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Cientistas sugerem ligação entre doença de Alzheimer e vírus no cérebro

21 de junho de 2018 às 16:09
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Um estudo identificou níveis elevados de dois tipos de vírus em amostras de cérebro de pessoas que revelavam sinais da doença de Alzheimer.

Cientistas sugerem, num estudo divulgado esta quinta-feira, a ligação entre a doença de Alzheimer, a forma mais comum de demência, e a presença de vírus no cérebro.

O estudo, divulgado na publicação da especialidade Neuron, identificou níveis elevados de dois tipos de herpes-vírus humanos - 6A e 7 - em amostras de cérebro de pessoas que revelavam sinais da doença de Alzheimer. Contrariamente, os níveis eram mais baixos em cérebros saudáveis.

A abundância destes vírus-chave em cérebros afetados pela doença de Alzheimer pode levar à degradação e morte das células cerebrais (neurónios) ou agir de outra maneira, refere em comunicado a universidade norte-americana do Arizona, que coordenou o estudo.

"Não podemos dizer se os herpes-vírus são a principal causa da doença de Alzheimer, mas o que é claro é que perturbam e participam nas redes directamente subjacentes na pato-fisiologia da Alzheimer", afirmou, citado em comunicado da universidade, um dos autores do estudo, Joel Dudley, professor de genética e ciências genómicas.

Os herpes-vírus humanos 6A e 7, aos quais a maioria das pessoas está exposta no início da vida, entram no organismo através do revestimento nasofaríngeo.

Segundo os investigadores, um dos vírus-chave, o 6A, regula a expressão de alguns genes de risco da doença de Alzheimer e os genes que regulam o processamento da proteína amilóide, um ingrediente importante nesta patologia neuro-degenerativa (concentrações da proteína amilóide formam placas no cérebro que são características na Alzheimer).

A informação sobre a função do herpes-vírus 6A, obtida a partir da análise do tecido cerebral de doentes, foi complementada com estudos envolvendo ratinhos, nos quais os cientistas avaliaram o efeito da redução de 'miR155', uma molécula que regula o sistema imunitário.

Os resultados revelaram que os ratinhos com menos 'miR155' tinham mais depósitos de placas amilóides no cérebro e alterações comportamentais.

O herpes-vírus 6A é conhecido por diminuir a presença desta molécula, o que, de acordo com os cientistas, dá mais peso a um possível contributo dos vírus para a doença de Alzheimer.

Os autores do estudo sustentam que a confirmar-se que vírus ou outros agentes infecciosos desempenham um papel no desenvolvimento da doença Alzheimer, tal pode conduzir a novas terapias anti-virais ou imunológicas para combater a patologia antes do aparecimento dos sintomas.

A equipa de investigadores explorou a presença de herpes-vírus em seis regiões-chave do cérebro conhecidas como muito vulneráveis a danos causados pela Alzheimer e que precedem em várias décadas o diagnóstico da doença.

O estudo baseou-se em dados de sequenciação genética (ADN e ARN) de 622 dadores de cérebro com as características da doença de Alzheimer e de 322 dadores de cérebro 'normais', assim como em informação clínica sobre a evolução e gravidade da patologia antes de as pessoas morrerem.