Secções
Entrar

Eutanásia passa a ser paga pelo Estado na Bélgica

Lucília Galha 04 de novembro de 2025 às 13:07

A decisão não é inédita - em Espanha, o sistema de saúde também cobre esta despesa -, mas recebeu críticas.

Desde o início do mês de novembro que, na Bélgica, a eutanásia passou a ser comparticipada pelo Estado. A despesa, que dantes recaía sobre as famílias, é agora assumida pelo organismo equivalente à Segurança Social em Portugal – o chamado Instituto Nacional de Seguro de Saúde e Invalidez (INAMI).
Direitos Reservados
Segundo o organismo, o ato custa cerca de 180,24 euros, sendo que o montante inclui o produto usado para pôr termo à vida da pessoa, o procedimento e a emissão da certidão de óbito. O valor será agora pago ao médico que levar a cabo o procedimento. Os legisladores belgas consideraram que a despesa representava um fardo importante para as famílias. Na Bélgica, esta prática está longe de ser rara – até porque a eutanásia está legalizada no país desde 2002. Foi um dos primeiros a fazê-lo e tem uma das leis mais progressistas do mundo – por exemplo, desde 2014, estendeu a sua aplicação a menores em estado terminal e com sofrimento físico insuportável. No ano passado houve 3.991 registos, um aumento de 16,6% relativamente ao ano anterior – número que representa 3,6% de todas as mortes registadas no país, segundo o instituto de estatística nacional, Statbel. A maioria dos pacientes eutanasiados eram maiores de 70 anos – e os casos abaixo dos 40 continuam a ser raros (só 1,3%). A comparticipação foi bem recebida pela comunidade médica e pelos ativistas das associações de Direito a Morrer com Dignidade – que consideram que se trata do reconhecimento de que a eutanásia é um ato médico, que se enquadra na categoria de assistência a um paciente –, mas também recebeu críticas. Sobretudo porque há problemas que não recebem tal atenção do Estado, como as pessoas com demência ou os problemas de saúde oral. Na verdade, a decisão do estado belga não é inédita. Noutros países em que a prática está despenalizada passa-se exatamente o mesmo – é o caso de Espanha, em que desde 2021 o sistema público de saúde espanhol cobre o suicídio assistido (eutanásia e suicídio medicamente assistido) para pessoas com doença grave e incurável que cause sofrimento insuportável, entre outros critérios. Já nos Países Baixos, a prática é coberta pelos planos de seguro mais básicos e como tal é sempre reembolsada. Em Portugal, apesar de a lei da morte medicamente assistida estar aprovada desde 2021, nunca chegou a ser regulamentada e por isso nunca entrou em vigor. O percurso tem tido mais , com três chumbos do Tribunal Constitucional – o último já foi este ano. Perante o atual desenho da Assembleia da República, e da intenção explícita da maioria de direita que não quer a reabertura do tema, o mais certo é a legalização ficar congelada até ao fim desta legislatura.
Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela