Jornalista considera que os afegãos apoiantes dos EUA sentem o mesmo que muitos africanos, combatentes do lado de Portugal na guerra colonial.
A jornalista Sofia de Palma Rodrigues considera que os afegãos apoiantes dos EUA sentem o mesmo que muitos africanos, combatentes do lado de Portugal na guerra colonial, com a diferença que estes eram portugueses e, por isso, integraram o exército.
A autora assina um trabalho de investigação sobre a africanização das tropas portuguesas, que começa a ser publicado quinta-feira na revista digital "Divergente", e, em declarações à Lusa, considera que se podem comparar os dois casos.
"Por ti, Portugal, eu juro!" é o nome da reportagem que será publicada em quatro capítulos, até janeiro de 2022, e também o pretexto de um debate que acontece quinta-feira no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, durante o qual participarão dois comandos africanos.
Sobre os comandos africanos da Guiné-Bissau que combateram ao lado do exército português durante a guerra colonial, a primeira tropa de elite das Forças Armadas Portuguesas integralmente composta por homens negros, Sofia de Palma Rodrigues afirma que tudo está por contar e, para muitos deles, tudo por fazer.
"O que aconteceu com as antigas colónias portuguesas em África é exatamente o mesmo que está a acontecer com quem apoiou os Estados Unidos no Afeganistão, mas com uma grande diferença: Estas pessoas não estavam a apoiar Portugal, elas eram portuguesas", disse à agência Lusa a jornalista.
A autora deste trabalho, que conta com entrevistas a cerca de 30 comandos africanos na Guiné e em Portugal, considera que "o contributo que os africanos deram para as forças armadas durante a guerra colonial" é "um tema muito pouco falado".
"Até aqui, a história da guerra colonial foi contada a partir de uma narrativa de quem a venceu (os militares de Abril) e é essa a narrativa que temos em Portugal: o 25 de abril como uma revolução pacífica, em que não houve sangue, que as armas foram cravos. Mas isso acaba por ser uma narrativa bastante simplista, porque se olharmos para África: em África houve sangue, houve armas".
Sofia de Palma Rodrigues surpreendeu-se com "a solidariedade dos militares metropolitanos, em Portugal", que "são solidários e dizem que eles têm toda a razão em se queixarem, porque eles foram totalmente abandonados. Eram grandes combatentes e foram abandonados".
Uma compreensão que a jornalista não encontrou junto de algumas instituições oficiais, como arquivos ou depositários de dados estatísticos e que "tendem sempre a dizer que essas pessoas não foram importantes e não há dados sobre elas porque não foram importantes".
"Como não foram importantes? Elas foram uma tropa de elite, foram a linha da frente da guerra na Guiné", declarou.
Sofia de Palma Rodrigues acredita que este é um tema que "vai ser desconfortável, tanto para a esquerda como para a direita", mas sublinha: "A maioria destes homens não foi para o lado de Portugal porque fez uma escolha ideológica ou porque acreditava no projeto colonial. Foram para o lado de Portugal ou do [Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde] PAIGC, muito por força das circunstâncias".
"Os homens que viviam das cidades, mais próximos das tropas portuguesas, os que viviam nos campos, mais perto da mata e dos acampamentos do PAIGC, foram mais para o lado da guerrilha do PAIGC. Isto tudo acontece num contexto em que o serviço militar era obrigatório para todos os homens, com mais de 18 anos".
E acrescenta: "A maioria das pessoas com quem falámos nem sequer sabiam o que era a guerra ou o que significava a guerra. Muitas delas nunca tinham ouvido falar do PAIGC. O PAIGC eram os terroristas e eram os terroristas porque era assim que a administração colonial dizia que aquelas pessoas eram".
Para a jornalista, "há tudo para fazer no sentido de o Estado português começar a olhar e a pensar neste tema como um abandono. Estas pessoas foram realmente abandonadas. Perseguidas pelo PAIGC e abandonadas do lado de Portugal, ficaram no lado errado da história, porque não estão no lado de quem venceu de nenhum lado".
"Na Guiné, ganhou o PAIGC e foram perseguidos. Em Portugal, ganharam os militares de Abril, com um discurso anticolonial, pela descolonização, mas que deixou para trás todas estas pessoas e Portugal passa a constituir-se como um país praticamente de pessoas brancas. Na revolução de Abril, não pensas que existiram africanos a contribuir para a revolução de abril e eles existiram".
Dos 1,4 milhões de militares metropolitanos e africanos que combateram na guerra colonial, 443 mil eram africanos, aos quais Portugal chamava de nativos.
Estes encontravam-se nas frentes das guerras em Angola (229.000=, Moçambique (171.000) e Guiné-Bissau (43.000).
"Por ti, Portugal, eu juro!" é uma investigação que começou em 2016 e será contada um quatro capítulos, o primeiro dos quais estará disponível na "Divergente" esta quinta-feira. O segundo será publicado em novembro, o terceiro em dezembro e o quarto e último em janeiro do próximo ano.
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