Sábado – Pense por si

Outono emocional. "Tem a ver com outros fatores cuja culpa acaba por ser atribuída à estação do ano"

As mais lidas

Com a chegada do outono há quem confunda "depressão" com falta de energia. À SÁBADO dois psicólogos deixam algumas dicas sobre como combater o mal-estar que surge nesta época do ano.

Com a chegada do outono uma coisa é certa: a falta de energia é muita e a tendência para o isolamento aumenta. Há até quem chame a isto "depressão sazonal" - que ocorre em certas épocas do ano e que geralmente está associada à diminuição da luz solar. No entanto, à SÁBADO a psicóloga clínica e educacional Ana Isabel Lage Ferreira alerta que o uso banal deste termo pode ser perigoso, levando pessoas a acreditar que sofrem desta perturbação quando estão apenas com "menos energia".

Psicólogos dão dicas para combater mal-estar na chegada do outono
Psicólogos dão dicas para combater mal-estar na chegada do outono Soeren Stache/picture-alliance/dpa/AP Images

"É preciso descolar a ideia de 'depressão sazonal' ao facto de as pessoas estarem mais tristes e com menos energia. Banalizar esta expressão pode ser contraproducente e pode levar as pessoas a achar que estão num quadro clínico quando estão só com menos energia. A depressão é um quadro clínico sério grave que precisa de tratamento e o que acontece é que depois pode levar muitas pessoas a tomar medicação e a ficarem preocupadas quando se trata de um ciclo normal", frisa a psicóloga.

Parte desta ideia é também partilhada pelo psicólogo Jorge Gravanita, que à SÁBADO aponta para a possibilidade do uso deste termo esconder um problema sério. "É uma forma simplista de ignorar um problema", defende.

Mas como se distingue a escassez de energia de uma depressão? A psicóloga Isabel Ferreira esclarece: "Isto só começa a ser um problema quando vemos a nossa vida a ficar alterada. Quando as coisas no trabalho deixam de correr tão bem, ou até mesmo as relações, ou quando já não estamos a gostar da nossa vida."

Embora esta "depressão" esteja muito associada "ao facto de haver menos luz e as férias terem acabado", segundo Isabel Ferreira, para psicólogo Jorge Gravanita em nada se relacionada com a mudança sazonal. "Isto não tem nada a ver com o sol. Tem a ver, sim, com outros fatores cuja culpa acaba por ser atribuída à estação do ano."

O que fazer para combater a falta de energia?

Um das dicas para combater a falta de energia é desenvolver atividades que proporcionam conforto e prazer. "As pessoas não têm necessariamente de sair de casa. Podem estar sozinhas a fazer coisas que lhes dê uma sensação de conforto, como ver filmes e beber um chá. Estar sozinho não é dramático, pelo contrário, até pode ser reparador", esclarece a psicóloga.

A valorização do conforto tem-se tornado, inclusive, uma prioridade crescente para muitas pessoas. Nas redes sociais, como o TikTok, é cada vez mais comum encontrar vídeos que promovem a ideia de "romantizar" os meses mais frios, onde se destacam elementos associados ao aconchego como velas ou bebidas quentes.

Isso não invalida, no entanto, que o contacto com o outro não seja positivo. "Do ponto de vista da saúde psicológica sabemos que o contacto com os outros é positivo. Além disso, é importante programar o calendário. Pensar: vou combinar que a partir de agora vou sair todas as quintas-feiras com a minha amiga ou pedir a alguém para ir à minha casa. Ao colocar isso no calendário torna-se quase como uma obrigação", completa Isabel Ferreira.

Já Jorge Gravanita faz uma sugestão diferente. "Devemos aproveitar este tempo mais sombrio para trabalhamos nas nossas dificuldades e adotar estratégias de mudança que não sejam repetitivas e que nos confinam num ciclo vicioso."

Artigos Relacionados
Cyber crónicas

Defesa Institucional para ciberataques!

Nenhuma tecnologia, por mais avançada, pode compensar a falta de consciência e responsabilidade humana. O erro humano continua a ser a principal causa de incidentes de segurança — e isso não resulta de má-fé, mas de desinformação e hábitos incorretos.