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SÁBADO oferece livro que conta a história da governanta de Salazar

O que fez D. Maria depois da morte de Salazar? Despejada por Marcello Caetano, foi apoiada por famílias ligadas ao regime. Os últimos anos do ditador, como o célebre episódio da queda da cadeira, e da sua governanta, estão em destaque no segundo volume da biografia de Maria de Jesus.

No início de 1966, Maria de Jesus sofreu um problema cardíaco que lhe afetou o equilíbrio mental e a deixava perturbada, ao ponto de se levantar a meio da noite e deambular pelos corredores da casa. Salazar mostrava-se preocupado com o estado de saúde da sua governanta, que o acompanhava há mais de 40 anos, como confessou ao embaixador Franco Nogueira: "Tudo isto é uma perturbação, porque ela é uma peça fundamental desta máquina que não funciona sem ela e me escangalha a vida".

Salazar tinha dito, 20 anos antes, à jornalista francesa Christine Garnier: "Dei ordem à Maria para morrer depois de mim". O seu desejo iria cumprir-se. Mas, com a morte do ditador, a 27 de julho de 1970 (com D. Maria ao lado, ouvindo-o sussurrar as últimas palavras: "Sim, mãe, sim"), o que iria acontecer à governanta?

O novo Presidente do Conselho, Marcello Caetano, deu-lhe uma semana para abandonar o palacete de S. Bento, a residência oficial de Salazar desde abril de 1939. A saída aconteceu a 8 de agosto de 1970, de nada valendo as queixas de D. Maria, de que tinha pouco tempo para arrumar as coisas.

E agora? Para onde iria ela viver, uma vez que o apartamento que comprara em Benfica ainda estava em obras? Várias famílias, próximas de Salazar, deram-lhe guarida, assim como Micas (sua familiar e que crescera em S. Bento). Mas a escolha recaiu na oferta feita por António Cardoso, dono da Fundição de Oeiras, que lhe pôs à disposição a vivenda da família no Linhó (Sintra), uma vez que passava a maior parte do tempo em Paris.

Maria de Jesus iria morrer a 22 de maio de 1981, quase 11 anos depois de Salazar. Como foram os últimos anos da governanta do ditador? Esse é um dos assuntos em destaque no segundo (e último) volume de A Governanta – D. Maria, Companheira de Salazar, que sai gratuitamente com a SÁBADO de 13 de maio.

O livro, do jornalista Joaquim Vieira, foi publicado pela primeira vez em 2010, após 16 meses de investigação e escrita, sendo que esta reedição foi revista e aumentada. Neste segundo volume, abordam-se com pormenor os últimos anos do ditador, desde o episódio da queda da cadeira (que D. Maria iria atirar ao mar), a intervenção cirúrgica à cabeça ou os dois anos que durou a farsa de S. Bento, em que todos fingiam que Salazar ainda estava no poder, havendo mesmo antigos ministros e embaixadores a simularem pedidos de autorização de viagem para o exterior. Será que Salazar nunca suspeitou disso?

Entre os vários aspetos referidos no livro, há um surpreendente, que surge na sequência da trombose que Maria de Jesus sofre, sendo tratada no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, ficando depois internada no Lar João XXIII, no bairro de Alvalade, onde acaba por morrer dali a alguns meses.

Como escreve Joaquim Vieira, é então tirada a prova dos nove acerca de um enigma que se tornara histórico, e revelado pela diretora do lar: "Quando a algaliámos, na sequência de exames ginecológicos, ela sofria de infeção urinária crónica, comprovámos que estava completamente virgem. Virgem como veio ao mundo".

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