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As memórias "bombásticas" de D. Juan Carlos

Sónia Bento
Sónia Bento 03 de julho de 2025 às 07:00
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O rei emérito de Espanha será o primeiro monarca a autobiografar-se. Exilado em Abu Dhabi há cinco anos, o pai de Felipe VI não comunicou ao filho a sua intenção porque sempre fez o que lhe apeteceu. O livro sai a 12 de novembro e vai ser polémico.

"Vai ser uma bomba!" é o que garantem os mais próximos de D. Juan Carlos I sobre as suas memórias.Reconciliação, a autobiografia do pai de Felipe VI, já tem data de publicação: 12 de novembro. Escrito pelo próprio punho do rei emérito de Espanha, de 87 anos, e revisto pela historiadora franco-venezuelana Laurence Debray, o livro, editado pela Planeta, estará à venda em França e em Espanha, numa primeira fase.

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"Fala com o coração na mão, como alguém que sabe que não lhe resta muito tempo e prefere confessar-se em vez de mentir", escreve a sua biógrafa, na apresentação da obra. Exilado em Abu Dhabi desde agosto de 2020, devido a investigações sobre alegada corrupção e fraude, D. Juan Carlos I sentiu-se atacado pelo seu país, em especial por determinadas figuras, alguns meios de comunicação e jornalistas. Com o tempo, decidiu que o que ia escrevendo diariamente poderia tornar-se num livro a publicar.

O peso da solidão

Em Reconciliação, o ex-monarca – que ocupou o trono espanhol durante quase 40 anos – conta a sua versão da história desde que chegou a Espanha até ao dia em que teve de abandonar o país, a pedido do filho, e refugiar-se nos Emirados Árabes. Há anos que vem escrevendo as memórias e a ideia do livro surgiu quando começou a sentir o peso da solidão, longe de tudo e de todos.

O círculo íntimo de D. Juan Carlos sabia da nova tarefa de escritor, porque ele adorava partilhar a evolução do trabalho, tendo pedido ajuda para a recolha de material a amigos e às filhas, as infantas Elena e Cristina que o visitam regularmente. A obra será ilustrada com um álbum de fotografias, documentos inéditos, bilhetes de viagens, postais e selos e registos de regatas, safaris e caçadas.

"Tivemos longas conversas, frequentes e numerosas. Organizámos as ideias cronologicamente e por temáticas. Transcrevíamos as coisas, ele corrigia e escrevíamos juntos", contou Laurence à revista Hola!. E acrescentou: "O objetivo era realmente fazer ouvir a sua voz sobre a sua versão dos factos. Abordou a tarefa de forma muito conscienciosa e revelou-se extremamente preciso com as palavras. A estrutura fluiu com naturalidade".

"Os reis nunca falam dos seus assuntos"

Laurence Debray mudou-se para Abu Dhabi, com a família, durante dois anos para poder trabalhar com o rei. E também esteve uns meses em Madrid para acertar detalhes do livro. Em nenhum momento, Juan Carlos comunicou ao filho, Felipe VI, a sua intenção de publicar as memórias e a meses de serem lançadas, já se sabe que não haverá qualquer reação da Casa Real, segundo confirma a editora. Os amigos de D. Juan Carlos afirmam que ele não se importa com isso nem com as opiniões. "Nunca pediu permissão para nada, vai fazê-lo agora?", diz uma fonte.

Juan Carlos I torna-se assim no primeiro monarca da era moderna a escrever as suas memórias pessoais e políticas e a publicá-las. "Os reis nunca falam dos seus assuntos", foi o que o pai, o conde de Barcelona, tantas vezes lhe disse. "Mas ele nunca foi um rei como os outros", afirma Laurence Debray. Em 2021, ela biografou o ex-monarca em Mi rey caído. No livro, conta que cresceu num ambiente aristocrata, que foi habituada a viver entre palácios e que quando conheceu o rei de Espanha ficou fascinada com o seu "carisma" e que por isso se refere a ele sempre como "o meu rei".

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