É previsível termos um aumento dos casos. Mas os especialistas reforçam que a alta taxa de vacinação da população portuguesa e o início da vacinação dos jovens, acima dos 12 anos, terá um impacto positivo. A não ser que surja uma variante nova.
Somos um exemplo no que toca à vacinação, mas é com um otimismo cauteloso que os especialistas avaliam os próximos meses. O ensino digital está posto de parte, mas é expectável que o número de casos de covid-19 aumente no nosso país com o regresso às aulas.
Quanto ao que o último trimestre de 2021 nos reserva? Ainda algumas incertezas. Os especialistas reforçam que não é possível prever como o vírus vai evoluir e se surgirá alguma variante capaz de "escapar" à proteção da vacina. Como defende o médico João Júlio Cerqueira, os próximos meses serão "a verdadeira prova de fogo da vacina. Se tudo correr dentro do esperado, é possível que haja um aumento tolerável do número de casos de covid-19, sem necessidade de tomar grandes medidas adicionais. Mas é possível, dadas as incógnitas existentes, que seja surpreendido." O matemático Henrique Oliveira concorda. "É difícil prever exatamente devido ao efeito ainda não estudado da duração do efeito da vacinação. Mas a nossa previsão é de decaimento lento no mês de setembro e tudo dependerá de novas variantes e de uma terceira toma no caso dos mais idosos para se poder prever o que vai acontecer em termos de mortes diárias."
Vamos ter nova onda da pandemia? Os especialistas acham que é pouco provável. Contudo, têm cautela no que toca a discursos otimistas. O professor do Instituto Superior Técnico, Henrique Oliveira, defende que poderemos ter uma nova onda "mas de forma muito moderada". E acrescenta: "Com a vacinação haverá sempre tendência, nesta fase ainda de tempo quente, de termos casos nos mais jovens ainda não vacinados que se podem transmitir aos mais velhos. A situação será mais complexa no pico do inverno, e não há ainda muitos dados, para se entender qual o real período de proteção dado pelas diferentes vacinas. O mito do limiar da imunidade de grupo não será alcançado e isso significa que teremos sempre vírus em circulação nos anos que se seguem. Teremos de controlar os danos de forma a manter a sociedade a funcionar. O covid-19 é uma doença grave mas muito menos grave do que já foi sem a vacinação."
Lúcio Meneses de Almeida, médico de Saúde Pública, acredita que as escolas não irão causar uma nova vaga, mas que teremos uma "aceleração da atividade epidémica." O motivo é simples: "É uma doença de transmissão interpessoal, e sempre que há oportunidades de contacto entre pessoas em espaços fechados, há um aumento de transmissão."
Carlos Manuel Correia Antunes, matemático e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, concorda. Mas deixa um alerta: "Existem ainda algumas incertezas, nomeadamente, quanto à verdadeira efetividade vacinal contra infeção." O especialista explica à SÁBADO os desafios que nos esperam: "As únicas faixas etárias onde ainda se vê uma dinâmica de aumento de casos é nas faixas não ou menos vacinadas (0 aos 29 anos). Neste momento temos as faixas dos 10-19 e 20-29, principalmente nas regiões do Norte e do Centro com taxas diárias de aumento de casos. E até recentemente, também no Algarve essas faixas estavam a aumentar o número de casos, estando agora em decréscimo. São essas faixas e essas regiões que estão a impedir a franca diminuição do número de casos diários." E avança que com "a conclusão da vacinação completa na faixa etárias dos 20-29 e 30-39 (agora com 55% e 74% de cobertura vacinal, respetivamente) e depois com a faixa dos 12-19 anos que poderá atingir os 80% de vacinação completa no início do mês de outubro, atirando a cobertura vacinal completa e global para os 80-85%, muito dificilmente teremos uma nova onda."
O médico João Júlio Cerqueira defende que não há ainda grandes certezas do que poderá acontecer. Porquê? "Dada a grande taxa de vacinação existente na população geral e ao facto da maioria das crianças não apresentarem sintomas para a covid-19. Esse risco existe, mas estou esperançoso que este ano letivo vai ser bem menos atribulado que o ano anterior, a não ser que surjam novas variantes que nos surpreendam pelo efeito de escape à vacina ou mesmo a infeções prévias."
Para continuar a ler
Já tem conta? Faça login Para activar o código da revista, clique aqui
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.