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Depardieu começou a ser julgado por agressão sexual. Defesa pediu anulação

"Métodos estalinistas" e uma "investigação defeituosa". Foi com estes argumentos que a defesa francesa tentou anular o julgamento ao ator francês.

O ator francês Gérard Depardieu, de 76 anos, começou esta segunda-feira a ser julgado por agressão sexual, assédio e abuso. Depardieu nega todas as acusações e diz nunca ter forçado nenhuma mulher a envolver-se sexualmente com ele.

AP Photo/Aurelien Morissard

O primeiro dia do julgamento do ator ficou marcado por ataques da defesa à acusação. O advogado de Depardieu, Jérémie Assous, pediu a anulação do processo e considerou que o mesmo nasceu de uma investigação policial "defeituosa" e que a oposição recorreu a "métodos estalinistas" (que Depardieu conhecerá bem, já que desempenhou o papel do ditador russo no filme O Divã de Estaline). O advogado disse mesmo ter sido orquestrada uma conspiração entre os denunciantes, a comunicação social e a polícia de forma a poderem "derrubar um monstro sagrado do cinema francês". 

Durante as alegações iniciais, Depardieu disse, na sua voz rouca que "era difícil" estar a depor num caso como este e negou ter praticado os atos de que é acusado. Caso seja condenado, pode enfrentar até cinco anos de prisão e uma multa de 75 mil euros. 

O ator foi denunciado por conduta imprópria por duas queixosas, uma cenógrafa e uma assistente de realização do filme Les Volets Verts, de Jean Becker, em 2021. O caso foi denunciado pelo jornal francês Mediapart. Uma das queixosas contou ao jornal que num convívio em que se encontravam, Depardieu, entre gritos, se queixou de não conseguir ter uma ereção, por causa do calor, gabou-se de "fazer as mulheres gozarem sem lhes tocar" e, mais tarde, agarrou-a com força, ao mesmo tempo que fazia "comentários obscenos". A assistente de realização acusa Gérard Depardieu de lhe ter tocado duas vezes, no "peito e nas nádegas", durante a rodagem do filme.

A advogada de uma das queixosas, Carine Durrieu-Diebolt, respondeu dizendo que a defesa estava apenas a tentar ganhar tempo para evitar que se chegasse à "substância do caso".

Esta não é a primeira vez que Depardieu é acusado de comportamentos sexuais inapropriados. A atriz Charlotte Arnould apresentou queixa contra o ator, em 2018. Em agosto passado, o Ministério Público de Paris requereu o julgamento do ator por violação, mas o juiz de instrução encarregado do caso ainda não decidiu o desfecho. "Nunca, nunca abusei de uma mulher", garantiu o ator numa carta aberta publicada no jornal Le Figaro em outubro de 2023.

À porta do tribunal estavam dezenas de manifestantes que protestavam contra a "justiça cúmplice da violência sexista" e defendiam que se acreditasse nas vítimas e não nos alegados violadores, conta a Agence France Press. Nos últimos dois anos começaram a ser julgados em França dois crimes de violência sexual que ganharam contornos internacionais: o de Gisèle Pelicot, cujo marido a drogava para que outros homens a violassem, e o de Joël Le Scouarnec, cirurgião francês que está a ser julgado por ter abusado sexualmente de 299 pessoas, na maioria crianças.

O julgamento que hoje se iniciou esteve agendado para o outono, mas foi adiado por razões médica. 

Premiado com um César de Melhor Ator em 1981 pelo desempenho em O Último Metro, de François Truffaut, e em 1991 por Cyrano de Bergerac, de Jean-Paul Rappeneau, Gérard Depardieu foi durante várias décadas o ator de referência do cinema francês.

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