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Ator José Pinto morre aos 95 anos

Lusa 16 de fevereiro de 2024 às 16:27
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A sua carreira passou pelo cinema, televisão e teatro.

O ator José Pinto morreu, aos 95 anos, confirmou à Lusa o diretor do Teatro Experimental do Porto (TEP), companhia da qual era sócio honorário.

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O diretor do TEP, Gonçalo Amorim, lamentou a morte do ator, que "deve ter sido dos atores que mais espetáculos fizeram no TEP", sublinhando que é um momento de luto para a companhia.

Na página do ator no Facebook foi publicada hoje uma mensagem a dar conta da sua morte: "É com grande pesar que anunciamos a morte do nosso José Pinto, tendo falecido calmamente em sua casa na passada noite. Aproveitemos este momento não apenas para lamentar esta triste notícia, como para celebrar a vida e obra de um Homem que sempre procurou dar o melhor de si aos outros, seja através do pequeno ou grande ecrã, teatro ou cara a cara com aqueles que lhe foram mais próximos."

O corpo de José Pinto está a partir de hoje em câmara ardente na Igreja do Candal, em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, estando o funeral marcado para sábado às 10:00, no mesmo local.

José Pinto começou a carreira artística nos grupos de amadores, tendo trabalhado no Grupo do Sporting Candalense entre 1959 e 1967. No ano seguinte junta-se ao TEP, de acordo com a ficha disponível na base de dados do Centro de Estudos de Teatro (CET).

O primeiro espetáculo do TEP em que participa, segundo a mesma lista, é "Gorgónio", de Tulio Pinelli, logo em 1962, enquanto amador, constando do elenco de várias peças durante a década de 1960, como "O Auto da Alma", de Gil Vicente, e "O Tio Simplício", de Almeida Garrett.

A sua ligação ao TEP, entretanto reforçada, estende-se por dezenas de peças nas décadas seguintes: de "Bodas de Sangue", de Lorca, em 1970, e "A Casa de Bernarda Alba", do mesmo autor espanhol, dois anos depois, a "Vítimas do Dever", de Ionesco, ainda antes do 25 de Abril, e "Woyzeck", de Büchner, em março de 1974.

De acordo com a lista do CET, a última produção do TEP em que participa é "É uma só a liberdade", de Norberto Barroca e Manuel Dias, em 1999, no bicentenário de Almeida Garrett, tendo já este século feito parte de produções do Teatro Nacional São João e do Teatro do Bolhão, a última das quais em 2016.

O Memoriale do Cinema Português, de Jorge Leitão Ramos, lembra que a vontade de ser ator "só muito tarde" se exprimiu na vida de José Pinto.

"Aconteceu em 1962 quando, amador, integrou o elenco de 'Gorgónio', de Tulio Pinelli, dirigido por Paulo Renato, no TEP. Mas foi uma experiência sem devir imediato. Era-lhe impensável abandonar a atividade profissional como electrotécnico para abraçar a aventura do teatro. Todavia, em 1967, o TEP volta a convidá-lo -- para 'O Mistério da Fábrica de Chocolates', de José António Ribeiro (enc. Fernanda Alves) -- e José Pinto começa a pensar que talvez seja possível conciliar as duas atividades", pode ler-se na entrada sobre o ator.

Em 1993, já com mais de 60 anos, Manoel de Oliveira convida-o para "Vale Abraão" (filme que hoje encerra as comemorações do sétimo aniversário do Cinema Trindade, no Porto), o que faz com que "aquele ator modesto e de limitada popularidade confinada ao Porto [seja] catapultado para uma audiência nacional e internacional", como escreve Jorge Leitão Ramos.

"O primeiro resultado disso é, no ano seguinte, o convite de Luis Miguel Cintra para vir a Lisboa integrar o elenco de 'O Conto de Inverno', de William Shakespeare, que a Cornucópia levou à cena no Teatro da Trindade. Mas os anos 1990 serão sobretudo a afirmação de José Pinto como ator de cinema", acrescentou o mesmo autor sobre o profissional que entrou em filmes como "Jaime", de António-Pedro Vasconcelos, "Peixe Lua", de José Álvaro Morais, "O Delfim", de Fernando Lopes, e "Coisa Ruim", de Tiago Guedes e Frederico Serra, entre muitos outros.