não foram retiradas do local antes de se ter registado esta catástrofe.

AP Photo/Julio Cortez

Eis o que se sabe acerca do sistema de alertas de inundações do Texas.

Que tipos de alertas foram emitidos?

Na quarta-feira, a Divisão de Emergências do Texas (TDEM) ativou os avisos de emergência do estado, devido às "ameaças crescentes de inundações em partes do oeste e centro do Texas", e na tarde de quinta-feira o Serviço Nacional de Meteorologia (NWS) emitiu um alerta de inundação para o condado de Kerr, ao considerar que o local poderia sofrer cheias repentinas durante a noite. Pelas 01h14 hora local (07h14 em Lisboa) de sexta-feira, era emitido um outro alerta de enchentes repentinas para o condado de Kerr. Já pelas 04h03 (10h30 em Lisboa) surgia um aviso, a que se seguiu um outro para o Rio Guadalupe pelas 05h34 (11h30).

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Apesar dos diversos avisos, a verdade é que este condado acabou por ser o mais afetado, tendo destruído por completo um acampamento de raparigas cristãs - provocando a morte e o desaparecimento de pelo menos 27.

Desde então que têm surgido várias questões sobre se foram enviados alertas adequados para a população e porque é que as pessoas não foram retiradas do local a tempo. Contudo, à CBS o juiz Rob Kelly (o responsável oficial eleito com o cargo mais alto do condado de Kerr) defendeu que a gravidade desta situação foi completamente inesperada. "Não tínhamos razões para acreditar que seria algo parecido com o que aconteceu aqui", disse.

Houve alguma falha na emissão dos alertas?

Numa conferência de imprensa dada no domingo, o governador do Texas, Greg Abbott, começou por considerar que as pessoas não estão acostumadas a receber alertas para cheias repentinas. Mas acrescentou: "Não se esperava uma parede de água de quase 9 metros de altura." 

AP Photo/Rodolfo Gonzalez)

Segundo o gestor municipal de Kerrville, Dalton Rice, a população poderá ficar insensível se receber muitos alertas meteorológicos, cita a agência de notícias Associated Press. Enquanto isso, o diretor da Divisão de Emergências do Texas, Nim Kidd, dizia aos jornalistas: "Existem áreas onde os telemóveis não apanham rede. Não interessa quantos alertas sejam enviados. Não vão receber."

Já Rob Kelly alertou que não existe nenhum sistema de alerta que seja administrado pelo condado e justificou que este tipo de sistemas são caros. Lembrou que há cerca de seis anos, ainda antes de ter assumido o cargo, o condado havia estudado a implementação de um sistema de alerta para enchentes ao longo do rio, semelhante a uma sirene de alerta para um tornado. No entanto, devido ao custo, este nunca foi implementado.

O Serviço Nacional de Meteorologia (NWS, na sigla em inglês) diz agora estar "de coração partido pela trágica perda de vidas no condado de Kerr". Enquanto isso, algumas autoridades do Texas têm culpado este serviço por ter subestimado os níveis de precipitação. Porém, ex-funcionários do NWS consideraram em entrevista ao jornal New York Times que as previsões avançadas foram as melhores possíveis.

Falta de pessoal no NWS teve impacto?

Antes da tragédia, o governo de Trump já havia anunciado cortes orçamentais na Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) - a agência governamental que opera o Serviço Nacional Meteorológico. Para o orçamento de 2026, o governo decidiu fazer alguns cortes e encerrar alguns laboratórios de investigação meteorológicos. Além disso, Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), anteriormente liderado por Elon Musk, optou por despedir centenas de funcionários da NOAA e do NWS.

AP Photo/Jacquelyn Martin

Anteriormente, meteorologistas dos Estados Unidos e de outros países já haviam expressado preocupação com o "número reduzido de balões meteorológicos" que enviam informações sobre a pressão atmosférica, temperatura e a velocidade do vento. Alegam que os cortes nos orçamentos já resultaram no lançamento de menos 20% de balões meteorológicos - o que significa um impacto na qualidade da previsão do tempo.

O New York Times também avançou, na sexta-feira de manhã, que vários cargos importantes do NWS estavam vazios - o que levou alguns especialistas a questionar se a escassez de pessoal havia dificultado a situação. No entanto, o diretor legislativo da Organização de Funcionários do NWS disse à NBC News: "Os WFOs [escritórios de previsão do tempo] adequaram o seu pessoal e os seus recursos, pois emitiram previsões e alertas oportunos antes da tempestade."

O que já disse o governo dos EUA?

Questionado sobre se esta tragédia se deveu a uma falha do governo, a secretária de Segurança Interna nos Estados Unidos, Kristi Noem, considerou que "é difícil prever o tempo", mas avançou que o presidente Donald Trump quer modernizar o atual sistema de alertas. "Estamos a trabalhar para melhorar as tecnologias, que foram negligenciadas por muito tempo".

Donald Trump deverá visitar a área afetada na sexta-feira, indica a BBC.

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