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Misteriosa e mortal doença dos chimpanzés ligada a problemas em humanos

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SÁBADO 05 de fevereiro de 2021 às 13:40
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Chimpanzés no santuário de Tacugama, em Serra Leoa, morriam de forma inexplicável há mais de uma década. Uma equipa de investigadores descobriu a razão.

Há mais de uma década que os chimpanzés do santuário de Tacugama, em Serra Leoa, morriam de forma misteriosa quando, em 2016, o epidemiologista Tony Goldberg tentou perceber porquê. No santuário, veterinários e biólogos conduziram, ao longo dos anos, várias investigações para tentar perceber a doença – não era contagiosa, não infetava humanos e não aparecia em outros santuários. Mas matava os chimpanzés de Tacugama num padrão alarmante.

Santuário Tacugama
Santuário Tacugama Getty Images

Demorou cinco anos. Esta quarta-feira, a equipa de investigadores publicou na revista científica Nature Communications os resultados e revelou ter identificado um novo género de bactéria, ligado à doença.

Os primatas apresentavam sintomas semelhantes aos neurológicos, como falta de coordenação, dificuldade em andar e convulsões, e ainda problemas gastrointestinais, como distensão do abdómen e vómitos. "Era sempre na mesma época do ano e sempre com os mesmos sintomas", disse, citada pelo New York Times, a responsável pela conservação do santuário Andrea Pizarro. E quando os sintomas surgiam, ninguém esperava que os animais sobrevivessem.

Acontecia, por vezes, que chimpanzés que pareciam saudáveis num dia apareciam mortos no outro. Os exames realizados a estes animais mostravam que tinham os mesmos problemas intestinais que os chimpanzés que tinham desenvolvido sintomas.

O santuário, a maior atração turística e o único local para chimpanzés órfãos naquele país africano, tem cerca de 90 chimpanzés-ocidentais, uma sub-espécie em vias de extinção. Em Tacugama já morreram da doença 56 chimpanzés.

O que a tornou ainda mais impercetível foi o facto de apenas acontecer neste santuário. Outros primatas morriam em santuários distintos, mas o padrão da doença apenas ocorria naquele local.

Foi em 2016 que o epidemiologista e veterinário na Universidade de Wisconsin foi contactado pela associação Pan African Sanctuary Alliance. Com colegas da universidade, juntou-se a outros veterinários e biólogos em África para realizar uma abrangente análise ao sangue e tecidos dos chimpanzés mortos.

Cinco anos depois, os investigadores identificaram uma nova espécie de bactéria. A pesquisa não concluiu que a bactéria encontrada seja a única causa da doença, mas revelou um novo género  da bactéria Sarcina. Esta poderá ter mais variantes ainda não identificadas.

O epidemiologista Tony Goldberg salientou, no entanto, que a bactéria não é contagiosa e não representa, atualmente, nenhum perigo.

Até à data, apenas duas espécies da bactéria eram conhecidas. Uma presente nos solos e outra conhecida por provocar sintomas gastrointestinais nos humanos e em animais. Nos seres humanos, a Sarcina ventriculi pode desenvolver-se após uma cirurgia e provocar gases que enchem as paredes do intestino.

Ao longo da investigação, tornou-se claro que a bactéria encontrada nas amostras dos chimpanzés não era a mesma reportada em humanos e animais nos últimos anos. Era maior e o genoma tinha diferenças significativas.

No relatório, os investigadores propõem que esta nova espécie seja chamada de Sarcina troglodytae, por ter sido encontrada nos chimpanzés Pan troglodytes.

Nesta fase, os investigadores precisam ainda de perceber a causa pela qual a bactéria está associada à doença, já que esta continua a aparecer de forma misteriosa – normalmente com o pico em março, durante a época mais seca do ano.

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