Secções
Entrar

Abramovich sobre nacionalidade portuguesa: "Não há agenda oculta"

16 de fevereiro de 2022 às 07:32

Empresário multimilionário russo Roman Abramovich ainda não foi contactado no âmbito dos inquéritos abertos ao processo de obtenção da nacionalidade portuguesa.

O empresário multimilionário russo Roman Abramovich não foi contactado sobre os inquéritos em curso ao processo de obtenção da nacionalidade portuguesa como descendente de judeus sefarditas e mantém que cumpriu a lei, afirmou uma porta-voz à agência Lusa.

"Como afirmámos em dezembro, a candidatura foi feita inteiramente de acordo com a lei portuguesa", indicou a fonte.

Embora tenha direito à cidadania lituana por via do pai e avós, deportados durante a II Guerra Mundial, Abramovich pediu a portuguesa devido ao "espírito acolhedor" da legislação. 

"A lei portuguesa do regresso não só permite, como encoraja ativamente judeus com ascendência portuguesa comprovada a estabelecer raízes em Portugal. Este espírito acolhedor atraiu Abramovich, que viu a candidatura à cidadania portuguesa como uma oportunidade para honrar a história da sua família e, ao mesmo tempo, apoiar a comunidade judaica local, contribuindo para a preservação da vida judaica em Portugal", justificou a porta-voz. 

Ao contrário de várias notícias na comunicação social, salientou, "não há benefício imediato ou agenda oculta por trás de nada disto", lamentando a "publicação de muita informação falsa".

Com casas e família espalhada pela Rússia, Estados Unidos, Londres e Israel, o empresário russo está determinado a provar que pediu a nacionalidade portuguesa de boa-fé, com planos de investimento económico e donativos a instituições de beneficência, como fez em outros países.  

"Ao longo do último ano, temos estado a avaliar a melhor forma de contribuir tanto para a preservação da herança judaica como o apoio à sociedade em geral em Portugal. Esperamos que alguns desses planos sejam realizados num futuro próximo", indicou a porta-voz à Lusa.

Abramovich naturalizou-se português em abril de 2021 ao abrigo da Lei da Nacionalidade como descendente de judeus sefarditas expulsos de Portugal no século XV, revelou em dezembro o jornal Público. 

Milhares de pessoas usaram o mesmo programa desde a entrada em vigor da lei, em 2015.

Além do passaporte russo, Abramovich naturalizou-se israelita em 2018 no âmbito da Lei de Regresso, beneficiando da isenção de visto de entrada nos países europeus, não só da União Europeia (UE) como também o Reino Unido. 

Roman Abramovich ganhou renome internacional com a compra do clube de futebol londrino Chelsea FC, em 2003, no qual investiu milhões de euros para o elevar ao nível dos grandes europeus, contratando jogadores e treinadores famosos. 

O recrutamento em 2004 do treinador José Mourinho e de um contingente de jogadores portugueses, nomeadamente Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho e Tiago, tornou-o também conhecido em Portugal. 

Ao longo de quase duas décadas transformou o Chelsea FC num dos grandes da Primeira Liga inglesa e das competições europeias, mas a maior visibilidade atraiu escrutínio sobre os seus negócios as suas ligações ao regime do Presidente russo, Vladimir Putin. 

Em 2018 retirou o pedido de renovação do visto de investidor no país devido ao conflito diplomático entre o Reino Unido e Rússia, na sequência do envenenamento do antigo espião Sergei Skripal em Inglaterra. 

Na altura, a então primeira-ministra Theresa May ordenou uma reavaliação dos vistos atribuídos a centenas de "oligarcas russos" no país, porém Abramovich nunca foi sujeito a sanções internacionais. 

Em dezembro, o opositor político russo Alexei Navalny criticou a decisão de Portugal de conceder a naturalização a Abramovich, questionando a legalidade e associando o empresário a Putin, numa altura de tensão militar na Ucrânia.

"Finalmente conseguiu encontrar um país onde pode pagar alguns subornos e fazer alguns pagamentos semioficiais e oficiais para acabar na União Europeia e na NATO", escreveu Navalny na rede social Twitter.

Mas a natureza do relacionamento entre Putin e Abramovich foi posta em causa recentemente na justiça britânica, que forçou a editora HarperCollins a pedir desculpas e a retirar do livro "Putin's People" as alegações de que o clube de futebol foi comprado sob ordens do chefe de Estado.

A Associação Frente Cívica, liderada pelo antigo candidato à Presidência da República portuguesa e antigo vice-presidente da Câmara do Porto Paulo de Morais, considerou "mais do que duvidosa [a] ligação de Abramovich às comunidades de judeus sefarditas".

O Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa e o Instituto dos Registos e Notariado (IRN) abriram, separadamente, inquéritos para verificar a conformidade do processo de Abramovich.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela