Na Europa, a cobertura mediática tende a diluir a emergência climática em notícias episódicas: uma onda de calor aqui, uma cheia ali, registando factos imediatos, sem aprofundar as causas, ou apresentar soluções.
Arde o país, num outro sentido, arde a Europa, e continuamos distraídos. Na televisão, a panaceia do costume. O melhor que temos no grande ecrã não é bom e, por vezes, elitista. Nenhuma será boa opção. As notícias são sempre as mesmas, há poucas relações entre o que acontece e o que o explica, entregam-se tempos infinitos a quem comenta e o que também poderia ser comentário, ninguém arrisca comentar. Como relacionar incêndios e crise climática se, para muitos não têm relação? Se é fogo posto, para quê falar da crise climática? Porquê misturar o que não precisa ser misturado? Talvez para pensar. Esta é a maior ameaça da nossa era, mas o espaço mediático que lhe é concedido raramente acompanha a urgência científica. Quando as chamas devoram milhares de hectares e as cinzas cobrem cidades inteiras, há manchetes, imagens dramáticas, helicópteros no ar. Depois, o fogo apaga-se, também do noticiário. O maior incêndio já registado em Portugal foi finalmente extinto. O tema, também, para mostrar o instante, esquecer o contexto.
Portugal viveu, este verão, os maiores incêndios das últimas duas décadas. Mais de 220 mil hectares arderam, ou mais de 10 vezes a área da cidade de Lisboa. Na UE, este ano, a área ardida é equivalente à superfície da Córsega. Milhões de toneladas de CO2 libertados para a atmosfera, o famoso gás efeito de estufa que retém o calor no Planeta, aquecendo-o. Se as ondas de calor, associadas a outros factores como a desertificação e o abandono da floresta, criam as condições perfeitas para incêndios violentos, o que falta acontecer? O debate público reduziu-se a acusações entre partidos, análises políticas superficiais e um ciclo de notícias que passou rápido demais. Não se discutiu a prevenção, nem as falhas estruturais do Estado, nem a ligação directa destes fenómenos ao aquecimento global.
O silêncio é cúmplice. O que sobra em conteúdo para nos entreter e distrair falta em notícias sobre este tema. Também na Europa, a cobertura mediática tende a diluir a emergência climática em notícias episódicas: uma onda de calor aqui, uma cheia ali, registando factos imediatos, sem aprofundar as causas, ou apresentar soluções. Nas redes sociais digitais, onde se concentra a atenção de todos e, sobretudo, das gerações mais novas, o vazio é ainda mais evidente. O Instagram, a plataforma preferida dos jovens adultos, podia ser um espaço estratégico de sensibilização ambiental. Mas os media de serviço público, em Portugal e fora dele, não o estão a utilizar de forma consistente. Tenho dedicado algum tempo a isto e, contas feitas, há uma quase ausência da #alteracoesclimaticas nas publicações jornalísticas portuguesas, substituída por conteúdos mais fáceis: fenómenos meteorológicos isolados. O clima é reduzido ao relato do estado do tempo. Nestas contas, esperava que os activistas tivessem ocupado o espaço deixado vazio mas, se antes Greta Thunberg, por exemplo, tinha o seu discurso centrado nas alterações e, depois na emergência climática, se fazia greve e estava de dedo em riste para nos lembrar sobre a importância do tema, gradualmente foi divergindo para uma abordagem sobre direitos humanos. Nisto, não há neutralidade possível: ou se dá visibilidade ao problema, ou se contribui para a sua invisibilidade.
A crise não é apenas ambiental: é também comunicacional, e os algoritmos não ajudam, ao privilegiar o entretenimento rápido, que gera cliques, mas falha na missão essencial de preparar cidadãos para os desafios do futuro. Sabemos que não é esse o seu papel ou responsabilidade. Mas podia ser. Deveria. Silenciar o clima é perpetuar a catástrofe. Neste domínio, a fotografia das chamas ganha sempre visibilidade mas não chega para contextualizar, explicar, perspectivar e apresentar soluções. Este silêncio insustentável transforma-se numa espécie de fogo que tudo aniquila porque, sem responsabilidade ou memória, não há futuro. Sem voz, o planeta será cada vez mais insustentável.
Na Europa, a cobertura mediática tende a diluir a emergência climática em notícias episódicas: uma onda de calor aqui, uma cheia ali, registando factos imediatos, sem aprofundar as causas, ou apresentar soluções.
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