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Síria: Fotos de desertor são prova de crimes do regime

16 de dezembro de 2015 às 18:57

A Human Rights Watch divulgou um relatório sobre as fotografias de milhares de pessoas torturadas até à morte em prisões sírias divulgadas por um desertor

As fotos de milhares de pessoas torturadas até à morte em prisões sírias divulgadas por um desertor são "prova contundente" de crimes contra a humanidade, concluiu uma investigação da organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) divulgada esta quarta-feira.

A organização de defesa dos direitos humanos investigou ao longo de nove meses 28.707 das mais de 53.000 fotografias retiradas clandestinamente da Síria por um fotógrafo da polícia militar, com o nome de código "Caesar", que desertou em Julho de 2013.


As fotos mostram corpos de cerca de 6.000 detidos sírios, muitos com sinais de tortura e de fome, que alegadamente morreram em centros de detenção ou em hospitais militares.

"Verificámos meticulosamente dezenas de histórias e estamos confiantes de que as fotografias de "Caesar" apresentam provas autênticas e contundentes de crimes contra a humanidade na Síria", afirmou o vice-director da HRW para o Médio Oriente, Nadim Houry.

"Cada detido nestas fotografias era o filho de alguém, marido, pai ou amigo, e a sua família e amigos passaram meses à sua procura", frisou.

A HRW identificou 27 vítimas e entrevistou 33 familiares, 37 antigos detidos e quatro antigos guardas de centros de detenção ou hospitais militares que desertaram.

Uma das vítimas, Ahmad al-Musalmani, de 14 anos, morreu na prisão depois de ter sido detido em 2012 por ter uma canção contra o regime no telemóvel.

O tio de Ahmad, Dahi al-Musalmani, passou anos a tentar encontrar o sobrinho e gastou mais de 14.000 dólares em subornos para tentar a sua libertação.

Só soube o destino de Ahmad quando o identificou em fotografias de "Caesar". "Fui directamente à pasta dos serviços de informações da Força Aérea e encontrei-o", disse à HRW.

"Foi um choque. Foi o maior choque da minha vida vê-lo ali. Eu procurei-o, procurei-o durante 950 dias. Quando a mãe dele morreu, disse-me: 'Deixo-o sob a tua protecção. Que protecção podia eu dar-lhe?", disse.

A organização apelou aos países envolvidos em conversações de paz para a Síria que dêem prioridade à libertação de milhares de prisioneiros.

A Rússia e o Irão, principais apoios do Presidente sírio, Bashar al-Assad, têm "uma responsabilidade particular" de garantir o acesso imediato de observadores internacionais a centros de detenção no país, defendeu.

"O Governo registou estas mortes, processando dezenas de cadáveres de cada vez, e nada fez para investigar as causas de morte ou para prevenir que outras pessoas sob sua custódia morressem", disse Houry.

"Aqueles que estão empenhados num processo de paz devem garantir que estes crimes acabam e que as pessoas que supervisionaram este sistema são responsabilizadas pelos seus crimes", acrescentou.

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