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Portuguesa recebe bolsa europeia para perceber "como nos chega a informação e porquê aquela informação”

Íris Damião, que faz parte da equipa que recebeu a bolsa Conselho Europeu de Investigação, explica à SÁBADO que o objetivo passa por conseguir "ajudar a regulamentação da União Europeia” depois de ser possível justificar porque só recebemos determinada informação e por que meios.

Joana Gonçalves Sá, investigadora no Centro de Investigação da Faculdade Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA no Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), recebeu uma bolsa do Conselho Europeu de Investigação para liderar o projeto FARE_DSA – A Framework for Auditing Recommendation Engines under the DSA.   

O projeto pretende "criar uma metodologia que possa ser utilizada para auditar os motores de busca, como a Google, e os modelos de linguagem de grande escala (LLMs), como o ChatGPT", explica Íris Damião, estudante de doutoramento que faz parte do projeto à SÁBADO.  

Íris Damião considera que esta é uma pesquisa extremamente importante porque "as pessoas confiam nos motores de busca e nos LLMs para fazerem pesquisas sobre tópicos muito sensíveis, como é o caso das eleições", no entanto "não sabemos como é que a informação nos chega nem porquê que é aquela informação que nos chega".  

Para descobrir isso vai ser usado um "método em larga escala através do desenvolvimento de bots" criados para terem "perfis diferentes, visitam páginas que representam interesses diferentes e podem até estar em países e localizações diferentes", para que seja possível "analisar as respostas dos diferentes algoritmos às pesquisas feitas".  

Parte desta investigação vem no seguimento "de um outro trabalho" onde a equipa do LIP testou "as respostas dos algoritmos em pesquisas sobre as eleições europeias e americanas e detetou um enviesamento muito claro para um certo espectro político". Agora o plano é "expandir a mesma metodologia para testar se estes enviesamentos são gerais e chegarmos a mais dados e conseguirmos ajudar a regulamentação da União Europeia sobre os motores de busca e LLMs".  

Tal como é referido no comunicado, "este será o primeiro projeto a oferecer uma ferramenta concreta e alinhada com políticas públicas para a implementação do Artigo 40º do Digital Services Act da União Europeia". Íris Damião explica que esta regulamentação "prevê que cientistas credenciados possam ter acesso a dados públicos, e não públicos que as empresas possuem", mas para isso primeiro "tem de haver uma prova do enviesamento que justifique o acesso aos dados".  

A cientista esclarece que "as auditorias vão mostrar quais são os dados que devemos pedir para, na fase final, conseguirmos perceber o porquê de recebermos as informações que nos são sugeridas e desenvolvermos uma colaboração com os reguladores para identificar causas e estudar implicações". 

Os investigadores consideram que este é um projeto bastante importante porque "estas plataformas são cada vez mais usadas, sem qualquer tipo de verificação da informação que recebemos", o que é especialmente preocupante porque "os dados mostram que as pessoas estão a deixar de recorrer aos meios de comunicação e a confiar mais nestas plataformas, mas ainda não sabemos se podemos confiar, ou quais é que são os seus critérios", conclui Íris Damião.  

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