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Quem é Eva RapDiva, a rapper e ativista candidata à Assembleia da República pelo PS?

Ativista que deu entrada no mundo político com as suas músicas que criticam a sociedade e as suas injustiças, Eva é a mais recente candidata pelo PS à Assembleia da República pelo círculo de Lisboa.

Não é todos os dias que uma pessoa ligada às artes decide trocar de carreira pela política. Entre 1979 e 1983, a poetisa Natália Correia foi eleita deputada à Assembleia da República pelo Partido Popular Democrático (PPD) e pelo Partido Renovador Democrático (PRD) de 1987 a 1991. Também a jornalista Manuela Moura Guedes, que lançou o seu álbum "Alibi" em 1982, foi eleita em 1995 à Assembleia pelo Partido Popular (CDS-PP), tendo saído um ano depois. Ainda, a antiga líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, atriz e co-fundadora da companhia de teatro "Visões Úteis", entrou pelo Parlamento pela primeira vez em 2009 e saiu em 2023.

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Agora poderá ser a vez de Eva Cruzeiro, também conhecida por Eva RapDiva. A rapper de 36 anos luso-angolana é candidata à Assembleia da República pelo círculo de Lisboa do Partido Socialista (PS) nas próximas eleições legislativas, marcadas para o mês que vem. A artista surge em oitavo lugar na lista, e tendo em conta que em 2024 o partido elegeu 15 deputados pelo distrito de Lisboa, é provável que Eva seja eleita este ano.

Cresceu na Margem Sul do Tejo, na Arrentela, e foi lá que o seu entusiasmo pelo hip hop nasceu. Ouvia Chullage, Boss AC e Da Weasel, a maioria artistas dos arredores, onde estava situado o núcleo deste género de música. Anos depois mudou-se para o outro lado do rio e passou a frequentar uma escola na Amadora, onde a sua paixão floresceu e a partir de onde começou a aperfeiçoar a arte do freestyle. Foi em 2006, numa sessão de freestyle com Sam The Kid e Sir Scratch que Eva se começa a tornar uma estrela de hip hop. 

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Em 2009 a artista mudou-se para Angola, e foi lá que se profissionalizou no hip hop e no rap, apesar de não ter sido esse o motivo para a sua mudança. Em 2014 lançou o seu primeiro disco "Rainha Ginga do Rap", e mais tarde em 2017 lançou o álbum "Eva", em homenagem à sua avó com o mesmo nome. 

Numa entrevista com o Rimas e Batidas, Eva confessa que o seu álbum foi lançado primeiro em 2017 em Angola e apenas um ano mais tarde foi colocado em outras plataformas. "Não fiz esse álbum para Portugal", recorda, "não é que eu faça álbuns para mercados, mas não o fiz a pensar no público português".

O disco conta com músicas como Um Assobio Meu que lhe valeu um prémio de artista do ano em Angola, onde conta as injustiças e a corrupção presentes na sociedade angolana. "Lutamos com o leões na cidade safari/ Enquanto alguém que gere o povo manda vir um Ferrari / Pra ser sincera o meu problema é só um / Eles deitam picanha, raspamos latas de atum", diz uma letra. "A culpa é minha, a culpa é tua, da polícia e do bandido / A culpa é de quem corrompe não é só do corrompido".

"Se queres mudança, toma agora decisões"

A jovem tem, desde então, ganhado notoriedade não só pela sua carreira musical e pelo seu envolvimento em causas sociais, assumindo um papel de ativista, mas também no início de uma vida política bastante ativa. Começou por tirar uma licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Lusófona, complementando com uma pós-graduação em direitos humanos pela Universidade Católica Portuguesa, uma pós-graduação em gestão financeira pelo Instituto Superior de Gestão e um mestrado em Global Development pela SOAS University of London. 

O ano passado esteve na representação portuguesa da Comissão Europeia a propósito do apelo ao voto nas eleições europeias desse ano. Numa publicação feita na época escreveu: "Sempre um enorme prazer poder trocar impressões com a Exma. Sofia Moreira de Sousa, Representante da União Europeia em Portugal, uma mulher com um percurso profissional incrível. Antes de ser a Representante da Comissão Europeia em Portugal, passou por vários países africanos, o que faz de si alguém com uma visão de mundo com a qual me identifico bastante."

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Na mesma altura, moderou um debate com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel na Fundação Gulbenkian, num projeto que junta 130 jovens da Europa durante quatro dias para discutir o futuro do bloco. A sua ligação ao PS também remete para a mesma altura, quando apoiou a candidatura de Bruno Gonçalves, deputado europeu, a secretário-geral da Juventude Socialista. 

Fez parte ainda de uma delegação junto do CCW (Centro sobre Certas Armas Convencionais), das Nações Unidas onde tem "o papel de investigadora/researcher e advocacy em benefício da regulação dos LAWS (Sistemas de Armas Autónomas Letais) por meio de uma abordagem centrada no humano (human-centred approach)".

É através da rede social X, que critica o panorama político português e mundial, cabordando questões como a habitação, a saúde, analisando ainda decisões e medidas tomadas pelo governo angolano. 

Recentemente, Bruno Gonçalves veio apoiar a candidatura de Eva para a Assembleia da República com uma publicação no Instagram onde diz que é "uma aposta certa numa ativista que, a partir da música e da política, transforma vidas". Acrescentando que "a partir de agora tem uma enorme tarefa de mudar a forma de fazermos política em Portugal e de reaproximarmos os valores de Abril de quem mais precisa". Como a própria diz na sua música "Incondicional", em colaboração com os artistas Deezy e Teo No Beat, "se queres mudança, toma agora decisões". 

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