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Descobertas cidades com 2.500 anos na Amazónia

Andreia Antunes 16 de janeiro de 2024 às 09:39

Estudo revela a existência de sociedades estratificadas e de urbanismo organizado. No auge, cidades eram a casa de quase 30 mil pessoas.

Várias cidades com mais de 2.500 anos, que estiveram escondidas durante milhares de anos pela vegetação, foram encontradas na floresta da Amazónia, no Equador. Os montes de terra e estradas enterrados tinham sido observados pela primeira vez há mais de duas décadas pelo arqueólogo Stéphen Rostain, agora autor principal da investigação cujos resultados foram publicados na revistaScience. Há vinte anos, "não tinha a certeza de como tudo se encaixava", referiu o arqueólogo.

REUTERS/Adriano Machado

Mas um mapeamento recente feito com tecnologia de sensores a laser permitiu identificar vestígios da cidade sob as densas plantas e árvores. Também revelou que esses locais faziam parte de uma densa rede de povoações ligadas por estradas escondidas na base da floresta dos Andes, que durou cerca de mil anos.

A área situava-se à sombra de um vulcão que criou solos ricos em nutrientes, mas que pode também ter levado à destruição da cidade, relatou o arqueólogo.

"Era um vale perdido de cidades", disse Stephen Rostain, que dirige as investigações no Centro Nacional de Investigação Científica de França, citado pelo site G1.

Esta descoberta muda o que se pensava até agora acerca da história das civilizações antigas amazónicas. Embora se conhecessem cidades em terras altas na América do Sul, como Machu Picchu, apenas se pensava que as pessoas teriam vivido apenas de forma nómada ou em pequenas povoações.

Segundo os arqueólogos, é difícil de estimar o número de pessoas que viveram nestas cidades. Apontam para cerca de 10 mil pessoas, e entre as 15 e 30 mil no seu auge - este último número é comparável ao número de habitantes de Londres durante a época romana. 

"Este sítio é mais antigo do que qualquer outro que conhecemos na Amazónia", afirmou Stephen Rostain. "Temos uma visão eurocêntrica da civilização, mas isto mostra que temos de mudar a nossa ideia sobre o que é cultura e civilização."

Como eram as povoações?

Os povos deste vale do Upano terão criado as cidades entre de 500 a.C. e 300 a 600 d.C.. Começaram a construir montes e a assentar as suas casas em plataformas de terra. As casas e praças estavam ligadas por uma rede de estradas e canais.

As plataformas eram retangulares e mediam cerca de 20 metros por 10 metros, de acordo com o estudo. Eram normalmente construídas à volta de uma praça em grupos de três ou seis.

Os arqueólogos também descobriram complexos monumentais com plataformas muito maiores, cuja função era provavelmente cívica ou cerimonial. Estes edifícios residenciais e cerimoniais erguidos em mais de 6 mil montes de terra estavam rodeados por campos agrícolas com canais de drenagem.

"Temos de pensar que todos os povos indígenas da floresta tropical não eram tribos semi-nómadas perdidas na floresta, à procura de comida", disse Stephen Rostain. "Têm uma grande variedade, diversidade de casos e alguns também possuíam um sistema urbanístico, com uma sociedade estratificada."

As estradas tinham cerca de 10 metros de largura e estendiam-se entre os 10 a 20 quilómetros, ligando as cidades entre si. Já as ruas passavam entre as casas e os bairros de cada assentamento.

Algumas povoações estavam protegidas por valas, e havia obstruções de estradas perto de alguns dos grandes complexos. Este facto, segundo os arqueólogos, sugere que as povoações estavam expostas a ameaças, quer externas, quer resultantes de tensões entre os grupos.

"Isto muda a forma como vemos as culturas da Amazónia", disse ao canal britânico BBC o arqueólogo Antoine Dorison, coautor do estudo. "A maioria das pessoas imagina pequenos grupos, provavelmente nus, a viver em cabanas e a limpar a terra, isto mostra que os povos antigos viviam em sociedades urbanas complicadas."

Esta organização geral das cidades sugere uma existência de engenharia avançada para a época, tendo os autores do estudo, concluído que o urbanismo do vale do Upano "fornece mais uma prova de que a Amazónia não é a floresta intocada que foi retratada".

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