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O legado científico perdido numa rocha roubada em Portugal

14 de julho de 2019 às 10:00
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Em 1973, num gesto de amizade para com o mundo, o presidente dos EUA Richard Nixon ofereceu a cada país um pequeno pedaço de rocha da Lua. Portugal foi um dos contemplados com a oferenda, mas por pouco tempo.

Portugalteve uma, mas ficou sem a sua rocha lunar, de entre as muitas recolhidas pelos astronautas e que permitiram aos cientistas desvendarem mistérios, mas algumas das amostras que se mantêm intactas há quase 50 anos vão agora ser estudadas.

Entre 1969 e 1972 foram recolhidos e trazidos para a Terra cerca de 400 quilos de rocha lunar, incluindo os 22 quilos de fragmentos extraídos pelos primeiros astronautas naLua, há 50 anos.

Em 1973, num gesto de amizade para com o mundo, o presidente dos Estados Unidos Richard Nixon ofereceu a cada país um pequeno pedaço de rocha da Lua. Portugal foi um dos contemplados com a oferenda, mas por pouco tempo.

"Roubaram a pedra lunar do Planetário". A expressão é de um título de uma notícia da edição de 11 de julho de 1985 do extinto jornal Diário de Lisboa, que cita a antiga agência Notícias de Portugal, que deu origem à Lusa.

O fragmento de rocha lunar que estava desde 1976 em exposição no Planetário Calouste Gulbenkian, da Marinha, em Lisboa, tinha sido furtado, desconhecendo-se o seu paradeiro. "Era o único exemplar que existia em Portugal", lê-se na notícia. A exposição tinha sido inaugurada em outubro desse ano pelo astronauta das missões Apollo 8 e 13 James Lovell Jr, que não esteve na Lua.

O pedaço de Lua dado a Portugal foi retirado em dezembro de 1972 pelos astronautas da missão Apollo 17, a última, até hoje, a colocar humanos na superfície do satélite natural da Terra.

"Houve, de facto, uma pedra da Lua no Planetário que foi furtada em data anterior a 1988, não temos a data precisa", respondeu à Lusa o serviço de informação da Marinha, sem dar mais detalhes, alegando que as pessoas que podiam contar o que se passou "já não estão vivas".

Uma fotografia de Acácio Franco, que consta do arquivo da Lusa, mostra a caixinha com a bandeira portuguesa oferecida pelos Estados Unidos, mas sem a amostra da rocha lunar, que foi retirada, entre muitas, do Vale Taurus-Littrow e oferecida como "um símbolo da cooperação e do esforço de toda a humanidade", lê-se numa inscrição.

O caso de Portugal não foi único. Há relatos sobre outros países onde fragmentos de rocha lunar foram furtados ou vendidos a colecionadores privados, ou simplesmente desapareceram ou foram destruídos.

Graças às amostras enviadas para a Terra, os cientistas puderam estudá-las e determinar, por exemplo, a idade de Marte e Mercúrio e determinar que Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar, se terá formado próximo do Sol, afastando-se depois.

Conseguiram também compreender que a Lua nasceu praticamente ao mesmo tempo que a Terra, há 4,4 mil milhões de anos, em resultado de um impacto, e que a sua estrutura interna é constituída igualmente por uma crosta, um manto e um núcleo.

Em março, a agência espacial norte-americana NASA, que levou o Homem à Lua, selecionou equipas para "prosseguirem o legado científico" das missões Apollo e estudarem amostras de rocha que "foram guardadas cuidadosamente" e estiveram "intocáveis durante quase 50 anos".

As equipas irão analisar fragmentos recolhidos pelos astronautas, com o auxílio de veículos, nas missões Apollo 15, 16 e 17, entre 1971 e 1972. As amostras, conservadas em vácuo, no gelo e em hélio, nunca foram expostas à atmosfera da Terra.

Com elas, os cientistas esperam aprofundar os estudos sobre a atividade vulcânica da Lua e saber como o impacto de meteoritos afetou a geologia e a sua superfície, como corpos sem atmosfera reagem ao ambiente do espaço, como a água é retida em minerais ou na radiação e como pequenas moléculas orgânicas, precursoras dos aminoácidos, os alicerces da vida, foram preservadas.

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