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Adolescente morre em “cabana de menstruação” proibida no Nepal

Luana Augusto com Ana Bela Ferreira 11 de agosto de 2023 às 11:30

Nepalesas são incentivadas a permanecer isoladas. Anita Chand, de 16 anos, não é a primeira rapariga a morrer durante o cumprimento desta tradição.

Uma menina de 16 anos morreu no Nepal, na passada quarta-feira, depois de ter sido picada por uma cobra, enquanto dormia. A sua morte aconteceu enquanto cumpria uma tradição ilegal de chhaupadi, onde as mulheres menstruadas são forçadas a permanecer em cabanas fora das suas casas.

REUTERS/Navesh Chitrakar

A polícia do distrito de Baitadi já disse que vai continuar a investigar a morte de Anita Chand, uma vez que a família negou que estivesse menstruada quando morreu.

Esta não é a primeira mulher a morrer durante o cumprimento da tradição de chhaupadi. Desde que o Nepal lançou uma nova lei sobre a criminalização destas práticas, em 2017, já pelo menos sete pessoas morreram.

A última morte relatada foi em 2019. Parwati Busha Rawat, de 21 anos, terá morrido depois de ter passado três dias na "cabana de menstruação". Só naquele ano, a sua morte já tinha sido o quinto caso.

A maioria das mulheres terá perdido a vida devido a inalação de fumo. Durante a Chhaupadi, é habitual acender-se fogueiras dentro de cabanas sem janelas, durante os períodos de inverno. Além desta causa, o mais comum também é morrerem por ataques de animais, como aconteceu no caso de Anita. O afastamento das mulheres acontece porque são que são vistas como impuras e intocáveis durante a mestruação.

A morte de Parwati, em 2019, levou a campanhas em todo o país para acabar com esta prática. Na altura, milhares de cabanas foram destruídas, e mais tarde reconstruídas.

"Depois da morte de Parwati, destruímos mais de 7.000 cabanas", disse Pashupati Kunwar, um ativista que faz campanha contra o chhaupadi há 25 anos. "De repente veio a Covid e o foco mudou. As pessoas começaram novamente a reconstruir cabanas. Não houve mais programas e campanhas sobre a chhaupadi. As pessoas quase pararam de falar sobre isso", acrescentou, ao jornal The Guardian.

Segundo Radha Paudel, fundadora da Global South Coalition for Dignified Menstruation, a culpa é do governo que não implementa as normas. "Existe uma lei que criminaliza o banimento de mulheres durante o período menstrual e também existem políticas, mas o próprio governo não as implementa."

Proibido desde 2005, a prática de chhaupadi, que tem ligações ao hinduísmo e que está profundamente enraizada no Nepal, é punível com até três meses de prisão e uma multa de 3 mil rupias (32 euros).

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